Cercada de muita expectativa pelo vice-campeonato de 2020, a Acadêmicos do Grande Rio foi a segunda escola a ensaiar na Marquês de Sapucaí, na noite deste último domingo, com um dos melhores sambas deste carnaval e impulsionada também pela bateria, a Tricolor de Duque de Caxias correspondeu e teve sua obra cantada não só pelos componentes, mas por todo o público na Sapucaí. A interação entre desfilantes e torcida era notória no ensaio, com muita gente nas grades das frisas e camarotes se espremendo para acompanhar o treino de um bom lugar e se comunicar com os foliões. Outro destaque do treino foi a comissão de frente representando os Exus masculinos e femininos que riscavam o ponto e faziam a garra de Exú curvando a mão. Apesar de um início forte e avassalador, do meio para o fim, após a entrada da bateria no segundo recuo, houve desorganização na evolução e os componentes passaram com muita rapidez e pouca fluidez. * VEJA AQUI FOTOS DO ENSAIO

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Fotos de Allan Duffes/Site CARNAVALESCO

“Achei muito positivo, o ensaio é pra gente acertar, eu vim aqui com o propósito de ver o que está acontecendo para melhorar e achei muito bom, a escola se portou muito bem, cantou e, para nosso povo, o samba funcionou bem, o desempenho da bateria foi excelente e estou muito feliz e muito satisfeito com o nosso ensaio. Acho que a gente viu uma escola madura na pista e era isso que eu queria, a gente precisa ser uma escola madura, que sabe o que fazer. Eu saio daqui com essa certeza, que é uma escola madura, que sabe o que está fazendo, se planejou para se apresentar. A gente precisa ser maduro para, dessa vez sim, erro zero no desfile. A Grande Rio se reencontrou com seu povo, com a sua gente, me emocionou bastante”, disse Thiago Monteiro, diretor de carnaval.

Harmonia e samba

O samba já vem sendo um dos mais festejados desde que foi anunciada a vitória em outubro. No ensaio técnico no Sambódromo, o andamento adequado para composição, ajudou os componentes a cantarem, facilitando o uso das expressões mais complicadas da letra, valorizando sua métrica, além de incentivar a uma evolução mais espontânea e dançada. Importante citar o entrosamento também entre Evandro Malandro e seu carro de som, muito bem ensaiado na utilização de segundas vozes, terças e nos momentos em que entravam todos para dar uma potência maior e um volume. A escola cantou bastante, com destaque para as baianas, que vieram vestidas nas cores da Grande Rio, elas arregavam uma rosa vermelha nas mãos, todas giravam com extrema leveza pela avenida e cantavam o samba com muita garra. O mesmo vale para a ala de passistas, extremamente bem vestidos, as moças e rapazes deram um show e levantaram o público durante a passagem da escola. Outras alas de destaque no canto foram a ala de número 04 que trazia bastões reluzentes e também fazia coreografia, e a ala “damas”, que também trazia um colorido mini guarda-sol nas mãos.

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Conduzido com maestria por Evandro Malandro, o samba teve um rendimento muito bom, além dos refrões, algumas partes da obra se destacavam, principalmente o ínicio, com o “Boa noite moça, boa noite moço” e “Ô luar, ô luar… Catiço reinando na segunda-feira”, na boca do povo, o samba tem tudo pra render ainda mais no desfile oficial. Como ponto a ser citado de atenção da escola, no início do desfile, as primeiras alas em alguns momentos cantavam de forma desencontrada com o resto da escola o samba. Alguns “harmonias”, tiveram que pedir para que fosse parado o canto destas alas para que elas ouvissem o carro de som ao longe. É claro que essa situação é praticamente impossível acontecer no desfile oficial, pois haverá como referência a sonorização completa da Passarela do Samba.

“A Grande Rio achou o andamento do samba. A melodia encaixou certinho com a bateria e foi muito bom. O Fafá se preocupou tanto que ele deixou a bateria e foi lá no carro de som perguntar: irmão, o que você acha, tá legal pra você?1 O Fafá implementa uma pulsação e a todo momento olhando para mim e perguntando o que estou achando. Nós temos essa ligação: se tá bom pra bateria e pro cantor, tá bom pra comissão, para o casal e para toda a comunidade. Eu acho que foi muito bom e a minha avaliação é nota 11. Tirando pelo dia de hoje que foi maravilhoso, eu acho que só tem a crescer cada vez mais. Eu tenho mensagens de caravanas que vieram nos prestigiar, escutar o samba na avenida e saíram muito satisfeitos”, afirmou o intérprete Evandro Malandro.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal Daniel Werneck e Taciana Couto ensaiou vestido de branco em uma roupa representando o Oráculo de Ifá. A dupla iniciava a apresentação nos módulos já com um pequeno passo de dança de religião de matriz africana. Depois, já no passo tradicional, o casal mostrava bastante vigor e intensidade nos movimentos. Daniel carregava em uma mão um leque e na outra um lenço, apresentando um efeito interessante de movimento. No trecho que começava no “Sou Capa preta Tiriri”, a porta bandeira girava, tendo a mão livre em uma posição próxima ao rosto, também remetendo à dança de matriz africana. Nem mesmo o vento forte foi capaz de atrapalhar os belos giros de Taciana, que manteve sempre o pavilhão bem esticado. A dupla uniu a dança tradicional com a modernidade, e em alguns momentos arriscaram passos mais coreografados, durante a apresentação de pouco mais de dois minutos ambos demonstraram muita leveza, sincronia e garra, levantando e empolgando o público. Um único ponto a chamar a atenção foi a entrada no primeiro módulo de Daniel que foi um pouco brusca.

