Há uma semana do desfile oficial, o Paraíso do Tuiuti “desceu o morro” pela última vez em São Cristóvão neste pré-carnaval e fechou o ciclo de ensaios de rua para o carnaval de 2024. Desde o final de outubro do ano passado, abrilhantando as noites de segunda-feira com muito samba no Campo de São Cristóvão, a Azul e Amarela da Zona Norte, neste teste final, aproveitou, para , antes de tudo, confraternizar entre segmentos, componentes e a comunidade. Fantasiados, como para os antigos bailes de carnaval, teve pierrot, colombina, rainha, outros personagens menos óbvios, como o “fofão” e a “minnie”, mas também teve muito ensaio, foram cerca de duas horas de treino no deslocamento entre o Colégio Pedro II e a Quadra do Tuiuti. Em seu discurso, o presidente Renato Thor ressaltou a organização da escola para estes treinos e para o carnaval que irá colocar na Avenida, inflamando os componentes a desfilarem com muita vontade de vencer. O diretor de carnaval André Gonçalves explicou que além da preparação, a ideia principal para esta segunda-feira era que o folião do Paraíso do Tuiuti pudesse se confraternizar uns com os outros em um momento de muita alegria para chegar no desfile bastante leve e felizes, também por mais uma temporada de muitos ensaios concluída.
“Hoje foi uma grande festa, elaboramos uma grande festa, estamos prontos para o dia 12, para entrar na Avenida, fazer um belíssimo trabalho, um belíssimo desfile, um belíssimo carnaval, apresentar o que a casa sabe fazer, o que a comunidade sabe fazer que é o carnaval. A gente vem de muito tempo batendo na trave, volto a dizer, estávamos fazendo um trabalho incansável, mas nunca falando que estávamos prontos. Hoje eu posso falar para vocês que estamos prontos. Realizamos mais um ensaio, porém um ensaio para a gente poder curtir esse dia maravilhoso, é como se fosse uma confraternização, mas também foi um belo ensaio”, esclarece o diretor.
André também aproveitou para colocar que a escola está bastante tranquila nesta reta final em direção ao carnaval 2024, pois tem tudo concluído e uma escola pronta para buscar surpreender de novo, como foi em 2018.
“Estamos bem tranquilos, carnaval todo pronto, estamos entregando fantasias, o nosso barracão está pronto, nossas alegorias todas prontas, tudo que a gente pensou para a Avenida, já está pronto”, destaca o profissional.
Com um canto que manteve o bom rendimento de outros ensaios de rua do Tuiuti, a escola mais uma fez viu a bateria SuperSom de mestre Marcão se destacar com bom andamento, ritmo e bossas bem elaboradas como uma em forma de marcha e homenageando João Candido e sua profissão, bem no trecho “Salve o almirante negro…”. Com 40 anos de Sapucaí, ou seja desde o início do sambódromo, mestre Marcão revelou que apesar da experiência o frio na barriga sempre dá.
“São quarenta anos de Sapucaí, eu entrei em 1984 na bateria. Já fiz 40 anos, graças a Deus. A expectativa é sempre a melhor e o sentimento é sempre de como se fosse a primeira vez que vou pisar na Avenida. A gente sabe que treino é treino, jogo é jogo, ainda não estamos jogando, só treinando ainda, hoje foi o último treino, daqui a pouco a gente está lá na Sapucaí, semana que vem, vai ser interessante”, promete Marcão.
O comandante da Supersom avalia todos esses meses de trabalho e ainda destaca que há surpresas que só vão pintar na segunda-feira de carnaval quando o Tuiuti fizer a curva na Sapucaí.
“Está tudo redondinho, estamos fazendo aquilo que preparamos desde junho, algumas coisas modificamos neste período, até mesmo para poder ficar tudo casado com o carro de som, com a comunidade, a cada hora vem uma ideia boa. Depois do ensaio técnico, tive uma reunião com a minha diretoria, já planejamos uma outra coisa para fazer no dia, estivemos analisando os ensaios, está todo mundo de parabéns, cada um com a sua proposta, e estamos nessa luta. Como diz o diretor Claudinho, não é briga, mas luta, temos que lutar sempre”, finaliza o mestre de bateria da Azul e Amarela de São Cristóvão.
