Na noite deste sábado, os Gaviões da Fiel realizaram o seu primeiro ensaio técnico rumo ao carnaval de 2023. O destaque principal fica para o casal de mestre-sala e porta-bandeira, que não se intimidaram com a chuva. O tempo ficou dessa forma ao decorrer do treino, mas a dupla surpreendentemente não sentiu o peso do pavilhão após cair tanta água. Vale ressaltar o canto das alas que lá estiveram. Os componentes conseguiram pegar o samba. Deu para notar o volume do canto, mesmo com um contingente pequeno. A comissão de frente, que teve uma coreografia criativa, também atraiu olhares. Claro que não se pode deixar de fora a grande festa que a torcida da agremiação fez. Houve muitos fogos e sinalizadores na entrada da avenida. O enredo dos Gaviões da Fiel para 2023 é intitulado de “Em Nome do Pai, dos Filhos, dos Espíritos e dos Santos… Amém!”.
Comissão de frente
A ala desfilou com uma coreografia um tanto criativa. Ao passar dos anos, é sabido que este quesito é um dos maiores da agremiação alvinegra. Talvez a principal chave. Comandada pelo profissional Sérgio Cardoso, a comissão de frente dos Gaviões da Fiel mostrou um repertório curioso, visto que levava uma espécie de guerreiros vestidos de pretos e com um adereço de cabeça simbolizando um gavião. Todos eram homens. Além disso, haviam mulheres vestidas com saias coloridas de ciganas. O contexto da coreografia é difícil de entender. Talvez haja mais repertório a se mostrar no próximo ensaio. Porém, na primeira impressão, aparentemente é a religião ‘curando’ os seres humanos.
Harmonia
A escola chegou ao ensaio com um contingente pequeno. Porém, mesmo com as alas que estiveram presentes, deu para ver uma comunidade bem entrosada com hino para 2023. Nos últimos anos, os alvinegros tem tido muita dificuldade em fazer os seus componentes cantarem de forma correta e explícita. Entretanto, neste ensaio, mostrou que a comunidade tem sinergia com o samba, principalmente no refrão principal. O “amém meu coração corinthiano” empolgou os integrantes dentro do treino. Vale destacar a última ala que ensaiou antes da segunda marcação de alegoria (a escola não colocou nome e número).
O diretor de harmonia, Alexander dos Santos, avaliou o treino. “A gente gostou muito, ficamos satisfeitos, o público veio e a escola balançou. Acho que funcionou muito a ideia da compactação que a gente tinha. É bom que por ser o primeiro ensaio, os pequenos ajustes a gente consegue montar para o segundo e vir muito forte. O samba funcionou, os dois refrões trabalharam do jeito que a gente queria e a parte do ‘era Cristo ou Oxalá?” pegou demais. A gente precisava de uma resposta. São pequenos ajustes que um primeiro ensaio nos traz. É a primeira vez que a gente trabalha juntos”, declarou.
Na questão do número menor de componentes, o diretor revelou que será uma estratégia para os próximos anos.” A gente vai enxergar os Gaviões muito apertado. Provavelmente a escola vem mais curta. É uma filosofia que a gente está tentando implementar. Nos outros anos vai ter essa sensação de uma escola mais justa. Não vai ter oscilação de velocidade, buraco entre as alas. É uma estratégia que vamos levar para o desfile”, revelou.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O casal Wagner Lima e Gabriela Mondijan pegaram uma complicada chuva durante o treino. É sabido que este quesito é o mais complicado para enfrentar esse tipo de tempo. O pavilhão pesa e o calçado fica escorregadio. Porém, para a dupla, nem parece que choveu. Eles passearam na pista do Anhembi com facilidade. A jovem porta-bandeira e o experiente mestre-sala realizaram muito bem os atributos necessários para conquistar a nota. A coreografia foi bem executada do início ao fim. Wagner Lima estava tão solto que chegou até mandar beijos e interagir diretamente com a arquibancada. Grande ensaio dessa dupla que foi nota 40 em 2022 e vem crescendo cada vez mais.
“Na verdade, a chuva atrapalhou coisa mínima o nosso desempenho. Eu estava com um pouco de medo por isso, mas graças a Deus a gente veio muito bem. Fizemos o que estamos ensaiando. Viemos bem demais. O Wagner sabe que eu sou muito chata comigo mesma, mas a gente foi demais”, disse a porta-bandeira.
“A gente tirou do papel e colocou em prática na pista. A coreografia encaixou, mas sempre tem algumas coisas a se fazer. A gente é muito criterioso, mas de 10, chegamos a 9.8, porque eu sou muito chato. O pavilhão pede”, completou o mestre-sala.
Evolução
Esse é o grande ponto negativo da escola. Por faltar componentes, não há tanto repertório a se observar. Evolui muito ‘engessada’ e pragmática. A única coisa que se tem de “diferente” é que as alas da comunidade evoluíram pela pista dançando em três passos de um lado para o outro. Porém, o que deve importar para o departamento de harmonia é que não houve erros. Mas também existem os seus contras em desfilar com uma minoria.
Samba-Enredo
É uma obra que cresceu muito na comunidade. Como dito anteriormente, os Gaviões da Fiel já sofreram bastante para ajustar o canto. Porém esse ano deve ser diferente. O longevo Ernesto Teixeira está conduzindo o hino de forma totalmente satisfatória. O último verso, onde se canta “Nos braços do criador… Era Cristo ou Oxalá?” se emenda com o refrão principal e causa um impacto forte nos componentes. Isso é fruto do trabalho de mestre Ciro também, que faz uma parada seca e volta no primeiro verso do refrão citado.
“Da posição que a gente veio na avenida, só conseguimos avaliar a empolgação das pessoas. É todo mundo passando por nós, principalmente quando a bateria passa no box. Todo mundo canta o samba, e isso é fundamental. A arquibancada está muito empolgada e gera uma expectativa muito boa. Os outros detalhes nós vamos ver nas reuniões dos próximos dias para avaliar a Evolução direitinho e o desenvolvimento da escola como um todo”, analisou o intérprete Ernesto Teixeira.
O cantor ainda falou da sua parte favorita do samba. “A gente canta o samba como um todo, mas é óbvio que, como corinthiano, o verso é ‘amém meu coração corinthiano’. A gente vem falando de todas as religiões, que todas elas são bons caminhos para levar à positividade, a um mundo melhor. E o corinthianismo não deixa de ser uma religião porque ela é professada pela fé dessa nação de 30 milhões de torcedores. Nessa hora o coração fala mais alto”, completou.
Outros destaques
A bateria ‘Ritimão’, regida por mestre Ciro, mostrou uma força muito grande nos atabaques, caixas e chocalhos. O diretor optou por marcar o samba e realizar as bossas em alguns momentos, principalmente o ‘breque’ dos últimos versos correlacionado com o refrão principal, como citado acima.
Ciro falou sobre o ensaio. “O desempenho foi legal. A gente curtiu. Veio a chuva inesperada, mas foi bacana. Sobre as bossas, a gente está trabalhando duas bossas em locais diferentes do samba para fazer a performance. Estão bem ensaiadas, dentro do que o samba pede e é isso que a gente enxerga”, avaliou.
Vários adereços de mão foram vistos nas alas.
Colaboraram Fábio Martins, Lucas Sampaio e Will Ferreira