Uma das escolas mais novas do Grupo Especial, a Grande Rio tem uma jornada interessante. Após altos e baixos, a agremiação conseguiu, enfim, chegar ao topo. Com uma vitória incontestável, a Tricolor de Caxias fez 2022 ser não apenas um ano glorioso para seus componentes, mas também um ano que ficaria marcado na história. Para os mais antigos, o sentimento de satisfação é ainda maior. Milton Perácio foi um dos fundadores da escola e segue como presidente até os dias de hoje. Em entrevista concedida ao site CARNAVALESCO, o homem de poucas palavras se emocionou diversas vezes e mostrou estar ainda mais motivado com o futuro.

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Foto: Luisa Alves/Site CARNAVALESCO

Estamos indo para o primeiro carnaval pós-título inédito da Grande Rio. Hoje, mais de 8 meses depois o que significou o título de 2022?

Perácio: “Esse título foi uma alegria não só para mim, como também para o povo caxiense. É muito bom agora você enxergar no semblante das pessoas, da comunidade de Duque de Caxias, o sorriso, a alegria… Esse título foi tudo. Eu dizia o tempo inteiro na Avenida, no grito de guerra, que estávamos perseguindo esse título há 33 anos. Conseguimos. Isso tem um significado enorme para a cidade e para os componentes, e sabemos que eleva o nome da nossa escola”.

Nos seus sonhos você imaginava que o desfile campeão da Grande Rio entraria no hall dos melhores da história do carnaval do Rio de Janeiro?

Perácio: “Eu acreditava, sim. Sempre acreditei porque o trabalho que foi desenvolvido pelos carnavalescos, pela diretoria, pela equipe… de todos os envolvidos, foi árduo. As pessoas estavam com esse grito entalado da garganta. Todos queriam evoluir, cantar e realmente vencer o carnaval. Tudo isso foi muito importante para todos nós porque se todos não estivessem empenhados, na mesma energia, não seria um título inédito e incontestável. Até as nossas coirmãs disseram que o nosso título foi merecido e isso é maravilhoso”.

Em todos os anos de títulos perdidos, qual foi o carnaval que mais doeu em você que poderia ganhar e não deu?

Perácio: “Foram vários. Temos quatro vice-campeonatos, muitos terceiros lugares… mas acredito que o que passou, passou. O que valeu foi a luta e a nossa vitória. O nosso pensamento é apenas um: partir já para o bicampeonato. E, se Deus quiser, vamos conseguir, porque a garra dos componentes é forte. Todos estamos trabalhando com afinco para essa onda de alegria continuar”.

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Qual é seu samba-enredo predileto da história da Grande Rio e por qual motivo?

Perácio: “É uma pergunta difícil. O meu preferido é sempre o atual, mas tem um que guardo na lembrança com carinho. É o de 2007, que falava sobre a nossa cidade: ‘Bom de bola, bom de samba, paixão//Com Perácio aprendi a sambar de pé no chão//E com Zeca Pagodinho, deixo a vida me levar//Eu me chamo Grande Rio e qualquer dia chego lá’ e chegamos. Esse samba me deixa muito sentimental”.

As pessoas brincam que a Grande Rio tem muitos caciques. Como é a relação e divisão de tarefas entre você, Helinho, Jayder e Leandrinho? Tem momentos mais  tensos e outros mais tranquilos?

Perácio: “Na verdade, temos um ambiente muito bom. Os nossos presidentes de honra sempre fazem de tudo para que a nossa escola consiga alcançar o melhor resultado. Eles realmente batalham pela Grande Rio, e eu vou junto com eles nessa”.

Hoje, os sambistas enaltecem a Grande Rio como uma escola de samba e de comunidade. Antes, era a escola dos globais. Como aconteceu essa virada de chave?

Perácio: “Tenho uma opinião sobre isso. Acho que a comunidade gosta dos artistas e os artistas gostam de estar com a comunidade. Essa mistura é muito boa e a Grande Rio soube aproveitar tudo isso. Eles gostam muito, você pode assistir no ensaio mesmo. A Paolla Oliveira vibra, as pessoas vibram… Em todos os nossos destaques, os nossos componentes parecem satisfeitos. É uma mistura que funciona”.

Qual é a importância da dupla de carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora nessa mudança da Grande Rio?

Perácio: “O Gabriel e o Leonardo são maravilhosos, estão fazendo um excelente trabalho, assim como no ano passado. Somos unidos”.

O Thiago Monteiro, diretor de carnaval, virou peça-chave de vocês. Qual é a importância dele hoje para a engrenagem da escola?

Perácio: “Ele é um grande diretor de carnaval. Está fazendo um trabalho incrível junto com a nossa comissão de harmonia, com o Cacá, o Jefferson, o Clayton Bola… as pessoas que comandam a harmonia de fato. Estamos muito felizes com a nossa equipe”.

Mestre Fafá conduziu a bateria em um ritmo que encanta e que foge aos padrões das baterias. A confiança é total nele e no ritmo que ele adota?

Perácio: “O Fafá é uma joia que moldamos. O garoto é maravilhoso. A prova está aí com os prêmios recebidos por ele”.

Outro gol da Grande Rio foi a chegada do intérprete Evandro Malandro. O que você pode falar da relação do Evandro com a escola?

Perácio: “O Evandro é um trovão na Sapucaí e só isso basta. Um dos maiores intérpretes de samba-enredo da atualidade, sem dúvida”.

Você já foi citado em desfile e em samba, agora foi campeão, o que mais o Perácio quer na Grande Rio?

Perácio: “Uma palavra: bicampeonato”.

O que representa para a Baixada Fluminense ter o título da Grande Rio e o vice da Beija-Flor em 2022?

Perácio: “São escolas da Baixada Fluminense, e escolas maravilhosas. A Beija-Flor, que é a nossa coirmã, é uma escola de samba absurda. Porém, como chegou a vez da Grande Rio, prefiro falar somente da Grande Rio porque sabemos o que estamos fazendo por aqui. Lá, o presidente Almir e o presidente de honra, Anísio, são pessoas que sempre batalharam pelo carnaval. A Grande Rio está aí. Peixinho novo, mas chegando no topo. Acho que a Baixada ficou orgulhosa”.

Ser a segunda a desfilar tão cedo no domingo assusta ou é carnaval para comprovar o momento especial da Grande Rio?

Perácio: “Já foi tempo de algo assim nos assustar. Hoje, com o samba que temos, vamos entrar firmes. A Grande Rio poderia ser a primeira, a segunda, a terceira, a quarta a desfilar… O que vale é o espírito sambista que temos. Agora, ninguém mais segura a gente. O que não falta aqui é vontade de vencer”.