O presidente Luis Carlos Magalhães já está marcado na tradicional escola de Madureira ao tirar a Águia de um jejum de mais de 30 anos sem títulos, com a conquista do carnaval de 2017. Chegando ao final de seu segundo mandato, após muitos desafios, entre eles, ter substituído uma presidente com tanto apelo e respeito do portelense, como Marcos Falcon, Luis Carlos conversou com o site CARNAVALESCO.
Ele falou sobre sua relação com o portelense, o pagamento de dívidas, a democratização da escola, seus projetos para o departamento cultural da Liga do Grupo Especial, ao qual é diretor cultural, sua relação com os carnavalescos de renome que passaram pela Portela nos últimos anos, a frustração com o resultado do último carnaval, além das ações programadas para o centenário da Azul e Branca de Madureira em 2023.
O seu mandato está acabando, qual o balanço que você fez dessas duas gestões na Portela?
Luis Carlos Magalhães: “Eu posso começar pelo meu orgulho. Claro que a vitória no carnaval é o mais importante de tudo. É o mais emocionante, é o mais inesquecível, é o que vai botar meu nome nessa confusão toda. Mas, o meu grande orgulho é você encontrar uma escola democratizada. Se você concorrer, dentro das normas estatutárias, e tiver um voto a mais do que eu, você vai me derrotar! E mais importante do que isso, você vai governar. Que é diferente! Uma coisa é você ganhar, outra coisa é você governar. Estou falando isso em geral. Esse é o meu maior orgulho. Eu acho que o mérito que eu tive nisso foi, que é muito difícil você substituir um presidente. Ainda mais substituir um presidente como o Falcon. Com a liderança que ele tinha, com o carisma que ele tinha. Se você tem algo contra a escola, você bate lá na minha porta que eu vou ouvir. Então, foi muito difícil essa virada. Você administrar democraticamente, dividindo responsabilidades. Eu conquistei o que eu conquistei na minha vida pessoal fazendo isso, administrando democraticamente. E a pacificação da escola. Quando eu entrei havia treze brigas importantes. Não eram brigas de duas passistas no banheiro, não! Eram brigas de pessoas importantes da escola em cima do palco. A transição Falcon para mim, que foi uma transição muito difícil, por mais que se dê todo o mérito ao Falcon de ter recolocado a Portela no trilho, era uma situação difícil, porque eu não sou o Falcon, somos completamente diferentes. A questão da quantidade de dívidas que nós pagamos, das negociações que nós estamos fazendo. O IPTU nunca havia sido pago. Nós fizemos uma negociação. Dívidas é claro que a escola tem, mas todas administradas, a gente sabe quem a escola deve, quanto deve. E por fim, manter essa marca, a Portela é uma escola de ano inteiro, não sou eu que digo isso não, é uma ideia da administração, o ano inteiro você tem que ter Portela, e incentivando as atividades do departamento cultural que foi muito prejudicado pela pandemia, dando força a todos os sambistas de fora daqui, nos consulados. E o Monarco, que estava feliz, ia de tarde para sua salinha. A gente saber que nossa administração estava agradando o Monarco, isso é uma grande virtude nossa.
Você viu de dentro da escola de samba e antes era comentarista. A realidade é muito diferente quando a pessoa vive ativamente o dia a dia de uma escola?
Luis Carlos Magalhães: “É uma outra realidade, tem coisa que eu não aguento ouvir, tem coisa que eu não aguento ler. Claro que tem muita coisa boa, que houve uma renovação muito boa. E deve haver sempre. Mas, tem coisas que chega a doer. ‘Ah, porque a Portela fez isso e isso’. Pô, mas eu paguei do meu bolso (risos), entendeu? Mas tem coisa que chega a doer. Até porque a crônica carnavalesca é lugar de muito maluco, não é a crônica carnavalesca não, a comunicação carnavalesca. É uma coisa muito maluca. O cara lá da Bahia pode xingar sua mãe que você nunca vai encontrar com ele (risos). Então, o cara fala ali o que ele quer. Mas, o bom é não ver. Eu não vejo. Quando tem alguma coisa mais complicada, porque tem as vezes, aí a minha mulher me passa, eu olho e tal. Mas, é difícil você ficar olhando aquilo ali”.
O que representou para você o título de 2017?
