A Unidos de Vila Isabel ocupou novamente o Boulevard 28 de setembro, na noite dessa quarta-feira, para realizar mais um ensaio de rua visando o Carnaval de 2024. A agremiação foi a primeira do Grupo Especial a dar início a sua temporada de treinos e já está colhendo os resultados desse calendário antecipado de trabalho. Tendo como bases o excelente carro de som e a inspirada bateria “Swingueira de Noel”, a nova versão do clássico “Gbala – Viagem ao templo da criação”, de autoria de Martinho da Vila, cresceu ao decorrer das últimas semanas, o que desencadeou em um canto cada vez mais potente da comunidade. Esse desempenho da obra também mostra reflexos na evolução da escola, marcada pela leveza e descontração dos componentes. No ano que vem, a azul e branca do bairro de Noel apresentará uma reedição do samba e do enredo que embalaram o desfile de 1993, originalmente desenvolvido pelo carnavalesco Oswaldo Jardim, e que desta vez ganhará a assinatura do artista multicampeão Paulo Barros. A Vila Isabel será a terceira a cruzar o Sambódromo da Marquês de Sapucaí na segunda-feira de Carnaval, dia 12 de fevereiro, em busca do seu quarto título de campeã na elite da folia carioca.
Mestre-sala e Porta-bandeira
Por conta da ausência dos integrantes da comissão de frente, coube ao primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Marcinho Siqueira e Cristiane Caldas, a responsabilidade de vir à frente da escola, abrindo os caminhos para mais um ensaio de rua. A dupla, que em 2024 irá fazer seu terceiro desfile consecutivo conduzindo o pavilhão principal da agremiação, apostou em um figurino simples e leve, nas cores azul royal e nude acetinado. Em relação ao bailado, os dois realizaram uma dança predominante mais tradicional, mas que contou com alguns passos coreografados. O ritmo mais intenso não foi empecilho para que os movimentos fossem precisos e houvesse bastante sincronia de um com o outro. Os anos de parceria contribuem para que o entrosamento entre eles seja excelente, sendo possível observar momentos em que se comunicam e se entendem apenas pelo olhar, algo que reflete positivamente nas apresentações, não sendo diferente no treino da noite dessa quarta-feira.
Bateria
A “Swingueira de Noel” foi um dos grandes destaques desse quarto ensaio de rua da Vila Isabel para o Carnaval de 2024. A boa performance dos ritmistas comandados por mestre Macaco Branco foi fator primordial para o ótimo rendimento do samba-enredo, levantando o público presente no Boulevard 28 de Setembro com suas bossas e convenções. O andamento adotado variou entre 142 e 143 BPM (batidas por minuto), tendo como intuito preservar as características melodiosas da obra. Logo após o término do treino, o comandante da bateria concedeu entrevista para a reportagem do site CARNAVALESCO e fez um balanço do trabalho realizado até aqui. De acordo com Macaco Branco, o que está sendo executado nos ensaios é exatamente aquilo que pretende levar para Marquês de Sapucaí no desfile oficial.
“Gosto de executar bem, fazer no ensaio de rua como se estivesse no campo mesmo jogando. Está tudo cronometrado, tudo certinho, pensado como se tivesse os módulos dos jurados. E a gente está fazendo praticamente a mesma pegada que foi no desfile de 1993. Para a época, já era um andamento excelente. O 142 BPM (batidas por minuto) não é rápido, mas sim bem tranquilo. Então, a gente está valorizando mesmo e respeitando toda a métrica, o andamento perfeito, para que o samba funcione bem na Avenida. Nossa ideia é ir para o desfile oficial com três bossas mais ou menos, todas na divisão do samba. A primeira é ali na segunda do samba, brincando com essa divisão; já a segunda bossa é no meio, na caída de segunda, que a gente faz um compasso 6/8 (seis por oito), uma parada afro e depois faz um jongo para brincar com os ritmos africanos; já a terceira é na cabeça do samba, quando a letra fala que ‘Quando acaba a criação/Desaparece o Criador/Para salvar a geração/Só esperança e muito amor’, que a gente faz uma dinâmica, uma brincadeira, que zera tudo (para momentaneamente) e volta só com os tamborins, com as caixas e tem uma resposta de primeira e segunda que fica maneiro pra caramba. Enfim, tenho certeza que todos vão gostar demais do que a gente está preparando”, afirmou o mestre de bateria da Vila.