Dentro deste momento de preparação, que era também de celebração, o Tuiuti também trouxe a abertura da escola com a comissão de frente coreografada por Claudia Motta e Edifranc Alves e o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira Raphael Rodrigues e Dandara Ventapane. Claudia e Edifranc trouxeram dois elencos, apresentando uma coreografia mais elaborada, mais próxima do que se pode esperar na Avenida, o que teve uma boa receptividade do público que acompanhava da calçada. Intensa e pontuando samba em diversas partes de forma bastante didática e fácil de acompanhar pelo público, mas com emoção e carregada com o peso do simbolismo histórico que o enredo do Tuiuti promete trazer. Logo depois no desfile, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira. Combinados no azul em predominância no traje, a dupla mostrou o entrosamento de sempre e a dança mesclando passos um pouco mais coreografados, bem dentro do enredo, e o bailado característico e clássico de um casal de mestre-sala e porta-bandeira. Na pista, apesar da proximidade do desfile, não teve ninguém se poupando, apesar de que alguns cuidados para não correr riscos desnecessários sempre são bem vindos.
“A gente tem que ter uma atenção redobrada, como um quesito importante, a gente vem para o ensaio de rua há uma semana do nosso desfile, exatamente sete dias, então tem que ter um cuidado com os nossos corpos que são os nossos instrumentos de trabalho, então hoje foi com muita atenção, mas não viemos segurando, só que em um estado maior de alerta e atenção maior. E o frio na barriga é sempre o mesmo, acho que a responsabilidade de cada quesito é ano a ano, no carnaval, a cada temporada se apresenta um novo trabalho, uma nova proposta, uma nova coreografia no nosso caso, não tem como não entrar na Avenida com esse friozinho na barriga”, revela a porta-bandeira do Tuiuti, Dandara Ventapane.
A “dancinha” no “Lerê, Lerê mais um preto lutando pelo irmão…” que vem fazendo sucesso nos ensaios de rua, é extraordinária e original, transmitindo alguns passos afros com potência e ritmo e não ficou de fora neste teste. A apresentação foi marcada por simbolismos e ancestralidade. Raphael Rodrigues também explicou que o processo de preparação para o desfile contou com algumas etapas e que a espontaneidade da dupla foi colocando possibilidades na dança do casal para este carnaval 2024.
“Todo projeto tem sempre um período de criação e adaptação, e finalização, que é no dia do evento. Mas , graças a Deus, eu e a Dandara, a gente conseguiu agrupar tudo isso muito bem. A gente consegue conversar, a gente primeiro entende o que que é, o que que significa, o que que isso pode influenciar na gente, e depois a gente começa a colocar em prática as criações. Entre a gente é muito bom porque surge tudo muito naturalmente, a gente dançando na frente do espelho surge um passo, a gente guarda isso, a gente até brinca que todo ensaio, toda brincadeira nossa tem que ser filmada, porque sempre surgem algumas coisas do nada, como surgiu nessa coreografia. Tem muitos passos que chegaram de forma espontânea e a gente só aprimorou eles e viemos aprimorando cada vez mais. E temos ensaiado bastante para no dia chegar ao nosso grande objetivo”, avalia o mestre-sala, que está na escola desde 2022, ao lado da mesma parceira.
O ensaio ainda contou com a participação do filho de João Cândido, Seu Candinho, um senhor de quase 90 anos que neste treino veio a pé, mostrou muito vigor e alegria. O samba, uma obra com a cara do Tuiuti destes últimos anos, produzida pelos mesmos autores, mais uma vez passou bem impulsionado pela voz de Pixulé que mostrou bastante resistência ao cantar a obra por duas horas ao lado de seu carro de som. No fim, poupando a garganta, o cantor que volta ao Grupo Especial, agora pelo Tuiuti, após dez anos, limitou-se a enfatizar ao site CARNAVALESCO que a comunidade do Paraíso do Tuiuti está pronta para cantar e evoluir bastante.
“Essa comunidade tem sido maravilhosa, um show. Se o desfile fosse hoje, Tuiuti estaria ponta”, finalizou o intérprete estreante no Quilombo do Samba.
No carnaval de 2024, o Paraíso do Tuiuti levará para a Marquês de Sapucaí o enredo “Glória ao Almirante Negro!”, desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos, e vai homenagear João Cândido. A Azul e Amarela será a penúltima escola a desfilar na segunda-feira de carnaval.