Luis Carlos Magalhães: “Para mim é engraçado, porque eu nunca tive esse sonho de levar a Portela ao título, eu nunca achei que eu ia ser presidente da Portela. Eu nunca achei nem que eu ia ser diretor cultural. Como eu nunca achei que ia ser benemérito da Liesa. Eu estava satisfeito com o CARNAVALESCO (era comentarista do site). Uma coisa que me orgulha muito, é as pessoas me cobrarem que eu volte. Eu já fui padrinho de criança de leitor meu. Aquilo deu certo mesmo”.
Doeu muito ficar fora das campeãs em 2020?
Luis Carlos Magalhães: “ Ah, doeu! Doeu porque a escola estava muito bonita, cara. Foi um dos carnavais mais bonitos que eu vi da Portela. Claro que tem a questão técnica do julgamento, que é ali na sintonia fina. O cara achou isso. Claro que a comissão de frente não foi bem. Aquela coisa do Gilsinho até hoje eu não sei o que ele achou ali no carro de som. Até hoje eu não sei. Alguma coisa das fantasias. É uma questão pessoal. Eu acho que o julgamento não tem solução. Ah, se discutiu muito agora se fecha os envelopes no domingo e fecha depois na segunda, acho que nada disso é solução. Qual é a dificuldade toda? Acho que é uma coisa muito pessoal. Então, não adianta”.
Os portelenses questionam demais a comissão de frente ser o “calcanhar de aquiles”. Por que é tão complicado esse quesito para Portela?
Luis Carlos Magalhães: “Essa é uma pergunta que eu não consigo responder. Não consigo responder. Teve até comissões de frente que eu achei legal. Isso, porque isso também faz parte da maluquice do carnaval. Você vê, o Carlinhos de Jesus ganhou prêmio, e tirou nota baixa dos jurados. Quando eu vi que o nosso ‘calcanhar de aquiles’, que o nosso pavor, que é a comissão de frente, aí vi que a comissão de frente ganhou prêmio, eu falei ‘somos campeões’. Veio aquela surpresa que foi aquela nota, foi o primeiro carnaval dele, nós mantivemos o Carlinhos, mas é o ‘calcanhar de aquiles’. Esse ano também. É sempre um problema. Agora, vamos ver como vai ser. Não sei te responder isso, só sei que é o ‘calcanhar de aquiles’ “.
Vamos falar de disputa de samba-enredo. Todo mundo tem uma polêmica. É muito difícil ter um novo modelo e que no fim o samba campeão seja o consenso geral?
Luis Carlos Magalhães: “Mas consenso geral de quem? O que é consenso geral? Nós dois, nós três? Não há isso. A escolha de samba-enredo tem que ser, ou deveria ser uma escolha técnica. Não emocional. Ah, então vamos fazer três concursos? Vamos escolher um samba-enredo que a gente leve para casa, abra uma cerveja e uma sardinha frita para ficar escutando. Aí é um samba-enredo. Eu fiz isso com aquele samba do Martinho de 2010 do Noel Rosa, que foi um polêmico samba-enredo também. Então, eu não gostava. Rapaz, até que um dia eu entrei em uma roda de cavaco, aquele samba cantado no cavaco, só o cavaco, falei ‘que maravilha’. Mas esse é o samba para você ouvir comendo uma sardinha e tomando uma caipirinha. Tem um outro samba que invade a sua alma como é o ‘Sinha Olímpia’. Esse samba não tem uma vez que eu ouça que eu não me emocione. Como é o samba mais político de todos que eu conheci na minha vida, que foi o da Mangueira de 1988 ‘Liberdade, Ilusão’. Aquilo é o samba mais impactante politicamente, até hoje, eu não sei se vai ter outro. Que diz a verdade exata. Você tem o ‘ Kizomba’, que te pega como um furacão. Você tem o samba da Portela de 1985 ‘Gosto que me enrosco’, que me emociona para caramba. Você tem o samba do André e do Bocão ‘Muito prazer eu sou a Vila’, que me remete a minha infância em Vila Isabel. Esse é o samba que eu levaria para uma ilha deserta, para ficar ouvindo até morrer. Agora, é uma coisa muito pessoal também. Uma coisa é você escolher um samba, ter um samba preferido para ir para arquibancada e ver aquilo tudo. O carnavalesco tem uma visão diferente da sua, porque ele quer ver o enredo, ele está vendo as fantasias, a carnavalesca também, o Nilo Sérgio está pensando qual é o samba que favorece fazer umas bossas, o Gilsinho pensa ‘Ih mas esse samba vai cair aqui’, e você está todo emocionado. E ele vai para casa já pensando o que vai fazer para melhorar o samba, e ele faz mesmo, ele é danado. Então, tem uma porção de condicionantes para você escolher o samba. E, por outro lado, tem a questão do compositor, que existem compositores que acham que o samba deles é melhor. Tem outros que tem certeza (risos). É difícil. É difícil você aceitar, mas tem que aceitar. É democrático”.
