Na última semana, o vídeo de Mayara Lima, princesa de bateria da Paraíso do Tuiuti, viralizou nas redes sociais por conta da sincronia que a musa possui com os ritmistas da escola. No último domingo (20), a beldade encantou o público, mais uma vez, ao desfilar, debaixo de muita chuva, à frente da bateria durante o ensaio técnico na Marquês da Sapucaí. A repercussão foi tão grande que muitas pessoas se perguntaram porque Mayara era princesa e não rainha. Ela, que é da comunidade, começou como passista desde muito cedo, tem samba no pé e esbanja carisma. Porém, no Tuiuti, quem ocupa o posto de rainha é a empresária e cirurgiã dentista, Thay Magalhães.

A representatividade se faz necessária no carnaval, afinal, não é possível falar em escola de samba sem pensar em sua comunidade, já que, em suas origens, o samba nasceu da luta do povo negro, pobre e marginalizado. Para o próximo carnaval, das 12 escolas que desfilam no Grupo Especial, apenas quatro possuem rainhas com raízes fincadas em suas comunidades, são elas: Bianca Monteiro, na Portela, Evelyn Bastos, na Mangueira, Raíssa Oliveira, na Beija-Flor e Raphaela Gomes, na São Clemente. Porém, a representatividade não se resume apenas ao cargo de rainha de bateria, as musas e passistas que se destacam dentro do carnaval fazem com que milhares de meninas possam sonhar em brilhar pela sua escola do coração.

Mais do que uma sambista, Dandara Oliveira é uma figura extremamente importante para o samba, são mais de 25 anos dedicados ao samba, todos eles desfilando pela Vila Isabel, a musa conta que o domínio da arte de sambar não é para qualquer pessoa, é preciso muita dedicação, disposição e amor.

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Foto: Divulgação/Liesa

“Boa parte é dom, gente que é da comunidade, aprende desde criança visualizando desde cedo, mas dá pra aprender, não como o nosso, mas dá, o samba tem suas características, seus passos principais, mas acho que cada um tem o seu, principalmente o sentimento, aquele que a gente ouve a bateria, ouve o intérprete e sente, ouvir o samba, se apaixonar e deixar levar”, conta a musa.

Ao longos dos anos, a sociedade se modificou, e consequentemente o samba sofreu com essas mudanças, o carnaval ganhou ares de espetáculo e isso refletiu no lado comercial, Dandara acredita que a participação do morro no dia a dia das escolas de samba diminuiu e em contrapartida, o asfalto ganhou mais espaço.

“O samba modificou, quando eu comecei há 25 anos atrás, o samba era diferente, a comunidade participava mais, a gente tinha o asfalto, mas era em proporção menor, hoje em dia em algumas escolas tem muito mais asfalto que morro, então as escolas vão se modificando, mas quando você tem amor, pouco importa se você é do morro ou do asfalto, se mora na zul ou não. Mas não podemos esquecer quem fez tudo isso acontecer, que foi o morro e comunidade”, ressalta Dandara.

A musa, que em 2018 desfilou à frente da bateria ao lado de Sabrina Sato, fala sobre essa experiência e sobre o sonho de muitas meninas que almejam chegar nesse lugar: “Hoje em dia, graças a Deus, nós estamos vendo mais rainhas da comunidade do que há uns seis, sete anos, mas ainda é triste olhar pra isso, eu sou de comunidade e já tive a oportunidade de vir na frente da bateria junto com a Sabrina, é uma experiência maravilhosa, sei que é o sonho de 90% das meninas que sambam numa ala de passistas, elas tem o sonho de ser rainha, de ser musa”, explica a sambista.

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Foto: Divulgação/Liesa

Rainha da Mangueira desde 2014, Evelyn Bastos carrega a missão de representar todas as mulheres periféricas, quando uma menina vê que mulheres da comunidade estão ocupando postos de destaque dentro das escolas de samba, ela percebe que o sonho dela está mais próximo. Evelyn usa o espaço que tem para servir de inspiração para toda uma geração que a acompanha de perto em sua comunidade. Sobre o samba no pé, Evelyn acredita que sempre é possível aprender, mas o DNA do sambista faz toda diferença.

“Aqui a gente conta um pouco da nossa história, então a gente canta a dança favelada, a dança do subúrbio, o carnaval é isso, se tem um corpo que pode mostrar muito samba e muita resistência, esse corpo é o da mulher preta!”, destaca a rainha.

Destaque na segunda noite de ensaios técnicos no templo sagrado do carnaval, Mayara Lima tem 24 anos e desfila pelo Paraíso do Tuiuti desde 2011, quando a escola ainda fazia parte da terceira divisão do Carnaval carioca. Ela começou no mundo do samba na Aprendizes do Salgueiro, com 10 anos de idade. Lá, chegou a integrar a ala de passistas do Salgueiro, sob o comando de Carlinhos Salgueiro. No Tuiuti ela já foi passista e musa, até ser alçada ao posto de princesa da bateria. Mayara é professora de samba e acredita que qualquer um pode aprender a sambar.

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Foto: Allan Duffes

“Acho que é um pouquinho dos dois, tem gente que nasce com o dom, mas tem gente que pode aprender também. Costumo dizer que cada samba tem sua personalidade, aprendendo a técnica e colocando personalidade cada um constrói o seu próprio jeito de sambar”, comenta a sambista.

Fazer Carnaval em meio à crise não é fácil para nenhuma escola de samba, e como dito por Dandara acima, nos últimos anos as escolas de samba se afastaram um pouco de suas origens e isso se refletiu no cargo mais cobiçado do carnaval, o de rainha da bateria, alguns dirigentes viram nesse cargo uma oportunidade de arrecadar dinheiro para a escola, sobre isso Mayara tem a seguinte opinião: “o cargo hoje em dia é elitizado, eu acho que esse é a maior motivo de não ter muitas rainhas de comunidade no cargo”.

No último domingo Mayara foi ovacionada pelo público durante toda sua passagem pela avenida, a princesa se emocionou com tanto carinho e repetiu sua famosa “dancinha” com os integrantes da bateria de Mestre Marcão. “Tô muito feliz, de verdade, eu não imaginava que ia acontecer isso, chorei do início ao fim, tô muito emocionada e com muita gratidão no meu coração”, disse Mayara.

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