O quesito enredo é um dos mais complexos de se julgar em um desfile de escola de samba. De acordo com o manual do julgador da Liesa divulgado para o desfile de 2024, o enredo “é o conteúdo da narrativa construída sobre um tema, um conceito ou uma história que é apresentada de forma sequencial, por meio de representações iconográficas como elementos cenográficos (alegorias e adereços) e figurinos (fantasias)”. Para julgar é preciso considerar a concepção da temática, que é a argumentação, a clareza da apresentação e a criatividade (não o ineditismo do tema). No subquesito realização, o juri observa a leitura daquilo que foi apresentado na avenida, a sequência correta de alas e alegorias bem como a carnavalização do tema proposto.
A reportagem do CARNAVALESCO observou as notas e justificativas utilizadas por Arthur Gomes, Jhony Soares, Carolina Vieira e Marcelo Filgueira, os quatro responsáveis por julgar enredo em 2024, para traçar um perfil daquilo que eles mais costumam observar para penalizar um desfile. A base de dados estudada vem de 2018 pra cá. No período Arthur e Jhony julgaram cinco vezes, Marcelo três e Carolina entrou em 2022.
Em relação a outros quesitos, enredo é um que não costuma ‘perseguir’ as escolas que desfilam no domingo de carnaval. Das 80 notas 10 aplicadas nos últimos anos pelos jurados de 2024 a distribuição é igual entre as duas noites de Grupo Especial. Foram 40 no domingo e 40 na segunda-feira.
Nenhum jurado de enredo possui índice superior a 50% de notas 10 dadas, o que demonstra que o nível de exigência sobre o quesito é elevado. Arthur, Jhony e Marcelo possuem índices semelhantes de notas máximas, variando entre 42 e 45%. Quem destoa da turma é a novata Carolina Vieira. A julgadora só deu sete notas 10 em 24 possíveis nos dois anos que julgou, índice inferior a 30%. Dessas notas máximas, 72% delas aconteceram na segunda noite. Foram apenas duas notas máximas no domingo de carnaval.
Viradouro com o melhor desempenho, Tuiuti o pior
Se considerarmos apenas as notas aplicadas nos últimos cinco anos pelos jurados de 2024, a Viradouro não perdeu um décimo no quesito na apuração desde que voltou ao Especial em 2019. Ela foi penalizada uma única vez com um 9,9 mas como a nota é descartada, não houve prejuízo. O desempenho é destacadamente o melhor entre as escolas. Imperatriz e Portela são quem mais se aproximam da vermelha e branca. A atual campeã perdeu oito décimos e a Majestade do Samba, cinco.
Por outro lado, o Salgueiro tem sofrido neste quesito. Até os próprios salgueirenses vem admitindo que os enredos apresentados pela escola vem afastando a vermelha e branca das primeiras colocações. Com os jurados de 2024 a Academia perdeu impressionantes 2,1 pontos desde 2018, desconsiderando eventuais descartes de notas. Mas o desempenho mais frágil foi do Tuiuti, que foi penalizado com a perda de 2,5 pontos. Unidos da Tijuca e Mocidade (1,5) além da Beija-Flor (1,2) também precisam melhorar em enredo.
Dificuldades de leitura e erros de conceito dominam justificativas
Entre as justificativas mais apontadas pelos jurados de enredo, a reportagem do CARNAVALESCO encontrou a maioria no subquesito da realização. Uma das mais usadas é sobre a leitura do enredo. A facilidade de compreensão da temática é um fator fundamental para que uma escola de samba alcance a nota máxima neste quesito. Enredos excessivamente complexos que causem dificuldades de entendimento vem sendo penalizados.
Embora não conste do manual do julgador, algumas conceituações presentes nos enredos são alvo de penalizações. Em 2018, por exemplo, o Salgueiro apresentou o enredo ‘Senhoras do Ventre do Mundo’. A narrativa apresentou a força da negritude feminina em setores da sociedade. Um dos jurados do quesito puniu a escola por considerar que havia muitas figuras masculinas em um enredo feminino. Erros históricos também costumam causar perda de décimos.
Outros aspectos abordados pelos julgadores de enredo: realização diferente daquilo que consta no livro abre-alas; conjunto estético irregular causando dificuldades de clareza na apresentação; erros de roteirização e ausência de alas e alegorias no desfile que comprometem a apresentação do enredo.