Incomoda para você que é apaixonado por samba-enredo ter os problemas com Noca, Marquinhos de Oswaldo Cruz e agora o Samir e Neyzinho?
Luis Carlos Magalhães: “Vou dizer qual é a filosofia da coisa. Eu vou sempre às reuniões de compositores e o que eu digo é o seguinte: o dia que eu quiser fazer uma escolha de samba-enredo em paz, tranquila, eu vou fazer lá no mosteiro de São Bento. Agora, não é assim. A vida do sambista não é assim. Então, vamos fazer na Portela, vale tudo! Só não vale três coisas: ofender, agredir e tentar agredir. Todo mundo sabe disso e todo ano eu falo isso. E o que que houve lá naquela primeira briga? Houve agressão. Houve tentativa de agressão comigo. E, houve caso de expulsão, houve caso de suspensão e houve caso de cortar prêmio. O futuro a gente não sabe, porque, agora é o centenário da escola. O compositor da escola ser afastado no momento de fazer o samba do centenário é uma punição brava, complicada”.
Você trabalhou com Paulo Barros, Rosa Magalhães e Renato e Márcia Lage. O que pode falar da relação de trabalho com eles?
Luis Carlos Magalhães: “Eu diria que isso para mim, para um cara como eu que tem a cabeça que eu tenho, a minha cabeça é voltada para emoção e cultura, o melhor de tudo é conviver com o artista. Não é você acompanhar o artista e bater palma para ele da arquibancada. É você viver o momento da criação. É diferente de você ver o serviço pronto. Você não imagina quando uma pessoa tem uma dificuldade e apresenta solução para aquilo. Isso que difere o artista de eu e de você. É muito bom ver o Paulo Barros fazer isso, a Rosa Magalhães fazer isso, ver agora o Renato e a Márcia fazendo isso. Eu digo que é o melhor momento. Agora, há as dificuldades também. Até hoje, o portelense não perdoa pelo desfile da Clara Nunes não ter sido campeão. Foi um momento muito difícil isso. Esse embate do presidente com a carnavalesca. Que aí, você tem que entender que o artista é ela. Agora, quem sabe do resultado que a comunidade quer sou eu. Então, a visão que a Rosa tinha da Clara Nunes, não era a visão que a escola tinha. A visão do artista era diferente da do sambista. A Rosa entendeu de botar ali um pouco da semana de arte moderna. E, isso ficou bonito, ficou, mas não era 100% Clara Nunes como o pessoal queria. Isso até hoje (risos), me cobram. E o desfile ficou bonito pra caramba, eu me emocionei, vejam aquele desfile. Agora, aquela era a Clara da Rosa, mas não era a Clara da Portela”.
Na sua cabeça e do seu grupo, qual é a ideia para a eleição na Portela?
Luis Carlos Magalhães: “Como todo concorrente a ideia é ganhar (risos). Eu gostaria muito de manter o trabalho, porque a Portela é complicada, e a Portela fica em Madureira que é um baú de ouro, e você sabe que hoje as escolas estão sofrendo influências. Da outra vez eu ia concorrer com o Escafura, ele ia bater chapa comigo, e nós entendemos que o importante era fortalecer a Portela. E assim fizemos. Ele abriu mão da candidatura dele para mim, em função das circunstâncias que ele também concordou, e agora é outra realidade, vamos esperar passar o carnaval, já vamos começar, mas a ideia nossa, nós não estamos falando em nomes. Vai chegar um momento que nós vamos sentar e ver qual é o melhor nome”.
Após sua saída da presidência o Luis Carlos Magalhães volta a ser comentarista ou vai descansar?
