A série “Barracões” do site CARNAVALESCO viajará pela história da humanidade guiada pela Morro da Casa Verde e sob a proteção dos guardiões da palavra dinastia. Com o enredo “Dynasteia. História, Poder e Nobreza”, assinado pelo carnavalesco Danilo Dantas, a Verde e Rosa da Zona Norte ensinará ao público que comparecer ao Sambódromo do Anhembi o que significa essa palavra e as ligações que ela tem com o próprio mundo do samba.

Fotos: Divulgação

Enredo a muito guardado esperando a oportunidade certa

O desejo de Danilo Dantas de levar este enredo não é recente. O carnavalesco demonstrou que sempre teve um interesse especial de contribuir com a Morro da Casa Verde, e para 2023 surgiu essa oportunidade quando a escola o convidou para assinar o projeto.

“Meu namoro com o Morro já faz alguns anos. Desde quando eu fui pela primeira vez conversar, já tinha a ideia desse enredo por ser uma escola de família, que mantém essa tradição familiar. A estrutura dela ainda é muito familiar em todos os setores da escola. Eu percebi que ali era uma dinastia mesmo, que passa de pai para filho, de filho para neto. Quando eu tive a ideia desse enredo, cerca de três a quatro atrás, falei que agora é hora de mostrar isso para a escola. Meu interesse de vir para o Morro da Casa Verde principalmente foi para mudar a estética da escola. Quando eu apresentei a proposta, junto de outros quatro enredos, esse foi o primeiro aceito, nem precisei mostrar os demais. Eles entenderam a proposta, e sabiam que é uma estrutura de desfile totalmente diferente do que a escola tem apresentado nos últimos 20, 30 anos. É um choque de estética e de leitura, mas é o que eles queriam. Graças a Deus foi bem aceito pela direção da escola e também pela escola”, declarou.

Enredo diferente, mas capaz de homenagear a própria escola

Para uma comunidade que está acostumada com uma mesma linha de desfiles por tanto tempo, receber uma nova roupagem pode soar estranho de início. Mas Danilo garante que os componentes da Morro com o tempo abraçaram a proposta ao entenderem seu teor histórico, sempre ouvindo as diferentes opiniões de cada um.

“Toda mudança gera coisas positivas e negativas. Lógico que tem aqueles que falaram que não é a cara da escola, mas outros acharam que era isso que precisávamos para brigar de vez pelo título. A recepção de início foi de estranheza, mas depois as pessoas entenderam que o enredo fala basicamente de impérios e reinos que formaram a humanidade, passou a ser aceito de uma forma boa. No final fizemos uma mudança no planejamento para poder entrar e encaixar na proposta da escola. Inicialmente não tinha nenhuma dinastia ou ligação africana no enredo. No final, coloquei uma ligação da escola com a sua raiz africana e também uma das dinastias africanas, que é a do Império Mali, que inclusive é a nossa bateria, dando aquele toque de africanidade que faltava no enredo. Fora o samba, que ficou com a cara que o Morro tem”, afirmou.

A parte final do samba, que fala da Rainha com samba no pé, é uma clara homenagem a Dona Guga, filha de Zezinho do Banjo, que por 26 anos defendeu o legado do pai tal como uma dinastia. O desfecho do desfile da Morro lembrará não apenas da própria escola, mas de coirmãs que mantém esse elo familiar dentro de suas comunidades.

“Deixamos o enredo, numa parte final, para que não falassem que não falamos de samba. Fiz uma pesquisa, e devem ter outras escolas pelo Brasil ou na UESP com essa ligação familiar. Mas como o Carnaval é amplo e estamos na Liga, fizemos uma pesquisa entre as escolas dos primeiros grupos da Liga e da UESP. Identificamos que somente o Morro, o Rosas de Ouro e a Mocidade Alegre são escolas que tem, alguém na sua presidência, alguém que tem ligação com o fundador da escola. Foi o gancho que encontrei para fazer essa ligação com o samba. Fazemos no final do enredo uma homenagem ao Rosas de Ouro e a família Basílio com a Angelina, à Mocidade Alegre e a família Bichara com a Solange e ao Morro da Casa Verde, com elas duas abraçando as três dinastias mais antigas junto ao Morro da Casa Verde, que continua com a família até hoje. Uma forma de homenagear a Dona Guga, que mantém com pulso forte a escola até hoje”, exaltou Danilo.

