A série de reportagens ‘De olho nos quesitos‘ se debruça sobre aquele que é o quesito que justifica ser um desfile de escola de samba um grande espetáculo. Quem não se pega embasbacado com uma escultura se movendo como se estivesse viva? Ou com um esmeroso trabalho cenográfico que transforma um chassi de caminhão num autêntico cenário digno de um filme de Hollywood?
Nesta reportagem trazemos o resultado de uma minuciosa análise das notas aplicadas pelos quatro julgadores de alegorias e adereços escolhidos pela Liesa. Todos possuem muita experiência julgando o Grupo Especial. Madson Oliveira julgou os cinco desfiles analisados, Soter Bentes e Walber Freitas avaliaram quatro anos e Fernando Lima está desde 2020.
Mas o que está em julgamento quando uma alegoria passa pela avenida. O quesito é subdividido em dois. Na concepção o jurado avalia a ideia do carnavalesco, a adequação daquela alegoria ou tripé ao enredo, sua beleza estética e na realização aponta eventuais falhas de iluminação, acabamento e se a alegoria de fato está passando na sua frente igual o seu desenho no livro abre-las indica.
As justificativas mais comuns para despontuar uma alegoria em sua imensa maioria trata da parte da realização. Os apontamentos mais comuns pelas justificativas lidas pela equipe do CARNAVALESCO tratam do projeto luminotécnico dos carros, isto é, se passar apagado e o jurado ver é obrigatório o desconto. Além disso os jurados observam com olhos de lince eventuais avarias no acabamento das mesmas e costumam usar binóculos para identificar o que o manual do julgador manda descontar. Dificuldades de leitura (entender a alegoria), volumetria irregular (quando as esculturas estão muito grandes ou muito pequenas), falta de impacto ou criatividade, conjunto irregular (duas alegorias muito bem feitas e as demais capengas) e mecanismos e efeitos sem funcionar, são outros dos motivos bastante apontados pelos julgadores do quesito.
Vila Isabel e Viradouro quase perfeitas. Beija-Flor com somente dois 10
Outrora apontada como a mais opulenta escola da avenida, a Beija-Flor passa por uma crise estética grande nos últimos anos. Apesar do título conquistado em 2018 a Deus da Passarela só recebeu duas notas 10 dos quatro jurados que julgarão este ano, de 2018 pra cá. Foram 16 décimos perdidos em cinco anos. Média de 3,2 décimos a cada desfile. Por outro lado, Vila Isabel (seis décimos) e Viradouro (quatro) são as de melhor desempenho. É forçoso ressaltar, entretanto, que a Viradouro não participou dos cinco desfiles, pois em 2018 figurava na Série Ouro (antiga Série A).
Outras agremiações de grandes torcidas tem perdido muitos décimos em alegorias. Considerando aquelas que desfilaram desde 2018, o Tuiuti é quem mais perdeu, um total de dois pontos; Unidos da Tijuca e Portela perderam 1,8 ponto; Mangueira e Mocidade 1,7 e a Beija-Flor 1,6. A Imperatriz, que em 2020 não estava no Especial, perdeu 1,3 ponto nos quatro desfiles dos quais participou.
Julgador ‘carrasco’ aplica uma nota 10 a cada 13 dadas
Foram dadas 190 notas pelos quatro julgadores de alegorias que estarão na avenida em 2024 avaliando o quesito, de 2018 pra cá. 36% dessas notas foram 10. A discrepância entre as escolas que desfilam no domingo e na segunda fica nítida se comparadas as notas entre elas. 43 dez saíram na segunda (62,3%) e apenas 26 no domingo (37,7%). O dobro.
O jurado Fernando Lima está no corpo de jurados desde 2020. E as escolas sentem calafrios quando Jorge Perlingeiro lê o seu nome na apuração. Ele só deu três notas 10 em seus três anos julgando. Na sua estreia nenhuma escola tirou a nota máxima. Em 2022 apenas uma tirou e ano passado, duas. Isso faz com que ele tenha um índice de 92% de notas abaixo de 10. Um autêntico ‘carrasco’ dos carnavalescos.
Soter Bentes é o mais ‘generoso’. A maioria de suas notas distribuídas é 10. Foram 22 em 38 possíveis, índice de 58%. 64% de suas notas 10 foram dadas para as agremiações que passaram na segunda-feira de carnaval. Visões distintas de um mesmo espetáculo.
Madson Oliveira é o julgador há mais tempo no júri atual de alegorias. Ele costuma pesar a mão também, afinal 40% de suas notas foram apenas 10. Mas ele costuma equilibrar entre as escolas de domingo e segunda. Foram 11 notas máximas para as agremiações da primeira noite e 15 para as da segunda.
Walber Freitas também costuma equilibrar a aplicação de notas 10 entre as duas noites de apresentação. Do júri atual ele é quem tem a menor diferença entre as duas noites. Sete notas 10 no domingo e 11 na segunda, apenas quatro de diferença. Porém ele costuma ser rigoroso no geral. Aplicou apenas 18 notas 10 em 51 possíveis nos quatro anos que julgou, um índice de apenas 35%.