O Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF) e a Prefeitura do Rio de Janeiro organizaram o debate “Cultura Popular, Economias Criativas e Desenvolvimento Local”, na noite de quinta-feira, com presença de representantes de festas populares latino-americanas, no Palácio da Cidade. Os membros da mesa falaram sobre o impacto de festas como o carnaval para o desenvolvimento econômico-social do país e a formação de identidade nacional. O vice-prefeito do Rio de Janeiro, Nilton Caldeira, deu início ao evento celebrando a abertura de diálogo entre a Cidade Maravilhosa, o CAF e toda América Latina e apresentando um panorama do carnaval na cidade. O prefeito Eduardo Paes não pôde estar presente na reunião.

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Fotos: Matheus Vinícius/CARNAVALESCO

“A cidade do Rio recebe 5 milhões de pessoas para viver o carnaval. O impacto econômico para a nossa cidade é de R$ 4 bilhões. Turismo, Economia, Orgulho e Diversidade são os principais pilares dessa festa. São mais 46 mil trabalhadores, entre servidores, ambulantes e equipes de Sambódromo, envolvidos, além de 15 órgãos da prefeitura atuando diretamente com a Comlurb e a Guarda Municipal. Para além da época da festa, durante todo ano, dentro e fora do país, existem atividades com trabalhadores envolvidos em fantasias e alegorias dentro dos barracões, apresentações do nosso carnaval no exterior, como em Londres e Nice, que proporcionam viagens e custeio para o pessoal das escolas de samba; e toda uma estrutura educacional desde a música e adereços até oficinas para as criança de toda comunidade”, discursou Nilton Caldeira.

O evento contou com o painel “Gestores, Governos e Bancos de Desenvolvimento” em que líderes de diferentes festas populares latino-americanas demonstraram o impacto do investimento em cultura. Estiveram presentes Rafaela Bastos, presidente da Fundação João Goulart, a gerente do Carnaval de Baranquilla, Sandra Gómez, o presidente do júri do Carnaval de Montevidéu, Ramiro Pallares, a vice-ministra da Cultura da Argentina Lucrecia Cardoso, o ministro de Economia e Finanças de Barbados Ryan Straughn e Luciane Gorgulho, chefe de Departamento de Desenvolvimento Urbano, Patrimônio e Turismo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

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Cria da Estação Primeira de Mangueira, a gestora pública e geógrafa Rafaela Bastos preside a Fundação João Goulart, instituto municipal responsável por criar estratégias para melhorar as políticas públicas para a população carioca. Rafaela ressaltou durante sua fala a importância de marcar o Carnaval enquanto política pública e um produto produzido por pessoas de regiões mais vulneráveis.

“Para nós pensarmos no Carnaval do Rio de Janeiro, nós temos que territorializar a informação. Entender o Carnaval, imaginá-lo com vetor da economia criativa e tê-lo como exemplo para a economia criativa é assertivo, porque eu entendo que o Carnaval também se produz e se expressa, inclusive economicamente, de maneira sistêmica. Especificamente no Carnaval, tem que pensar em tempo, ou seja, a origem das coisas, como a gente faz essa produção de conhecimento e saberes, onde fazemos, ou seja, onde se faz samba, onde se faz carnaval, quais territórios e em quais condições. O carnaval deve ser entendido como política pública, porque, na cidade do Rio de Janeiro, o desenvolvimento dele acontece em territórios vulneráveis. É também desenvolvimento humano. Isso é extremamente relevante porque, além de produzir uma cadeia produtiva com potência econômica, tem a confirmação de uma cadeia produtiva de valor, no melhor significado da
palavra, e tem também o melhor significado para a palavra ‘economia’ – a integração dos recursos que são finitos e escassos e tem a capacidade de desenvolver pessoas, serviços e territórios produzindo bem-estar social.”, destacou a presidente da Fundação João Goulart.

Durante o debate, Luciane Gorgulho, do BNDES, demarcou a relevância da economia criativa para ao Brasil e a contribuição positiva do Rio de Janeiro nos números:

“Os últimos números que temos do Brasil é que a Economia Criativa representa 2,9% do PIB e emprega quase 1 milhão de profissionais com carteira assinada. No Rio de Janeiro, como não poderia deixar de ser, a economia criativa representa 4,8% do PIB, acima inclusive de São Paulo, o que mostra a contribuição do Carnaval, das festas populares e de outras atividades culturais representam para a cidade do Rio de Janeiro”, informou Luciane.

