O feriado da Proclamação da República foi marcado por muito samba no Boulevard 28 de Setembro. Nem mesmo o calor intenso que atinge a cidade do Rio de Janeiro foi empecilho para o comparecimento em massa de torcedores e componentes no quinto ensaio de rua da Unidos de Vila Isabel visando o desfile do ano que vem. A escola, que foi a primeira do Grupo Especial a dar início a sua temporada de treinos, segue colhendo os frutos de um calendário antecipado de preparação e teve como destaques na noite dessa quarta-feira o bom desempenho dos quesitos de chão, embalados pelo clássico samba-enredo de Martinho da Vila, assim como mais uma performance irretocável da “Swingueira de Noel”, comandada por mestre Macaco Branco. Além dessa parte musical, quem também roubou a cena foi o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Marcinho Siqueira e Cristiane Caldas, que manteve a tendência de se superar a cada apresentação. Em entrevista concedida para a reportagem do site CARNAVALESCO, o diretor de carnaval da agremiação, Moisés Carvalho, fez um balanço da evolução do trabalho no decorrer das últimas semanas.

Fotos: Diogo Sampaio/CARNAVALESCO

“Feliz com a escola, com cada segmento que compareceu nesse feriado, apesar desse calor todo aqui no Boulevard 28 de Setembro. Cada dia que passa, cada quarta-feira, a gente sobe mais um degrau. Muito feliz com o canto da escola, com a evolução, com o entrosamento entre o carro de som e a bateria, com o Tinga… Acho que a escola está no caminho certo, cantando muito, evoluindo muito, isso é fruto de um trabalho que a gente fez lá do início e está colhendo os frutos agora. Comunidade toda de parabéns, assim como todos os segmentos. Muito feliz com o ensaio de hoje”, ponderou o diretor de carnaval.

A azul e branca do bairro de Noel apresentará, no ano que vem, uma reedição de “Gbalá – Viagem ao templo da criação”, originalmente feito em 1993. Na época, o enredo foi desenvolvido pelo carnavalesco Oswaldo Jardim. Desta vez, a proposta ganhará a assinatura do artista multicampeão Paulo Barros. A Vila Isabel será a terceira a cruzar o Sambódromo da Marquês de Sapucaí na segunda-feira de Carnaval, dia 12 de fevereiro, em busca do seu quarto título de campeã na elite da folia carioca.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Um dos pontos altos desse quinto ensaio de rua da Unidos de Vila Isabel. O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Marcinho Siqueira e Cristiane Caldas, teve a missão, mais uma vez, de abrir a apresentação da escola devido a ausência dos integrantes da comissão de frente e tirou de letra o desafio. Com um figurino todo em tons de azul, a dupla apresentou uma dança predominante clássica, que mesclou o tradicional com alguns passos marcados. O bailado, de ritmo veloz, foi marcado por movimentos precisos e sincronizados. O cortejo também esteve bastante presente na performance dos dois, seja através do toque, do gestual elegante ou da simples troca de olhares. Houve ainda diversos giros, principalmente da parte dela, que tiveram um belo efeito, muito por conta da saia.

Samba-enredo

A opção por reeditar o clássico “Gbalá – Viagem ao Templo da Criação”, de autoria do cantor e compositor Martinho da Vila, segue dando sinais de ter sido uma escolha acertada por parte da agremiação. A obra manteve a tendência de crescimento das últimas semanas e novamente teve um ótimo rendimento no ensaio de rua da noite dessa quarta-feira. O carro de som da azul e branca do bairro de Noel, capitaneado pelo intérprete Tinga, conduziu com maestria o samba-enredo, de maneira a contagiar o público que assistia ao treino no Boulevard 28 de Setembro, além dos próprios desfilantes da agremiação. A bateria “Swingueira de Noel”, liderada pelo mestre Macaco Branco, também foi fundamental para este alto desempenho, adotando um andamento que respeitasse as características melodiosas da competição e, ao mesmo tempo, possibilitasse uma evolução vibrante por parte da escola.

