A ligação entre escolas de samba e torcidas organizadas sempre gerou polêmica no carnaval do Rio de Janeiro. Felipe Amorim, presidente da Fla Manguaça, e Serginho Aguiar, presidente da  Imperadores Rubro Negros, contaram em entrevista concedida ao site CARNAVALESCO sobre o preconceito que existe com as escolas relacionadas a times de futebol, a influência das escolas de time de São Paulo e suas expectativas para a Botafogo Samba Clube na Sapucaí em 2025.

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Foto: Divulgação/Superliga e Riotur

Felipe reconhece que, embora não tenha enfrentado preconceito de maneira agressiva, ainda existe um olhar diferenciado em relação às escolas de samba ligadas a times de futebol. Ele acredita que essas escolas precisam se esforçar mais para alcançar o mesmo nível de reconhecimento, especialmente por parte da imprensa.

“Eu acho que preconceito, pelo menos eu nunca percebi de forma agressiva. Eu acho que tem um olhar diferente, eu acho que a gente precisa fazer sempre um pouco melhor para ter o mesmo olhar, não digo de jurado, mas de parte da imprensa, eu acho que tem esse peso”, contou Felipe Amorim.

Serginho Aguiar destacou a importância da juventude para a continuidade dessas escolas, porque mesmo que exista um preconceito por parte de pessoas mais conservadoras no Carnaval, a integração das cores e paixões dos times de futebol ajuda a atrair um público mais jovem. Além disso, iniciativas como o ‘encontro das paixões’ durante a pandemia mostram que é possível criar um ambiente de harmonia e cooperação entre as diferentes torcidas dentro do carnaval.

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Fotos: Maria Clara Marcelo/CARNAVALESCO

“Existe um preconceito com pessoas mais antigas no carnaval. Se você for fazer uma enquete, as pessoas têm uma visão e se preocupam muito com as coisas que acontecem em São Paulo. Eu sou precursor da questão das escolas de samba com referência à time de futebol, que eu particularmente não tenho relação direta com o Flamengo, eu sou as cores, sou a paixão pelo Flamengo, mas o meu mestre de bateria é vascaíno, tenho passistas tricolores, meu diretor de marketing é botafoguense.Não deixo de forma alguma essa rivalidade de arquibancada chegar no carnaval. Logo no início, tem três anos, nós fizemos o encontro das paixões, era Guerreiros Tricolores, Botafogo Samba Clube, União Cruzmaltina na época e a gente, foi uma época da pandemia, foram as lives e a gente deu uma amenizada na situação. Mas se você for para um dirigente antigo, ele vai falar que sai briga, sai porrada, essas coisas assim. Agora, o carnaval necessita de juventude, porque se você reparar, o carnaval é frequentado com pessoas de 35 anos para cima. Quando você traz as cores do Flamengo, traz as cores do Botafogo, do Vasco, do Fluminense, você traz o jovem que acompanha desde criança a questão do futebol. E é uma instituição que você, às vezes você não tem acesso ao jogador, mas você tem acesso à porta-bandeira, pode sair naquela bateria. A gente que administra as escolas, de forma alguma a gente deixa esse clima, ele existe porque nós temos um outro público que pode vir somar com o público do Carnaval. Por isso que aparece assim, para as pessoas que têm a cabeça mais antiga, têm um pensamento mais conservador”, destacou Serginho.

Quando questionados se as escolas de samba ligadas a times de futebol de São Paulo eram referências para eles, Felipe Amorim e Serginho Aguiar reconhecem que essas escolas são referências por conta da organização e estrutura, mas também levam em consideração que lá a rivalidade entre elas é maior.

Felipe Amorim destacou a importância dessas escolas e a necessidade de aprender com sua organização e estrutura: “Eu acho que eles têm uma importância grande no carnaval e acho que a gente tem que olhar muito a organização e estrutura como escola deles. Eu busco esse olhar”.

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Serginho Aguiar complementou comentando sobre a aceitação e a rivalidade dentro das escolas: “Te dou um exemplo, uma vez no ensaio chegou um garoto com a camisa do Vasco, aí vieram trazer ele me perguntando se ele podia ficar com a camisa do Vasco lá, eu falei que podia. Já em São Paulo, que são escolas muito mais antigas, já tem uma tradição nesse segmento, existe uma rivalidade. Mas só que lá em São Paulo é outro carnaval, aqui é no Rio de Janeiro. Tem rivalidade de time de futebol legal, mas tem escolas de samba que é de contravenção, tem escolas de samba que é de comunidade.Por que não pode ter uma escola de samba que é de time de futebol? Por aqui, isso não aconteceu ainda, e nem vai acontecer, com certeza”.

Quando questionado se alguém poderia entrar com a camisa de outro time na quadra da Fla Manguaça, Felipe Amorim respondeu que o respeito pelo espaço e pela comunidade é fundamental, e que todos são bem-vindos, independentemente do time que apoiam:

“Problema nenhum, se for dia de evento da escola de samba, não tem problema nenhum, desde que respeite o espaço. A nossa intérprete, a Júlia, ela é Vasco e não tem problema nenhum, está com a gente há três anos e é super bem recebida, bem tratada. Então, acho que desde que a pessoa vá para lá, sabendo aonde está indo e respeitando, ela vai ser tratada como outro qualquer que esteja lá”.

Sobre as expectativas para a Botafogo Samba Clube na Sapucaí em 2025, Serginho Aguiar comentou da importância do apoio entre as escolas e o impacto significativo que a participação da Botafogo Samba Clube pode ter no cenário do carnaval.

“A Botafogo, o presidente é meu amigo, inclusive, eu que fui um padrinho dele de colocar ele na Botafogo. A gente tem uma relação muito boa, eu frequento a Botafogo, eles frequentam a Imperadores. E eles fizeram agora uma inscrição de fantasia, deu 9 mil pessoas. Daí você tira que não vão desfilar 9 mil, vai desfilar 2 mil. E esses 9 mil vão vir pra somar financeiramente com a compra de ingresso, com a presença nos ensaios, a presença no desfile. Aí sim, a gente vai ser o termômetro do que vai acontecer com essa estreia da Botafogo lá em cima. Como é que vai ser o peso e medida disso”, comentou Serginho Aguiar.

Felipe destaca a amizade e o respeito que tem pelo presidente da Botafogo Samba Clube, Sandro, e a importância do desempenho da nova escola para a imagem e reputação das escolas de samba ligadas a times de futebol: “Eu acho que é muito importante, eu acho que muitas pessoas vieram provocar, mas o Sandro, que é o presidente da escola, é um dos meus maiores amigos que eu tenho no carnaval. E, tanto que quando teve o resultado, fui o primeiro a levantar, abraçar ele e eu falei para ele, a responsabilidade agora é dele. Se ele fizer besteira lá, a gente vai pagar aqui”.