“Para a gente foi maravilhoso, né?! Dois anos sem… um ano sem desfile, dois anos sem ensaio técnico e a gente retornar agora, sentir o calor da galera é muito importante pra gente”, garantiu o mestre-sala.

“É muito emocionante, né?! Como ele já disse. Sentir o calor do público que é um termômetro para o desfile, sentir mais ou menos como a nossa escola vai estar passando na avenida no dia 23 de abril. Hoje foi tudo dentro do esperado, do ensaiado e combinado”, completou a porta-bandeira, que fez mistério sobre a fantasia do casal.

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Bateria

Comandada por mestre Fafá, a bateria trouxe atabaques que participavam de algumas bossas sustentando o ritmo como no trecho “Num mar de dendê” até “Zumbi Agbá”. No refrão principal, em alguns momentos, a bateria era completamente silenciada, com os ritmistas cantando e brincando, sendo chamada de volta pelo repique mor na segunda parte. Destaque para os desenhos de agogô que traziam uma boa sonoridade para o samba principalmente no refrão do meio. Em uma das bossas a bateria parava de tocar para que a escola cantasse o verso “Adakê, Exu, Exu ê Odará”, os componentes respondiam com bastante entusiasmo.

Paolla Oliveira brilhou, mais uma vez, como rainha, dessa vez acompanhada do namorado, o sambista Diogo Nogueira, a atriz esbanjou carisma e desenvoltura, com uma roupa nas cores da escola. A bela foi para o meio da bateria durante uma bossa para interagir diretamente com os ritmistas, em outro momento ela arriscava tocar um surdo que estava à frente da bateria.

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“Foi um ensaio muito difícil, nós tivemos problemas com nosso carro de som, mas eu agradeço muito a escola, porque ela cantou demais e isso foi fundamental para a gente marcar o tempo inteiro. Quero agradecer minha bateria que pulsou como nunca, num ritmo que arrancou lágrimas do meu pai. Tem tempo que não via meu pai emocionado por conta de um ritmo. Foi algo diferente e totalmente gratificante ver meu pai emocionado, então acho que estamos prontos para encarar a avenida. Claro que ainda temos algumas coisas a serem trabalhadas, mas hoje fizemos um grande desfile, então para mim foi ótimo ensaio. São pequenos ajustes, vamos trabalhar até o dia desfile. Nós temos coisas na manga que iremos mostrar no desfile, mas só vamos mostrar no dia mesmo”, comentou mestre Fafá.

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Evolução

O início foi muito forte, as primeiras alas cantavam e evoluíam com bastante empolgação, a maioria delas estava com adereços nas mãos, o destaque fica para a quarta ala, que estava com bastões coloridos, e a ala sete, com bexigas. Foi possível ver que a escola estava bastante compacta e que os componentes evoluíam com bastante organização, mas sem perder a alegria. A escola levou ainda elementos para demarcar os setores e facilitar a distribuição das alas. A Grande Rio não apresentou sobreposição de alas, estava compacta, e vinha evoluindo bem, em um ritmo bom, agradável e dançante. Porém, o que se viu nos últimos setores foi uma evolução em ritmo mais acelerado, após a bateria entrar no segundo recuo. Por conta disso, na altura do setor 10 um espaçamento considerável foi visto entre o local projetado para a quarta alegoria da escola e a ala da frente, a cantora Pocah, precisou correr para preencher o espaço. Alguns diretores de harmonia tentaram controlar o ritmo da escola. Com a bateria de volta para pista houve o ajuste.

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Outros destaques

A Grande Rio trouxe um elemento alegórico no início do desfile muito bonito, iluminado e bem-acabado, com o Exú Bará em cima, o primeiro Exú. Na ala de passistas havia vários tipos de Exú: malandro, Exú Veludo, Tranca-rua e pomba giras. No esquenta, Evandro Malandro cantou o samba de 1993, do enredo “no mundo da lua” e o de 2007 que homenageava o município de Duque de Caxias. O presidente Milton Perácio em um discurso breve antes da arrancada do samba falou sobre a vontade que a escola está de ser campeã e chamou os componentes a acreditarem na conquista inédita.

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No início um enorme bandeirão nas cores da escola foi estendido com os dizeres “Boa noite, moça, boa noite moço” e “Fala Majeté”. A Grande Rio manteve a tradição de desfilar com inúmeros famosos, muitos deles levantaram o público presente nas frisas e arquibancadas, com destaque para David Brazil, o ex-BBB e estreante Gil do Vigor, e a cantora Pocah.

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Com o enredo “Fala Majeté – Sete chaves de Exu”, a Grande Rio será a quinta escola a desfilar na segunda noite de apresentações do Grupo Especial, dia 23 de abril no feriado de São Jorge.

Participaram da cobertura: Luan Costa, Lucas Santos, Leonardo Damico, Isabelly Luz, Ingrid Marins, José Luiz Moreira, Marina Perdigão, Gabriel Gomes, Philipe Rabelo e Walter Farias

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