Luis Carlos Magalhães: “Eu não gostaria mais de comentar carnaval. Não sou nenhum garotão. Você ficar a noite inteira acordado, porque de manhã você não dorme, tenho filho pequeno, pô! Tem claridade, você não dorme. Eu tive que abrir mão, eu desfilei no Cordão do Bola Preta 25 anos seguidos. Então, eu tive que abrir mão porque não dá para você ficar comentando carnaval do Acesso, se você tem que acordar no sábado de manhã e você tem que chegar lá cedinho. Olha que eu tinha regalia pela minha história, pela relação que eu tenho com o Bola Preta, eu tenho regalia de ir lá em cima. Eu chego ali (risos), um segurança daqueles enormes me pega pelos fundilhos e me põe lá em cima. Mas, eu tinha que acordar muito cedo e aí você acaba perdendo. Então, eu não gostaria, agora, podemos discutir alguma outra coisa (risos)”.
Você é diretor cultural da Liesa. Como melhorar e trazer o sambista para mais perto do carnaval nessa parte cultural?
Luis Carlos Magalhães: “Isso aí também é uma coisa complicada de se entender. Porque, eu quando vim para cá, para ser diretor cultural, eu achei que eu ia fazer o que a equipe de direção cultural fazia na Portela. Que a minha praia é a área cultural. Nós fizemos um trabalho ali, de primeira. Elogiadíssimo. Quando eu vim para cá, eu constatei que aqui não é o departamento cultural. Aqui é um departamento de documentação. É muito diferente. A gente tem que documentar o carnaval, abrir isso aqui para pesquisadores, não é exatamente um departamento cultural. A Liesa é muito para dentro, a Liesa é das 12 escolas. Ela está ali representando o interesse das 12 escolas. E, ela faz tudo nesse sentido. Estou conversando aí com a diretoria nova, com os meninos, com o Pedro e com o Helinho, com o Perlingeiro (Jorge) também, para a gente fazer alguma coisa para fora. Ali tem um auditório lindo, quais são os projetos que eu tenho, que eu preciso amadurecer? Por exemplo, agora seria hora de você chamar o Leandro, por exemplo, da Mangueira, botar em uma mesa, ‘Ô Leandro, o que você quer do carnaval da Mangueira? Pegar o puxador da Mangueira e cantar o samba. E os compositores. Você fazer uma imersão em cada escola. Entendeu? Eu acho que isso seria bonito para caramba. A outra coisa é você no período fora do carnaval, pegar livros, por exemplo, o Simas (Luiz Antônio), escreveu um livro sobre não sei o que, o Leonardo Bruno escreveu um livro sobre não sei o que, o Felipe Ferreira também, traz aqui, faz um ‘happy hour’. ‘Olha Felipe, porque você falou sobre isso? ‘Ô Léo Bruno, porque você falou sobre isso’? Como você pesquisou isso? E botar o livro para vender ali, para eles ganharem o dinheirinho deles. É isso que eu pretendo fazer em termos de Liesa. A outra coisa é fazer uma coisa que é um sonho, que é fazer uma coisa mais moderna de comunicação com o desfile com quem está ouvindo, vendo o desfile, do que está se passando ali. É mais ou menos o “Roteiro dos Desfiles”, do Marcos Roza, aquilo ali é uma beleza, é um livreto. Se você é um aficionado, você quer saber detalhes. A ideia é fazer uma coisa mais moderna, mais comunicativa do ponto de vista da ciência e da informática. É difícil, mas vamos perseguir essa ideia. Eu queria também, mas é uma coisa pessoal, fazer também, cursos de história do samba lá para a Intendente. Só para os desfilantes, de graça. Quem sabe a Liesa dá um certificado. Às vezes você pega um garoto deles lá e ele não sabe quem foi Cartola. Eu dou aula disso em pós-graduação, e as pessoas ficam encantadas com aquilo. Você precisa levar esse tipo de informação para as pessoas, para que elas se orgulhem disso, projeto tem para caramba”.
Falando em finanças. A pandemia foi avassaladora. Qual foi o tamanho do impacto para a Portela?
