A cantora Ludmilla participou, pela primeira vez, na noite de quinta-feira, do ensaio na quadra da Beija-Flor para o Carnaval 2023. Ela foi anunciada como intérprete para atuar ao lado de Neguinho em outubro de 2022 e já teve sua participação gravada no disco oficial de sambas-enredo.
Ainda que os ensaios da Azul e Branca sejam sempre acompanhados de fortes emoções por parte de seus componentes, a última noite em Nilópolis conseguiu ser mais especial. Isso porque, dias antes, através das redes sociais, a escola compartilhou a presença do carro de som completo. A quadra estava cheia. Era evidente que muitas pessoas não habituadas ao espaço também se motivaram a comparecer.
Durante o esquenta, a comunidade se emocionou ao som de sambas antigos. O primeiro coro de vozes se formou para cantar “Áfricas: Do Berço Real À Corte Brasiliana”, do aclamado desfile de 2007, além das obras de 1999 e 2001. Em homenagem ao campeonato mais recente da escola, gritos ecoaram o popular “Monstro É Aquele Que Não Sabe Amar”, de 2018. Também não faltou “Se Essa Rua Fosse Minha”, de 2020, e o repertório se encerrou com a potência do samba-enredo de 2022, que rendeu um vice-campeonato.
Um ícone e figura permanente na história da Beija-Flor é interessante observar como a entrada de Neguinho na quadra deixa o público eufórico. É a grande estrela da agremiação, mas não teme dividir as atenções. Diante disso, foi o responsável por apresentar Ludmilla no palco.
Com um largo sorriso no rosto, Neguinho descreveu a cantora como “rainha das rainhas” e utilizou seu bordão inconfundível para dar início, oficialmente, ao ensaio. O “olha a Ludmilla aí, gente!” se transformou na letra do samba-enredo de 2023, “Brava Gente! O Grito Dos Excluídos No Bicentenário Da Independência”, que se estendeu por mais de uma hora.
Apesar da influência na decisão do samba e na gravação do disco, essa foi a primeira vez Ludmilla esteve num evento natural do cotidiano da escola. Ver uma mulher negra e periférica cantando sobre igualdade e liberdade de expressão pode ser inspirador para centenas de jovens. É isso que o diretor de carnaval, Dudu Azevedo, espera ser conquistado nesse novo passo.
“Antigamente o samba era tocado nas rádios, hoje menos. Temos outros veículos na internet e os jovens não pesquisam sobre. Queremos levar nosso samba para as camadas mais difíceis”, afirmou.
Já o presidente da Beija-Flor, Almir Reis, pensa em expandir o número de sambistas presente em outros segmentos da indústria cultural.
“Quando convidamos ela, a intenção era levar a nossa cultura para o meio deles. Todo mundo vem para o nosso! Cantores, atores… mas quem do samba temos do outro lado? Chegou o momento de nos levarmos para lá”, argumentou.
Os componentes foram tomados pela animação e, até depois que os intérpretes pararam de cantar, continuaram repetindo as coreografias por 40 minutos. A bateria acompanhou todo o percurso. Para a alegria coletiva, Dudu Azevedo confirmou que podem aguardar Ludmilla para mais três ensaios na quadra e um na rua. Além, é claro, do ensaio técnico no Sambódromo.
Em conversa com o site CARNAVALESCO, Neguinho confessou estar maravilhado por Ludmilla ter aceitado o convite e disse ter certeza que será um espetáculo na Avenida. Ele não é o único com esse sentimento. Luana Paula, torcedora de 31 anos, aprovou a escolha ousada da agremiação: “Eu amei demais”. Junior Cardoso, de 35 anos, disse acreditar no potencial da artista: “Achei muito bom!”.
Entre tantos preparativos e novidades, o tradicional ensaio da Beija-Flor na orla de Copacabana não vai acontecer em 2023. Segundo Almir Reis, havia a possibilidade da realização no dia 15 de janeiro, mas nada pôde ser concretizado. “Agora as exigências aumentaram. Mais documentação do que estávamos acostumados. Infelizmente só tínhamos essa data disponível e como não foi resolvido a tempo, ficou para o próximo ano”.
Apesar disso, a escola não tem motivos para lamentações. Caso dependa da energia dos nilopolitanos, pode acreditar que vai longe.