“Um levante de fé”. Assim, a Unidos do Viradouro intitulou seu primeiro ensaio de rua, que foi um verdadeiro grito contra o preconceito religioso, realizado na tradicional Avenida Amaral Peixoto, no Centro de Niterói, no último domingo. Após uma pausa para as festividades do final de 2023, o que pôde ser percebido no treino da Vermelha e Branca foi um potente canto da comunidade da escola, alinhado a um bom desempenho do samba-enredo, da bateria de mestre Ciça e do carro de som, comandado pelo intérprete Wander Pires. O casal de mestre-sala e porta-bandeira da Viradouro, Julinho Nascimento e Rute Alves, também realizou grande apresentação.

O ensaio da Viradouro, em combate à intolerância religiosa, contou com a presença presença de lideranças do Candomblé Jeje, que cultua os voduns e é parte do enredo “Arroboboi, Dangbé”, do carnavalesco Tarcísio Zanon. O enredo da escola aborda a energia do culto ao vodun serpente “Dangbé”. No ensaio, os componentes da escola estavam, em sua grande maioria, vestidos de roupas brancas. Assim como no último carnaval, a escola terá a missão de encerrar os desfiles pelo Grupo Especial na segunda noite de espetáculo. A mensagem passada pelo enredo da escola e o “levante de fé” realizado na Amaral Peixoto foram comentados ao site CARNAVALESCO pelo diretor-executivo da Viradouro, Marcelinho Calil e o carnavalesco Tarcísio Zanon.

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Fotos de Gabriel Gomes/CARNAVALESCO

“É um enredo sobre uma energia espiritual muito forte, religiosa. Por estar mais no nosso imaginário, no nosso cotidiano a questão dos orixás, a gente acaba vendo a parte de Vodum como algo tanto distante, mas não é. Assim como o orixá, é uma divindade que a gente bate cabeça, presta condolências. A questão do branco é para começar o ano de forma leve, de forma bonita, pra gente alcançar os nossos objetivos e consequentemente trazer caminhos abertos pra escola. É mais o espírito mesmo de começar o ano dessa forma, dessa virada, enfim, pegar essa energia positiva pra gente encarar esse desafio e se Deus quiser, trazer o título”, comentou Marcelinho Calil.

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“É um levante de fé, o enredo nasce com essa proposta, de a gente levantar essa pauta do racismo religioso, de a gente poder adorar a sabedoria dos povos africanos e essa serpente sagrada. Então, hoje, a nossa Amaral Peixoto, com certeza, vai receber essa bênção e a gente vai fazer essa adoração, essa louvação a esse Deus africano”, salientou o carnavalesco da Viradouro, Tarcísio Zanon.

Marcelinho Calil enfatizou ainda o alto nível apresentado pela escola nos últimos anos em termos plásticos e comentou sobre a importância dos ajustes finais no trabalho da escola com sua comunidade para manter a excelência apresentada nos últimos carnavais.

“A gente vem realizando nos últimos anos um trabalho plástico, ao meu ver, inquestionável, a escola vem mostrando força, vem mostrando que tem carros e fantasias de um nível muito alto. Agora, a gente não pode errar certas coisas.. É ajuste fino, virada de ano, a exigência aumenta um pouco e em fevereiro, vai aumentar mais ainda pra gente chegar lá. Essa reta final é isso: Errar cada vez menos, tem que fazer ensaios praticamente perfeitos, é isso que a gente tem que fazer”, disse Marcelinho Calil.

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Comissão de Frente

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Comandada pelos brilhantes e experientes coreógrafos, a Comissão de Frente brindou o público presente na Avenida Amaral Peixoto com uma bela e forte apresentação. Nos pontos em que eram marcados como cabines de julgamento, os dançarinos realizavam a apresentação em dois momentos. O primeiro era formado apenas por bailarinas mulheres e o segundo, por homens. A coreografia apresentada possuía diversos momentos marcantes de muita força, com movimentos muito marcados, bem coreografados e sincronizados. Os dançarinos foram muito aplaudidos ao longo de toda a pista de ensaios.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Um dos destaques da noite, o casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira da Viradouro, os experientes Julinho Nascimento e Rute Alves, realizaram, no ensaio de rua da Vermelha e Branca no último domingo, uma apresentação de alto nível. Vestidos de roupa branca, a dupla mesclou elementos tradicionais da dança com movimento em alusão ao samba-enredo, como gestos que remetem a uma serpente. A se destacar, também, a vitalidade e força dos giros de Rute, que eram devidamente acompanhados por seu mestre-sala, Julinho. O casal, que já dança juntos há muito carnavais, demonstrou total entrosamento e precisão nos movimentos executados.

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“A preparação está a pleno vapor, a escola deu aquela paradinha de recesso, que é normal da instituição, mas a gente não parou, continuamos treinando, fizemos alguns ensaios nesse período de recesso e agora não tem pra onde correr. Como diz a Ruth, foguete não dá ré. É muito treino, muitos ensaios, se dedicar ao máximo, se cuidar ao máximo, que é o principal. E se Deus quiser, chegar no dia do desfile no ponto de bala, 100%”, ressaltou Julinho Nascimento.