Tomada do poder pelos ‘guiados por Deus’

Ao longo dos séculos, diferentes dinastias surgiram e se perpetuaram. Algumas seguem a mesma tradição até os dias de hoje, como é o caso da Família Real Britânica. Danilo Dantas considera este um elemento de destaque ao longo das pesquisas realizadas para concepção do enredo.

“O quanto a humanidade se pautou pela ganância e sede de poder, e sempre com uma desculpa: a religião. Fui pesquisando todas as dinastias, todos os impérios e reinos, e todos eles tinham como premissa e desculpa que eles eram “guiados por Deus”. Era Deus que dava a direção para eles se perpetuarem no poder. Era Deus que também, na maioria deles, independente do Deus que nós cremos ou que eles criam, ou que os Deuses que eles inventavam, sempre eram com a base do discurso de que eles precisavam tomar o poder porque foi Deus que destinou a eles. Todas as dinastias têm essa ligação, uma ligação muito forte da religião com os impérios. É por isso que eu começo o enredo com a expressão “Óh, Pai, derrame sobre nós a divina inspiração”, para que nós não usemos a divina inspiração de forma errada. Foi essa a deixa que tivemos para colocar essa inspiração que, segundo eles, era divina”, revelou.

Guardiões de Dynasteia

A comissão de frente da Morro da Casa Verde será o único momento totalmente lúdico do desfile, ao trazer os chamados “Guardiões de Dynasteia”. O objetivo é ensinar ao público desde o começo o significado da palavra dinastia de forma teatralizada, agindo como fio condutor da história a ser contada pela escola.

“Todo o enredo tem uma leitura histórica. A única que eu me permiti fazer uma leitura lúdica, com liberdade poética e artística foi na comissão de frente. A palavra dinastia deriva do grego “dynasteia”, que significa poder de dominação, dominar. A nossa comissão de frente, de forma lúdica, brinca que eles são os guardiões dessa palavra. Faremos ela com um figurino ligado à era medieval, mas é uma liberdade artística que fizemos para dar o pontapé inicial do enredo. Todo mundo fala de dinastia, mas não sabe o que é a palavra de fato. Pensam que é a perpetuação do poder apenas, mas é se perpetuar no poder tendo laços familiares. Os “Guardiões de Dynasteia” são como os guardiões do mistério que permeia essa palavra. São a licença poética que usamos para destrinchar o restante do enredo”, concluiu Danilo.

Conheça o desfile da Morro da Casa Verde

Setor 1: “A comissão de frente traz os Guardiões de Dynasteia, onde pouco se verá o rosto dos atores, porque ela é misteriosa e brincará com o mistério que tem a palavra e as dinastias da humanidade. Neste setor falamos dos impérios, tanto os medievais quanto os pós-medievais. O primeiro casal vem representando o Império Romano”.

Setor 2: “Falamos de reinos, desde o período neobabilônico até a dinastia argéada, que é a grega e macedônica. O segundo casal vem representando a Casa de Windsor, de onde vem a família real britânica”.

Setor 3: “Falamos das dinastias do samba, que nos demos a liberdade de colocar a parte lúdica do enredo sem deixar de ser histórico. Uma homenagem às escolas de samba que tem a sua ligação familiar”.

Ficha técnica
Enredo: “Dynasteia. História, Poder e Nobreza”
Alas: 17
Alegorias: 3 + 1 elemento cênico
Componentes: 1200
Ordem de desfile: 5ª escola a desfilar no dia 19 de fevereiro de 2023 pelo Grupo de Acesso