Por Will Ferreira e Lucas Sampaio

A sexta-feira fria na Zona Norte de São Paulo foi de homenagens na quadra do Rosas de Ouro, na Freguesia do Ó. Para homenagear Bahia, integrante do departamento de Alegorias da escola e vítima de um infarto horas antes do ensaio da semana começar, a escola contou com uma potente ala musical, honrando o baluarte que se foi. Para defender o enredo “Ibira 70 – A Rosas de Ouro é São Paulo no Carnaval 2024”, a agremiação teve noite inspirada da equipe de canto e da bateria.

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Com a palavra, a ala musical

O bom desempenho dos ritmistas, na visão do mestre Rafael Oliveira, popularmente conhecido como Rafa, vem da sequência do trabalho desenvolvido pela equipe comandada por ele. “Nós não mudamos nada no nosso trabalho, ele é sempre intenso. Em 2023, fizemos seis bossas; para o ano que vem, já estamos com quatro – e vamos colocar mais uma, além de um arranjinho. Para nós, não muda nada: são dois ensaios por semana, daqui a pouco serão três ou quatro… e será assim até o carnaval”, destacou o comandante do segmento na agremiação desde 2014.

Ainda na linha da sequência de trabalho, Rafa pontuou que o segmento comandado por ele não terá grandes alterações em relação ao desfile desse ano. “Não usamos nenhum instrumento diferente e não temos um instrumento específico, as bossas são em cima de todos os instrumentos, com pergunta e resposta e coisas com chocalho desenhando junto com o tamborim e com o surdo de terceiro. Mas não temos uma ênfase especial em algum naipe. É uma Bateria com Identidade tradicional e com ousadia, mas sem novidades de instrumentos nesse ano”, comentou, aproveitando para destacar alguns instrumentos.

Já Carlos Junior, intérprete da agremiação, buscou o autoencorajamento para se inspirar. “Eu sempre me baseio pela motivação. Ontem mesmo eu estava tendo essa conversa com o vice-presidente Osmar. Eu falei: ‘Osmar, eu só preciso estar motivado de energia e sinergia’. A gente vai trabalhar de manhã, e faz tempo que eu não desfilo de manhã. O Rosas trabalhou de manhã mais recente que eu. Acho que a última vez que eu trabalhei de manhã foi quando teve aquele atraso por conta de carro da Dragões que quebrou, lá na império, mas eu estava totalmente preparado porque já estava duas, três horas ali já conversando. Eu estava totalmente preparado, só que eu senti que a escola não estava pronta para aquele episódio, e aí eu tentei o que? A motivação. Eu busquei a motivação. Eu tenho o microfone na mão. Eu aprendi a motivar. Apesar de hoje em dia isso ser uma coisa meio que ultrapassada, eu entendo dessa forma. Acredito que se você olhar, por exemplo, para o futebol, se você olhar para a Fórmula 1, eles ainda continuam sendo pessoas motivadas a chegarem no melhor lugar possível pelos seus dirigentes, pelos seus técnicos. Eu me sinto na obrigação de passar isso para o Rosas de Ouro, do que é trabalhar de manhã em busca de algo”, comentou.

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Amizade que engaja

Uma das tantas curiosidades sobre o atual quadro do Rosas de Ouro está na parceria entre o comandante da bateria e o intérprete da agremiação. Citando antigos cantores da azul e rosa, mestre Rafa falou de Carlos Junior. “O Carlão é um grande amigo desde sempre, amigo particular. Como foi com o Royce e outros cantores, era um sonho trabalhar com ele e estamos realizando. Está sendo super bacana, porque estamos trabalhando com um ídolo. É como eu tocar com um grande artista fora do mundo do samba. Ele está se adaptando bem, é um cantor super agressivo no palco, com uma pegada diferente e que nos proporciona jogar a bateria mais para frente, com uma melodia mais aguerrida. Estamos curtindo para caramba, acho que vai ser um grande desfile e um grande renascimento dele – já que, em toda escola que você passa, é um tipo de trabalho e execução. Acho que ele vai ser feliz aqui no Rosas junto com a Bateria com Identidade e com a comunidade. É um cantor diferente de todos que passaram nos últimos anos. Estou aqui há onze anos e trabalhei com o Darlan, que foi muito bom, ele foi um dos grandes responsáveis por eu ser mestre hoje. Trabalhei com o Royce, que era um sonho. E, agora, estamos sendo felizes com o Carlos Junior bem como fui com os outros dois”, comentou.

