Após um sexto lugar em 2023, a Grande Rio vem mordida para o próximo carnaval a fim de corrigir o que não deu certo no carnaval passado e voltar a disputar as primeiras posições, tentando conquistar seu segundo título do Grupo Especial. E uma etapa importante deste processo foi iniciada na Cidade das Artes, local da gravação oficial para o álbum de sambas-enredo da Liesa. Com a obra escolhida desde a final em 30 de setembro, a Vermelha, Verde e Branca de Caxias não perdeu tempo e fez uma preparação meticulosa para trazer para o estúdio montado no complexo cultural da prefeitura do Rio um trabalho que visou valorizar o samba vencedor, a partir de algumas pequenas alterações na letra e melodia, além de introduzir alguns sons que fazem alusão ao enredo. Na direção musical da Grande Rio, mestre Fafá e Evandro Malandro comandaram os trabalhos, mostrando muito entrosamento e seriedade durante todo o processo. A dupla contou um pouco do que preparou para o disco.

“Eu e o Fafá montamos um arranjo para cada samba, e acho que o público vai gostar muito da nossa faixa porque não inventamos nada fora do que pede o enredo, não tem nenhum exibicionismo. Trabalhamos exclusivamente dentro do arranjo e dentro das propostas que o samba pede”, definiu o intérprete, que está na Grande Rio desde o carnaval 2019.

“Nosso enredo passa por diversos lugares, a nossa onça passa por diversos lugares, por isso a gente quer fazer uma gravação bastante dinâmica, em que a pessoa possa conseguir ouvir em casa, sentir algo gostoso, tivemos muito cuidado e tato, não só eu, mas o Evandro e os músicos dele, na parte da harmonia, na parte do coro, no contracanto. Tivemos muito cuidado com tudo. A produção do disco deixou a gente muito à vontade para criar, então, desde a introdução até as paradinhas que a gente está fazendo, e a gente pensou na pessoa que quer aprender o nosso samba, quer conhecer o enredo. É um samba bem para cima, bem alegre. Sabemos que tem algumas palavras que dão uma travadinha ou outra, mas a gente está trabalhando muito bem isso aí para trazer uma faixa bem dinâmica”, acredita Fafá, que também comanda a bateria desde 2019.

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Fotos: Lucas Santos/CARNAVALESCO

“Trovejou! Escureceu!/O velho onça! Senhor da criação/É homem fera! É brilho celeste/ Devora e se veste de constelação” são versos da cabeça do samba recobertos de poesia, misticismo e encantaria. Com um processo de disputa de samba diferente, a Grande Rio mais uma vez apostou para o carnaval 2024 em um concurso com regras originais, como o fato do intérprete Evandro Malandro ter gravado todos os 11 sambas inscritos para o certame na sua própria voz. O diretor de carnaval Thiago Monteiro analisou como esta iniciativa ajudou na preparação para a gravação do disco e facilitou nos ajustes necessários realizados na obra.

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“Como o Evandro gravou todas as obras, então ele conhece este samba desde o início, quase até desde a sua geração, confecção. É lógico que ele fica mais firme para poder colocar sua voz, para poder achar os caminhos que o samba precisa percorrer. Quando o intérprete da escola tem apenas, não sei, por exemplo, uma semana, ou alguns dias para pegar a obra, que não é mais dos compositores, e sim da escola, após o resultado, e começa a trabalhar e buscar por onde ele vai percorrer, fica um pouco mais complicado. Então, dentro desse nosso formato de disputa, o Evandro está muito familiarizado com esse samba. Foi até muito fácil fazer as mudanças pontuais que foram feitas, tanto de letra, quanto de melodia. Ele participou de todas elas, porque ele já conhece bem o samba, a obra está bem sedimentada, não só no Evandro, mas no nosso carro de som como um todo. É bastante positivo, é mais um benefício deste sistema que a Grande Rio adota”, definiu Thiago.

No segundo ano consecutivo participando ativamente do processo de gravação dos sambas concorrentes, Evandro Malandro elogiou o formato que a Grande Rio projeta em seu processo de disputa e apontou de que forma esta proposta facilita o seu trabalho e ajuda a escola a realizar um trabalho de excelência na preparação para gravar a faixa da Liesa.

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“Eu estou muito feliz com esse processo que a Grande Rio fez que foi colocar todas as gravações já na voz do cantor oficial, isso aproxima da comunidade e fica melhor de quando se aproxima das finais, de a gente mais ou menos identificar ou traçar uma linha de trabalho para a gravação do CD oficial. Assim foi feito com os sambas finalistas, eu e o Fafá a gente sentou, como diretores musicais da escola, e alinhamos como fazer a questão de arranjo. Acho que o público vai gostar muito deste processo, desta faixa da Grande Rio porque a gente preparou com muito carinho, a gente não fez nada fora do arranjo, nada mirabolante”, classificou o cantor.