Luis Carlos Magalhães: “Olha, impactou. Aí também a Portela é diferente, porque a Portela são gerações. De repente você barra um cara no camarote que está cheio pra caramba no camarote, só cabem 30 pessoas, e o ar-condicionado pifa. Aí vem uma pessoa que você barra e ele fala assim ‘quem é você para me barrar? Você sabia que eu sou neto do Tinhãozinho de Oliveira?’. Entendeu? Se você deixa essas pessoas não receberem, é diferente de não deixar uma pessoa que você não conhece. É a mesma coisa, mas é diferente. Porque aí tem uma pressão familiar. Teve esse impacto de a gente deixar o nosso pessoal sem pagamento durante um tempo, mas nós pagamos, atrasado, mas pagamos. Até de ajuda que nós recebemos para a escola, nós tiramos um pedaço para pagar o pessoal, dividimos ali direitinho. O impacto absoluto de ter perdido tantas pessoas e pessoas tão queridas, tão importantes para a escola. Esse foi o impacto, o mais é adaptação porque a gente acaba se adaptando. Ficamos com a quadra fechada, não podia ter feijoada, não podíamos alugar, vender os nossos shows. Isso, financeiramente, foi muito ruim. Agora, a gente vai se adaptando. Tá aí, o carnaval se fosse em fevereiro, a Portela estava pronta. Não sei se todas estavam, mas a Portela estava pronta”.
Sem o apoio público é impossível fazer um desfile competitivo?
Luis Carlos Magalhães: “Sem dúvida, e eu acho que tem que ser assim mesmo. Eu acho que uma coisa é o carnaval de Porto Alegre, aí a prefeitura dá uma ajudazinha, outra coisa o carnaval de Maceió, a prefeitura ajuda, bota uma decoração ali, agora o carnaval do Rio de Janeiro transcende a cidade. Ele alcança o Brasil e ultrapassa as fronteiras do Brasil e vai para o mundo inteiro. Tem que ser uma festa desse tamanho. Não adianta dizer que o carnaval é a maior festa do Brasil, que os desfiles de escola de samba são a maior festa do Brasil, e você não dá a estrutura que a escola precisa. Acho que tem que ter ajuda federal, estadual e municipal, não precisa ser muito não, precisa ser mais regular do que quantitativo. Você precisa saber que em março você vai receber tanto. Junho você vai receber tanto, novembro você vai receber tanto, e janeiro, se você receber isso, você pode planejar. Agora, como foi no tempo do Crivella, você ligava para a Rosa Magalhães e falava ‘Rosa nós vamos te pagar tanto’. Aí quando chegava em junho ele dizia que não ia pagar nada. E, eu tinha que dizer para a Rosa ‘olha, Rosa, eu tava brincando hein’ (risos). Tá entendendo? Era uma maluquice. Para ser um desfile na dimensão do que é dito sobre ele, do que ele atrai de turismo, do que ele fortalece a rede hoteleira, do que ele traz de recurso para a cidade, é preciso que seja uma festa de verdade. Não pode ser uma festa só popular. Porque a gente tem que ter banheiros limpos, tem que ter as alegorias firmes, as fantasias bonitas, os artistas bem pagos, aí precisa de dinheiro”.
O que sentiu quando adiaram os desfiles de fevereiro para abril?
Luis Carlos Magalhães: “Eu me senti muito contrariado. Porque uma coisa é o leigo, outra coisa é um ser bem informado. Na Portela nós tínhamos isso. O nosso vice-presidente, diretor de carnaval, Fábio Pavão, se eu quiser saber alguma coisa sobre pandemia, eu ligo para a casa dele. Porque ele sabe tudo. Aqueles números, vai ter essa progressão aqui. Ele sabe isso tudo. Nós achávamos que podia ter o carnaval em lugar fechado que você tivesse controle como tem na Portela. Você quer fantasia? Cadê a vacinação completa? Aí ela ganha fantasia. E, no carnaval também tem que ter isso, tanto para quem vai desfilar como para quem vai vender guaraná, cafezinho, sanduíche. Nós acreditamos que no carnaval poderia ser feito isso. Carnaval da Sapucaí, carnaval de escola de samba. Agora se decidiu isso, a plenária das escolas de samba com os técnicos, médicos da prefeitura, vai ter desfile porque está seguro. Conclusão, o que era seguro não vai ter, e o que não era seguro, vai ter. Como é complicado você ser o prefeito em uma hora dessas. E a gente sabe, nós que estudamos o carnaval, que é o enredo da Viradouro, toda vez que o carnaval é adiado, ele acontece duas vezes. A gente está careca de saber disso. Como vai segurar um bloco de Benfica? Você segura um bloco de Ipanema que você conversa, agora um bloco de Benfica, de Cascadura, do Morro do Pinto vai sair. Vai ter festa fechada. Como tem jogos de futebol, como tem as raves, como tem festa da Anitta, o problema, é que quando é o poder público, ele pode dizer para não ter. Estabelecer multa, mas o particular não, ele chega e faz. É muito complexo isso tudo”.