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O poder da união também foi destacado pro Carlos Júnior. “para chegar ao nosso objetivo é preciso isso, é preciso aquilo, é preciso seguir algumas coisas que são informadas da Harmonia, algumas coisas relacionadas à comissão de carnaval. Precisamos estar em sintonia e comunicação, e essa comunicação eu vou dar o tempo todo mesmo que alguém ache ruim. É o meu jeito”, afirmou.

Leveza que traz resultados

Outro ingrediente para o sucesso da ala musical no ensaio foi dado por Evandro Souza, um dos diretores de carnaval da azul e rosa – juntamente com Leandro Lion e Victor Lebro. Na visão dele, a escola resgatou uma característica da agremeiação. “Depois dos dois últimos carnavais, que a gente levou enredos com mensagens, eram enredos mais densos, a gente sentou, conversou e falou assim: ‘eu acho que a gente precisa resgatar um pouco da essência da escola de enredos mais leves e divertidos’. Não só por questão de resultado, mas a gente esteve desenvolvendo alguns enredos mais sérios nos últimos anos, e eu acho que voltar a falar de São Paulo acho que foi um grande acerto. Um enredo que até então inédito no Grupo Especial. Falar de São Paulo, que é uma característica da Rosas de Ouro, então a gente conseguiu juntar tudo isso. O samba vem crescendo. No início a gente recebeu algumas críticas, mas a gente tinha certeza de que o samba ia acontecer e está fluindo, está sendo legal. Eu acho que o clima da escola está vindo na proposta que a gente tinha de enredo, ou seja, uma coisa mais leve, mais alegre. Acho que a gente vai chegar em janeiro com uma energia superbacana”, pontuou.

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Revelando uma ação bastante especial que a escola falará, Evandro também destacou qual ponto, na visão dele, ainda pode ser melhorado pela agremiação. “Eu acho que a gente está nesse processo agora de trazer o povo para a quadra. As alas estão se movimentando, ensaiando em separado., e essa semana a gente começou a juntar a escola para fazer o primeiro ensaio de canto. Justamente na semana que vem a gente tem a festa do lançamento do carnaval lá na Fábrica do Samba. Em dezembro a gente tem ensaio no Ibirapuera, o que seria um ensaio de rua aqui a gente vai levar para lá e fazer um ensaio lá no Ibirapuera no dia 17. Estamos nesse momento de unir as pessoas, trazer as pessoas, juntar realmente a escola para a gente sentir isso e ver o ponto que a gente precisa aplicar algum tipo de trabalho especial”, destacou.

Aqui, é importante destacar que o tamanho da quadra do Rosas, uma das maiores da cidade de São Paulo, impacta na impressão sobre número total de pessoas no ensaio – bem como o fato do espaço ter diversos ambientes. Também é válido pontuar que, ao contrário de outras agremiações, havia número semelhante de pessoas assistindo ao desfile em relação a que, de fato, estava ensaiando.

Novos trabalhos

Se a bateria está mantendo um ritmo há uma década, outros segmentos estão com novidades na Roseira. Um deles é o casal de mestre-sala e porta-bandeira. Desde 2016 na escola, Isabel Casagrande bailará ao lado de Uilian Cesário a partir de 2014. E, para o entrosamento vir rápido, eles estão cada vez mais próximos. “A frequência de ensaios aumentou! A gente até tenta ensaiar mais vezes, mas estamos tentanto, no mínimo, duas ou três vezes na semana. E domingo tem feijoada aqui no Rosas, então, nessa semana, ensaiaremos quatro vezes. Estamos dançando, nos encontrando… e o ritmo vai aumentar até o carnaval”, confirmou Isabel. O parceiro dela preferiu focar no samba-enredo ao falar da importância de tais eventos. “Agora, estamos mais familiarizados com o samba, conseguimos dar corpo para coreografia da pista, focar nas finalizações e segurar o regulamento debaixo do braço, para que a gente não tenha nenhum risco no dia do desfile”, disse.