Toques indígenas na bateria

Preparada mais uma vez a trazer um tema inédito ou falar de algo conhecido de uma forma original, a Grande Rio levará para o Sambódromo da Marquês de Sapucaí no ano que vem o enredo “Nosso Destino É Ser Onça”, criado e desenvolvido pela dupla de carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora. O tema tem como proposta fazer uma reflexão sobre a simbologia da onça no cenário artístico-cultural brasileiro, tocando em temas como antropofagia e encantaria. Sempre atento ao que pede o enredo, mestre Fafá em conversa com a reportagem do CARNAVALESCO comentou o que pensou para o trabalho de bateria na faixa e destrinchou o processo para o desenvolvimento do samba até o desfile.

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“Nossa final foi dia 30 de setembro, então tivemos bastante tempo para trabalhar, conhecer o samba, mudar o que tivesse que mudar, acertar melodia, acertar tudo e pelo fato de a gente já ter gravado o samba, o Evandro ter colocado a voz e eu ter feito a gravação dos que foram para a disputa, facilita muito a gente porque já conhecemos a obra, sabemos como ela é, inclusive algumas coisas feitas para esta gravação, utilizei também para a faixa oficial, alguns toques de coisas indígenas, por exemplo. Já começamos a ensaiar, temos ensaiado bateria e carro de som para deixar tudo alinhado. Agora começa aquele meu trabalho gradativo de sempre”, explica o profissional.

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A obra composta por Derê, Marcelinho Júnior, Robson Moratelli, Rafael Ribeiro, Tony Vietinã e Eduardo Queiroz conseguiu se sobressair ante as composições das outras três parcerias finalistas e sagrou-se vencedora da disputa promovida pela tricolor de Duque de Caxias. Fafá comentou os próximos passos com os ritmistas visando o próximo desfile.

“Deixo a comunidade aprender bastante o samba, vejo os pontos necessários porque eu sempre gosto de fazer uma paradinha que permita com que a comunidade cante uma parte alta do samba, a gente está estudando tudo isso, para em seguida começar a soltar as paradinhas com calma. Testar bastante. Temos tempo. Vamos fazer tudo com paciência, calma, sabemos que será um dos carnavais mais competitivos dos últimos anos. Boa parte das escolas de samba estão com grandes sambas e grandes enredos. Estamos preparando tudo para mais uma vez fazer um grande espetáculo “, aponta Fafá.

Experiência de Evandro e conhecimento da escola é trunfo

Indo para o quinto desfile como voz oficial da Grande Rio, Evandro Malandro foi encontrando o seu espaço entre os intérpretes mais respeitados do carnaval carioca. Com tranquilidade para trabalhar, com um título do Grupo Especial nas costas, Evandro esclareceu como trabalha sua voz e os cuidados específicos para cada processo que vai desenvolver na temporada até o grande dia do desfile na Marquês de Sapucaí.

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“Eu tenho, desde quando entrei na escola, o acompanhamento vocal do Pedro Lima, professor de canto, que é anual e não só neste processo. As pessoas de repente pensam que o cantor começa a fazer preparação em dezembro, janeiro, porque o carnaval é em fevereiro, não, é anual o processo. O Pedro Lima bota a gente para ralar mesmo, trabalhamos bastante, não só a preparação vocal, mas a conscientização de que uma coisa é você cantar no palco para sua comunidade no ensaio, uma outra coisa é fazer show na rua, e uma outra coisa é fazer uma gravação para o CD que vai ficar para o resto da vida, para todo mundo ouvir. Tem que ouvir o samba, a obra tem que ser cantada, tem que passar a mensagem da melhor forma e com uma boa melodia, colocando o vibrato onde tem que colocar, acertando o final das frases, ter o cuidado em não deixar a faixa muito poluída. E aqui eu estou falando do Evandro Malandro, porque tem muitos cantores que gostam, isso é característica de cada cantor. A característica do Evandro Malandro é traçada no mesmo molde que eu fiz com o Fafá, é com o meu professor Pedro Lima, e aí a gente define como vai lidar com o vibrato, com as notas para cada final de frase, onde vem mais junto com o coro, e por aí. Tudo foi muito bem traçado e conversado, espero que todos gostem”.

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Sobre o processo de gravação, Thiago Monteiro elogiou a iniciativa da Liesa de buscar uma gravação que trouxesse a emoção das baterias para o disco que mostra os sambas-enredo para o mundo do samba e simpatizantes.

“Eu gostei bastante da experiência, acho muito válido tentar sempre algo novo, e acho que a Liesa está de parabéns por essa iniciativa de tentar sair do lugar comum, tentar sair da mesmice. E sempre inovando, essa gravação na Cidade das Artes tem uma pegada, que não é ao vivo, mas ela tem mais emoção, uma pegada um pouco mais de ao vivo. Você pega mais um sentimento do que uma tecnicidade. A gente achou muito positiva. Eu fiquei muito feliz com o resultado da gravação, era realmente aquilo que a escola queria apresentar no andamento, na colocação muito bem feita pelo nosso cantor.Tenho certeza que a nossa comunidade vai ficar muito feliz. Trouxemos as características da Grande Rio”, concluiu o diretor.

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Quarta escola a desfilar na primeira noite de apresentações do Grupo Especial em 2024, a Grande Rio vai levar para a Marquês de Sapucaí o enredo “Nosso destino é ser onça”.