Samba-enredo
Após perder pontos preciosos neste quesito no Carnaval de 2023, que a atrapalharam na briga pelo campeonato na ocasião, a Unidos de Vila Isabel decidiu apostar em uma reedição para o ano que vem. O samba-enredo escolhido para passar novamente pela Marquês de Sapucaí com a escola foi o clássico “Gbalá – Viagem ao Templo da Criação”, de autoria do cantor e compositor Martinho da Vila, maior baluarte da história da agremiação. Tal decisão, até o momento, se mostrou extremamente acertada, vide o ótimo rendimento da obra nos ensaios de rua. O carro de som da azul e branca do bairro de Noel, um dos melhores da folia carioca, foi fundamental para que o samba melodioso, que não possui um momento de explosão, caísse nas graças da comunidade e fosse bem cantando. O intérprete Tinga, responsável por liderar o time de cantores, conduziu a composição de uma maneira vibrante, a ponto de empolgar componentes e espectadores. A bateria “Swingueira de Noel”, comandada pelo mestre Macaco Branco, também ajudou nesse processo, dando um tempero a mais para o hino.
Harmonia
Além do desempenho espetacular do carro de som e da bateria, o canto da comunidade foi outro fator que contribuiu para que o samba-enredo fosse a grande estrela desse quarto ensaio de rua da Unidos de Vila Isabel. O refrão principal, com os versos “Gbala é resgatar, salvar/E a criança, esperança de Oxalá/Gbala, resgatar, salvar/A criança é esperança de Oxalá”, foi entoado a plenos pulmões por boa parte dos componentes. Além dele, outros dois trechos se sobressaíram e foram cantados com bastante afinco: a subida para o refrão, “Conheceram os valores/Do trabalho e do amor/E a importância da justiça/Sete águas revelaram em sete cores/Que a beleza é a missão de todo artista”, e o início da cabeça do samba, “Meu Deus/O grande Criador adoeceu/Porque/A sua geração já se perdeu”. Entre as alas em si, as que mais se destacaram foram as três primeiras da escola e as duas últimas, que mesmo estando mais afastadas, berraram a obra do começo ao fim.
Evolução
Embalado pela boa performance do samba, a evolução dos componentes da Vila Isabel foi marcada pela descontração e pela leveza. Os desfilantes vieram soltos, brincando, pulando e cantando. Alguns ainda fizeram uso de acessórios como balões, bastões de luzes e pom poms, que deram um charme a mais para a passagem. Mesmo com esse clima mais relaxado, ao longo de aproximadamente uma hora de ensaio, a escola passou extremamente correta, sem abrir buracos ou ocorrer embolamentos entre as alas. Quanto ao ritmo, as paradas para simular as apresentações em cabines não atrapalharam o andamento da agremiação, que passou de forma cadenciada. Além disso, a entrada e a saída da bateria do recuo aconteceu de forma tranquila, não tendo clarões e nem outros tipos de transtornos.
Outros destaques
A rainha de bateria da Unidos de Vila Isabel, Sabrina Sato, esteve presente no ensaio dessa quarta-feira. Animada, a beldade sambou, cantou e brincou à frente dos ritmistas da “Swingueira de Noel”, liderados pelo mestre Macaco Branco. Com um figurino composto por um vestido azul e uma camisa curta da escola sobreposta, a apresentadora esbanjou beleza e simpatia por onde passou. Ela foi extremamente tietada pelo público que compareceu no Boulevard 28 de Setembro e fez questão de retribuir todo o carinho recebido, tanto que a artista por diversos momentos parou para dar beijos e abraços nos espectadores que lotavam as calçadas, além de tirar diversas fotos com os fãs. Após a conclusão do treino, Sabrina conversou com a reportagem do site CARNAVALESCO e relatou sobre o sentimento de estar na rua junto com a agremiação.
“Estar na Vila Isabel, na minha escola, é sempre uma emoção. Eu vim aqui no dia das crianças, participei da festa que fizeram para garatoda da comunidade, e ter vivido hoje esse ensaio de rua foi algo lindo. A rua lotada, cheia da energia do povo da Vila Isabel e com esse samba que fala de resgatar a nossa criança, o nosso lado infantil, de dar valor para os pequenos. Afinal, eles são a chave para evolução. É um samba que fala muito também sobre a criação, a importância de se preservar, que tem uma mensagem realmente linda, que fez história em 1993 e vai arrasar novamente agora. O mestre Macaco Branco deu o gingado dele nessa nova versão, colocou lá todo o swing, e tenho certeza que vai ser um sucesso”, declarou Sabrina Sato.