Sem dramas

Assunto de diversas rodas de discussão no samba paulistano, o novo regulamento para o carnaval 2024 também foi tema de entrevistas. Citando a principal característica dos ritmistas da agremiação, mestre Rafa destacou que as novas regras já estão sendo seguidas pelos comandados. “O samba de 2023 não proporcionava tantas bossas. Nele, fazendo uma análise, se for pegar o samba, era para ser algo mais conservador. Mas a nossa característica é a de fazer muitas bossas, com muita ousadia. É onde a gente acredita em que nos sobressaímos. A melodia daquele samba não proporcionava tudo isso, mas nós fizemos bastante coisa. Já em 2024, é novamente um samba melodioso… mas, não tem jeito: gostamos de fazer isso, é algo que foi criado como nossa identidade, nos tornamos isso de 2017 para cá. É o nosso estilo: bossa atrás de bossa. É isso que dá uma abrilhantada no samba, já que não colocamos nada sem sentido. Fazemos tudo dentro da melodia, não inventamos o que não é para inventar, apenas exploramos o que dá para fazer”, afirmou.

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Ao citar o novo julgamento, Carlos Junior preferiu ser enfático. “Quando se mexe em regulamento em qualquer quesito é para pegar alguém ou alguma escola. Eu não sei quem é a vítima dessa vez, mas alguém vai ser pego, e tomara que não seja o Rosas. Eu vou rezar todo dia para que a gente esteja enquadrado dentro desse item que mudou, mas era isso que o povo também pedia. Mas eu vou tranquilo, não vou preocupado com o que está escrito ou não, a não ser que a diretoria me chame a atenção sobre essa questão. A gente vai alinhado, até porque é uma comissão de carnaval. O dever dessa comissão é está a par de tudo que está escrito nesse regulamento, essa é a minha opinião”, disparou.

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O grau de dificuldade também foi citado pelo casal de mestre-sala e porta-bandeira da escola. “O regulamento está mais desafiador. Ele está pedindo o trabalho individual – e, dessa maneira, os casais ficarão diferentes um do outro. Estávamos habituados a ver na pista coreografias, movimentos de braço e corporais muito parecidos. Agora, com as novas adaptações e exigências, cada casal vai precisar se cobrar mais e fazer um trabalho diferenciado na pista para agradar os jurados”, destacou Uilian. Isabel mostrou mais simpatia ao novo texto. “Eu gostei do novo regulamento. Achei que vai ser desafiador, e alguns pontos que não eram obrigatórios e tinham casais que não faziam (instrumento de mão, largura do pavilhão padronizada) passavam despercebidos porque não estava sendo julgado. Agora, quem não seguir a cartilha não vai ter sucesso. Nós gostamos, para a gente está tranquilo e estamos seguindo tudo certinho”, determinou.

Visando 2024

Para Evandro, o Rosas está cumprindo o cronograma pensado pela escola – e dividido internamente. “A gente tem dois processos diferentes. A gente tem o processo de competição do carnaval, que acontece na Fábrica do Samba, e nesse gente está vendo o vapor. A gente tem uma agenda para cumprir, pretendemos chegar em janeiro para cuidar somente de pista. Nosso cronograma está super dentro do que a gente tinha planejado. Estamos com as alegorias já em fase de finalização, e as fantasias a mesma coisa. Acredito que, dentro do nosso cronograma, no final de dezembro a gente já deve estar encerrando a nossa confecção para o desfile, e aí é cuidar de pista, ensaiar. Graças a Deus está muito legal o nosso projeto”, comentou.

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Já para a fantasia do casal de mestre-sala e porta-bandeira, de acordo com os próprios, o público pode esperar muita beleza. “Já vimos o figurinho, ainda não está pronto. Já tiramos medidas e ainda está tudo em um processo de construção. Podemos falar que é linda, estamos apaixonados pela nossa fantasia. Espero que o pessoal goste, sobretudo os jurados. Estamos encantados”, pontuou Isabel, sendo seguida por Uilian. “Estamos bem felizes e supresos com o presente que o croqui que chegou na nossa mão. Agora, a expectativa é para ver o figurino pronto. Estamos bem confiantes e seguros, já que estamos na mão de um bom ateliê”, finalizou.