O secretário de Desenvolvimento Urbano e Econômico do município do Rio de Janeiro Chicão Bulhões esteve presente no evento e conversou com o site CARNAVALESCO sobre o investimento da cidade no Carnaval a partir dos dados coletados no relatório “Carnaval de Dados”.

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“A primeira coisa que nós fizemos foi jogar luz sobre esse tema, com a Rafaela [Bastos] disse. O Carnaval do Rio, instintivamente, era importante, mas quando colocamos em dados mostrando que movimenta R$ 4,5 bilhões, 45 mil trabalhadores e movimenta uma arrecadação importante para a Prefeitura, obviamente a situação muda de figura. A gente passa a mostrar os dados que sustentam a importância do Carnaval para a economia do Rio. E agora temos uma nova economia do conteúdo e acredito que cada vez mais a economia criativa será central nessa nova forma de interação no dia a dia da economia”, disse o secretário.

O subsecretário de Desenvolvimento Econômico e Inovação, na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico, Marcel Balassiano acrescentou que o Carnaval vai além dos números e do retorno financeiro e comentou sobre as expectativas para 2024.

“O Carnaval é cultura, festa, evento, mas é sempre importante lembrar que também movimenta economia e é desenvolvimento econômico. Obviamente este não é o principal pilar. Se não houvesse nenhum retorno econômico, por si só, pela sua ancestralidade, o Carnaval teria que existir. Mas, além disso, movimenta bilhões de reais para a economia, gera milhares de empregos. É muito importante isso ser ressaltado, principalmente, para as pessoas que por algum motivo não gostam, destratam ou falam mal do Carnaval. Tem que mostrar que fevereiro é quando a cidade mais arrecada imposto em Turismo. A expectativa para 2024 é a melhor possível. Nós passamos por esse período complicado da pandemia, mas agora é só crescente. 2023 já foi um ano que voltou a ter o Réveillon normal e o Carnaval na sua data original. O Carnaval 2024 já começa depois do Réveillon com o começo dos ensaios técnicos, fora que os ensaios de rua já começaram”, declarou o subsecretário.

Carnavais em outros países

Além do carnaval carioca, o debate abordou festas populares e carnavais de Montevidéu (Uruguai), Barbados, Argentina e Baranquilla (Colômbia). O ministro de Economia e Finanças de Barbados Ryan Straughn ressaltou a importância de apresentar o festival da colheita, por exemplo, para as novas gerações e promover esse aprendizado.

“É muito importante expor nossas crianças e nossos jovens à cultura. Nós patrocinamos iniciativas para jovens para que possamos levar a nossa cultura para as próximas gerações. A partir do festival da colheita, vemos o desenvolvimento dos jovens, não só na área da música, mas na área da tecnologia também.”, informou o ministro.

Já a gerente do Carnaval de Baranquilla Sandra Gómez falou mais sobre a identificação da cidade e do país e como isso é traduzido no orgulho de ser “carnavalero”.

“Estamos muito orgulhosos de comemorar 20 anos de Patrimônio Imaterial da Unesco. Precisamos de alianças com outras festas e outros carnavais, como o do Rio. Queremos mais que quatro dias de Carnaval, queremos incentivar o pré-carnaval e mais datas ao longo do ano. Temos muito orgulhoso de sermos ‘carnavaleros’. É muito importante que nossas danças representem nossa identidade e ultrapassem os limites da Colômbia”,  comentou Sandra Gómez.

Ao falar sobre o carnaval que dura 40 dias, o presidente do júri do Carnaval de Montevidéu Ramiro Pallares descreveu melhor a festa e relembrou a pandemia.

“O carnaval de Montevidéu tem um componente de artes cênicas e atualmente nós temos 30 palcos pela cidade, com o concurso oficial. Durantes os anos foram crescendo os agrupamentos. Quando tivemos a pandemia, tivemos que parar o carnaval e não tínhamos subsídios para ajudar os nossos artistas.”, disse o presidente do júri.

A vice-ministra da Cultura da Argentina Lucrécia Cardoso ressaltou a importância de uma política interseccional entre Ministério da Cultura e Ministério do Turismo para alavancar as festas populares.

“Mais de mil cidades da Argentina tem festas populares e isso dá um panorama da economia criativa. Existe uma política pública de apoio aos festivais. Existe um trabalho interseccional entre o Ministério da Cultura e o Ministério do Turismo. Isso gera inclusão humana”, expôs Lucrécia Cardoso.

O evento se encerrou com a exibição da bateria da Mangueira e casal de mestre-sala e porta-bandeira. Além disso, os convidados puderam observar a exposição “O Carnaval que ninguém vê: o encanto da arte fotográfica na Sapucaí”, do fotógrafo Riccardo Giovanni.