Há quem diga que os desfiles se iniciam a partir do momento em que a primeira escola pisa na avenida. Entretanto, na passarela Marcelo Sena, situado no Eixo Cultural, no Distrito Federal, na noite desta quinta-feira, foi presenciado um lindo ritual de axé, mães de santos, homenagens, e, acima de tudo, aquela emoção de sambista que todos nós conhecemos. Imagina um amante do carnaval como a gente ficar sem os desfiles por nove anos? Tendo que ensaiar ao menos por amor e fazer eventos esporádicos com a esperança da volta do tão sonhado evento. Foi o que aconteceu em Brasília. Milton Cunha comanda transmissão dos desfiles nesta sexta e no sábado, no canal do CARNAVALESCO, no YouTube.
A comoção é tanta que algumas personalidades de renome do meio estão viajando para prestigiar, bem como a rainha do carnaval de São Paulo, Rhawane Izidoro e o também Rei Momo paulistano, Robério Theodoro. Além de outras personalidades cariocas como Wantuir e mestre Dinho, diretor de bateria da Unidos de Padre Miguel.
Como dito anteriormente, algumas homenagens foram feitas na abertura. Houve discurso do presidente da União das Escolas de Samba e Blocos de Enredo de Brasília (Uniesb), da subsecretária de Difusão e Diversidade Cultural, Sol Montes e também de Bartolomeu Rodrigues, que é secretário da Cultura e Economia Criativa (Secec).
Líderes e casais de mestre-sala e porta-bandeira de algumas escolas também estiveram presentes. Para fechar o ato, houve uma cerimônia de homenagem aos saudosos Edmilson, antigo Rei Momo, Júlio, antigo cantor, e Marcelo Sena, que foi intérprete e sua principal honra é ter o local dos desfiles oficializado com o seu nome.
Batalha pela volta dos desfiles
Sol Montes, subsecretária da Difusão e Diversidade Cultural, foi uma das precursoras responsáveis por batalhar e lutar pela volta dos desfiles. Ela se disse emocionada e mencionou o quão importante é o carnaval brasiliense. “A volta significa principalmente colocar as escolas de samba de volta no lugar que elas merecem nessa cidade. Elas são a primeira manifestação cultural de Brasília. Elas não poderiam ser renegadas e ter sido enterradas como elas foram. Precisam ser reconhecidas pelo estado como uma grande cultura e identidade do Distrito Federal”, declarou.
A subsecretária falou sobre a questão do engajamento do Carnaval de Brasília, que pessoas do Brasil inteiro estão chegando na cidade para prestigiar o evento. “Eu fico muito feliz com o reconhecimento e o respeito de outros estados, principalmente os que fazem samba, porque o nosso esforço aqui foi muito grande para que a gente chegasse até aqui. Esse reconhecimento é muito gratificante e especial pelo reconhecimento pelo que estamos fazendo”, contou.
O secretário Bartolomeu Rodrigues foi na linha da Sol e se mostrou emocionado. Também disse das lutas e dificuldades que tiveram de enfrentar e, ainda assim, quer que Brasília sirva de exemplo para outros carnavais. “Toda vez que a gente vê um esforço tão grande materializado é impossível não se emocionar. A gente estava nessa luta há mais de dois anos. nós estivemos junto com todas as agremiações em Brasília lutando para que isso acontecesse. Não foi fácil. Como sempre acontece no samba, as coisas não vêm com facilidade. Mas estamos aí com essa festa maravilhosa para oferecer e a gente espera inclusive para outros estados. Não deixar o samba morrer e não acabar com essa tradição”, disse.
Sobre personalidades chegando do Brasil inteiro, Bartolomeu revelou que estava fazendo um intercâmbio com escolas fora de Brasília e o investimento também pesou para isso. “Eu acho que isso reflete o tamanho do nosso trabalho. Estávamos fazendo em silêncio, mas sendo observados. O mais importante é que a gente estava procurando experiência com outras agremiações de fora. Não estamos fazendo coisa isolada. O Milton Cunha é um exemplo disso. Isso aqui na verdade é um grande investimento para Brasília e para o Brasil”, completou.
A corte do carnaval
Rainha do Carnaval, Rei Momo e princesa. Em Brasília também se segue as tradições de Rio e São Paulo. A corte sempre é sinônimo de sucesso. Foi feito um concurso com diversas passistas para definir a rainha e princesa, além do Rei Momo. A escolha foi através de jurados e alguns participantes de órgão público.
“É muito emocionante isso aqui hoje. No último desfile eu era criança e agora eu volto como rainha. É muito emocionante. O Carnaval de Brasília está tendo um reconhecimento que sempre mereceu. Agora é força total. Eu estou achando incrível esse sambódromo. Foi menos de um mês para montar uma estrutura incrível em tão pouco tempo”, comentou a rainha Laissa Nayline.
O Rei Momo Alexandre disse que o seu ganho de peso fez com que ele voltasse ao samba. “É uma emoção indescritível de falar, porque no Carnaval de 2014 eu era diretor de bateria da ARUC. Eu sou movido ao samba. Eu era magro, só que me convenceram a voltar acima do peso e virei Rei Momo”.
Alexandre exaltou o carnaval brasiliense. Bastante empolgado, o personagem disse que os desfiles da cidade podem alcançar o eixo. “Ainda não dá para nivelar Brasília com Rio e São Paulo, mas estamos exportando músicos. Já estamos em um patamar elevado. Vamos chegar lá”.
O benzimento foi feito após músicas cantadas para Exú e outros orixás. Diretamente ligadas ao samba, Alexandre ressaltou como isso pode afastar a negatividade. “A importância desse evento é importante para mim é muito importante. Eu sou de religião de matriz africana. É bom para espantar coisas que não foram bem decididas. As sujeiras dos carnavais que não teve, vamos passar com água de cheiro e entregar muita luz e prosperidade”, completou.
A princesa do carnaval, Bia Alexia, também contou a sensação de estar nesse início de carnaval e como enxerga a questão dos visitantes de outros estados. “É uma emoção sem igual pisar na avenida e fazer tudo aquilo que a gente ensaia e acredita pela nossa cultura. Acredito que a gente vê tudo acontecendo em todos os outros estados, mas é um grande privilégio os ter aqui com a gente”
“Essa lavagem é um momento de início, de limpeza e começar esse novo processo. Realmente é o momento de mostrar a nossa força”, finalizou.