Com o falecimento do Monarco a Portela ficou sem presidente de honra. Terá alguma eleição? E quem você gostaria de indicar para assumir?
Luis Carlos Magalhães: “Nunca teve eleição. É uma coisa natural. Não pensamos ainda, que é muito recente. Assim chutando aqui, estou pensando nisso agora, nesse momento, porque eu estou com ela na cabeça, que é Dona Olinda, de repente a gente convida Dona Olinda para ser a presidenta. Não sei, isso aqui eu estou inventando agora. Pura maluquice minha. Mas não estamos pensando em fazer eleição, pode ser que surja naturalmente o nome. No passado nós tínhamos muitos nomes, hoje os grandes pais fundadores da Portela estão mortos, um dos últimos foi o Monarco, ainda que não seja um pai fundador, mas é um carregador, é um homem que se atribuiu a missão de contar a história da Portela, de seus baluartes, pela importância que ele tinha diante de nós. Ele foi um nome natural”.
Por fim, o que espera do ano do centenário portelense, o que a escola pensa de ações durante o ano e o que não poderá faltar no enredo?
Luis Carlos Magalhães: “ Olha, não pode faltar Portela (risos). Isso é complicado. Portelense é um bicho danado porque você faz um samba de terreiro, um samba do cotidiano, do dia a dia ali da escola, dos casos, dos romances. Outra coisa é o samba exaltação, que você fala do Paulo (da Portela), do Caetano e do Rufino, fala do Candeia, não adianta, você explicar para os caras, samba de terreiro, é samba de terreiro, porque todo mundo faz samba exaltação. Só fala da Portela. Se acontece isso com o samba de terreiro, imagina no samba do centenário. Não pode o cara chegar e fazer um samba assim ‘Porque saí da casa do Candeia, fui para a casa do Manacéia, e depois fui para a casa do Walter Rosa, encontrei com Rufino…’, não pode isso. Agora, eu não sei nem qual vai ser a leitura do enredo. De repente, deixar por conta do compositor. Centenário, se vira. Entendeu? Mas, eu acho que o que não pode faltar é um histórico. Eu me lembro de um samba da Renascer de Jacarepaguá que falava sobre o Candeia, feito pelo Claudio Russo, Moacyr Luz e Tereza Cristina, era um samba tão bonito, e falava sobre a alma do Candeia, não falava ‘Candeia foi um policial truculento, e depois levou os tiros e transformou sua cabeça’. Não é isso. A Teresa Cristina conhece muito o Candeia. Eles fizeram o samba com tal profundidade da alma, porque eu estou falando isso, porque de repente você consegue traçar um painel da Portela sem contar a história da Jaqueira, onde a Portela foi fundada, sem falar do Paulo, Caetano e Rufino, sem falar da bandeira que representava a bandeira japonesa, e depois foi copiada por todas as escolas, você faz um panorama, não é superficial, é uma coisa sentimental da Portela e vai ficar muito mais bonito do que um samba desses descritivos. Pensamos em ações do centenário o ano todo. Nós vamos começar agora, quando começa o ano do centenário, algumas coisas nós já fizemos, a sala de troféus não deixa de ser já uma programação do centenário, a coisa do Monarco que nós fizemos, aquele painel, e nós vamos contratar um grande profissional para fazer uma festa da cidade. Que não é só uma festa em Madureira, não é só uma festa na Rua Clara Nunes, nós queremos que seja uma festa da cidade, e que seja uma festa que englobe todas as escolas, que quando você fala em 100 anos da Portela, você está falando de 100 anos do desfile. Você está englobando todas as escolas, então nós vamos conversar com todas as escolas para elas poderem participar também. Mas, de repente vai ter coisa em Copacabana, aí é por conta do profissional”.