“Como o Júlio falou, nem dia 31 a gente parou, a gente trabalhou, a gente continuou ensaiando, a gente foi ao ateliê experimentar fantasia, mas nada que nos assuste ou que seja novidade pra gente. A gente sabe que é esse o ritmo, que é assim que acontece e é isso que a nossa escola merece e espera da gente, trabalho ao máximo pra gente poder estar preparado, porque não existe milagre, não existe sorte, existe resultado de trabalho”, completou Rute Alves

Harmonia

A comunidade da Unidos do Viradouro comprovou, mais uma vez, sua força no ensaio de rua da escola do último domingo. A pausa para as festas de final de ano não foi sentida pelos componentes da Vermelha e Branca, que cantaram com muita força o samba-enredo da escola. Ao longo de todas as alas da escola, do início ao final do ensaio foi possível verificar um canto imponente e linear dos componentes. O refrão principal do samba e o bis que o antecede, com o “Ê Alafiou”, foram “berrados” pela comunidade. De destaque positivo no quesito, a famosa “Ala dos Adolescentes” da Viradouro, que cantava com muita força a obra.

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“A sensação é que a gente não parou. Nós conversamos muito nesse intervalo e hoje, antes de começar, conversamos com cada ala. Agora, é Copa do Mundo, temos que entender que é uma Copa do Mundo. Cada jogo, cada ensaio tem que encarar como um jogo de Copa do Mundo e dar o melhor. E hoje, o que nós vimos aqui foram os componentes, segmentos, quesitos, dando o melhor de si. Nós tivemos hoje um grande ensaio, tanto musical quanto de evolução, de harmonia, de casal, comissão de frente e as equipes coreográficas. Vamos fazer cada vez melhor para chegar no ápice no dia do desfile oficial”, comentou o Diretor de Carnaval da Viradouro, Dudu Falcão.

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Evolução

Como de costume nos ensaios de rua da Viradouro nos últimos anos, a evolução aconteceu de maneira leve, compacta e fluída ao longo dos cerca de uma hora e dez minutos de ensaio da Vermelha e Branca. A escola não apresentou qualquer tipo de buraco, clarão, alas embolados no ensaio ou acelerações exageradas no passo. Os componentes evoluíam pela Amaral Peixoto de maneira alegre e leve, demonstrando toda a felicidade da comunidade com o momento vivido pela escola. As alas coreografadas da escola também foram destaque, com as bonitas e bem sincronizadas danças apresentadas.

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Samba-Enredo

O samba-enredo da Viradouro, composto Claudio Mattos, Claudio Russo, Julio Alves, Thiago Meiners, Manolo, Anderson Lemos, Vinicius Xavier, Celino Dias, Bertolo e Marco Moreno, confirmou, mais uma vez, sua força, beleza e sobretudo, funcionalidade no ensaio de rua da escola. A obra está, a cada ensaio, cada vez mais encaixada no timbre do cantor oficial da Vermelha e Branca, Wander Pires, e seu carro de som. A bateria “Furacão Vermelho e Branco” também contribuiu bastante para o bom desempenho do samba-enredo. O refrão principal, principalmente o trecho do “Pra vitória da Viradouro”, foi cantado a plenos pulmões pelos componentes, assim como o bis anterior “ê alafiou, ê alafiá…”.

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Outros Destaques

A bateria “Furacão Vermelho e Branco”, de mestre Ciça, deu uma espetáculo para o público presente na Amaral Peixoto. As bossas e convenções realizadas pelos ritmistas contribuíram muito para a excelência musical da escola no ensaio. Uma das bossas, no refrão do meio do samba-enredo, “Ergue a casa de bogum, atabaque na Bahia…”, onde os ritmistas da Furacão se agachavam na pista e só permaneciam de pé os que tocavam atabaques e agogo de duas bocas. No refrão principal, era realizado um “apagão”, desde a parte do “Derrama nesse chão..” até o final do refrão, em “Pra vitória da Viradouro”.

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“Vai ser muito ensaio, daqui pra frente. Vamos ensaiar segunda, terça, essa semana, sábado tem um evento na quarta, domingo ensaiar aqui na Amaral Peixoto. A gente vai limpar mesmo as coisas nessa reta final, sempre tem uma coisinha pra gente corrigir aqui ou ali. Eu tenho uma definição dos atabaques ainda, porque vai ter uma performance. Essa performance eu não vou fazer aqui hoje, mas a partir do mês que vem, essa performance vai estar aqui, mas hoje a pessoa vai marcar o lugar onde vamos fazer essa performance”, comentou mestre Ciça.

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A rainha de bateria da escola, a sempre presente Érika Januza, vestiu uma bela roupa em tons prateados.

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