“O rendimento desse samba está sendo maravilhoso. O importante é a escola estar feliz, cantando forte. Sempre a gente espera ter um grande samba para que os componentes possam evoluir bastante, alegres, e isso temos visto ao longo dos ensaios. A comunidade canta com vontade. Quando é por obrigação que é mais complicado. Então, acho que a gente está evoluindo. Cada dia que passa, melhoramos mais. A comunidade está muito feliz com o samba, com o nosso enredo, se Deus quiser vai ser um grande desfile. Os ensaios de rua estão sendo muito emocionantes e a escola, como um todo, está vibrando muito. Tenho fé que a gente vai fazer um Carnaval belíssimo e trazer esse título para a Vila”, declarou Tinga durante conversa com a reportagem do site CARNAVALESCO, após a conclusão do ensaio.

Harmonia

No embalo da ótima performance do samba-enredo, o canto da comunidade se sobressaiu em mais uma semana. Entre as alas, as quatro iniciais estiveram entre as que cantaram com mais afinco, assim como as duas últimas, sendo os destaques desse quinto ensaio de rua da azul e branca do bairro de Noel. Do samba em si, o refrão principal, com os versos “Gbala é resgatar, salvar/E a criança, esperança de Oxalá/Gbala, resgatar, salvar/A criança é esperança de Oxalá”, foi o ponto alto, tendo sido entoado com bastante força pelos componentes. O trecho de subida para ele e o começo da cabeça da obra também foram bem cantados, merecendo menção positiva. Já os pontos de atenção ficam para algumas partes do samba como “Lá os guias protetores do planeta/Colocaram o futuro em suas mãos” e “Descobrindo o próprio corpo compreenderam/Que a função do homem é evoluir” que foram pouco cantados ou entoados em menor volume. Sobre esse último tópico, o diretor de Carnaval da Vila, Moisés Carvalho, comentou que a agremiação vem trabalhando a questão.

“Isso é um trabalho que a gente vem fazendo em reuniões semanais com harmonia. Até por isso eu destaco a evolução. Acho que se a gente pontuar o primeiro ensaio com o ensaio dessa quarta, a gente vê uma curva ascendente, fruto realmente desse trabalho que a gente vem fazendo. E a partir da próxima semana, vamos intensificar isso. A gente vai começar os ensaios de quinta-feira por setor, justamente para atingir esse canto mais uniforme. Óbvio que não vamos conseguir o mesmo efeito do refrão durante o samba todo, mas é fazer com que nas outras partes a gente consiga chegar no ponto máximo. Então, é por isso que eu fico feliz com a evolução, do primeiro ensaio de rua até agora. A escola vem subindo gradativamente até chegar o dia do desfile, que eu acho que vai ser o ponto maior”, explicou Moisés Carvalho em entrevista concedida para a reportagem do site CARNAVALESCO.

Evolução

Assim como a harmonia, a evolução também foi impactada pelo ótimo rendimento do samba. Foi possível observar em todas as alas os componentes desfilando de maneira solta e empolgante. Sem estar preso em qualquer tipo de amarra ou fileiras rígidas, a maior parte pulou, vibrou e cantou o tempo inteiro. Os acessórios usados por eles, que iam desde pom poms até bexigas, contribuíram para o clima leve e brincalhão do ensaio de rua. Devido às temperaturas elevadas no Rio, mesmo no período da noite, houve alguns desfilantes se queixando do calor e sentindo mal-estar, mas nada que atrapalhasse de forma mais efetiva o desempenho do quesito. Em relação ao ritmo, a escola adotou um andamento cadenciado, sem paradas prolongadas ou qualquer tipo de correria. Também não ocorreram falhas graves aparentes, como a abertura de buracos, clarões no meio de alas ou embolamentos.

Outros destaques

A bateria, assim como o carro de som, é uma atração à parte quando se trata de ensaio de rua da Vila Isabel. Os ritmistas comandados pelo mestre Macaco Branco deram mais um espetáculo no Boulevard 28 de Setembro em pleno feriado e animaram os espectadores que se aglomeraram nas calçadas. As bossas bem construídas e a levada respeitando as características da obra foram os pontos altos da passagem da “Swingueira de Noel”. Essa performance contribuiu para o ótimo rendimento do samba-enredo, assim como para a evolução solta e alegre dos componentes.

Outro destaque do treino da azul e branca do bairro de Noel ficou para o alto astral de algumas alas mais tradicionais. Com a letra do samba na ponta da língua, baianas e membros da velha-guarda fizeram bonito, esbanjando alegria, sambando, girando, pulando e vibrando. Um verdadeiro show que serve de exemplo.