Em um mundo que está lutando cada vez mais por vozes, a rainha de bateria transexual, Camila Prins, da Colorado do Brás, tem uma representatividade imensa em uma comunidade que luta diariamente contra o preconceito. Pois no dia 28 de janeiro, conhecido como Dia Nacional da Visibilidade Trans!, conversamos com a Camila Prins e contamos um pouco sobre sua trajetória no carnaval.

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Fotos: Fábio Martins/Site CARNAVALESCO

Dentro do carnaval, seja paulista, carioca ou de qualquer lugar do Brasil, sempre temos musas, destaques, passistas, componentes, Rei de Bateria, Rei Momo, ou seja, são muitos membros da comunidade LGBTQI+ em diversos setores. É natural no carnaval, e felizmente cada vez ganham mais espaço, assim Camila Prins deu um salto a mais nesta luta e foi coroada Rainha de Bateria.

“Sendo uma mulher trans, conseguir meu espaço de ser rainha de bateria oficial é uma grande honra, uma felicidade. Saber que conquistei meu espaço depois de 23 anos de carnaval, hoje sim, Camila Prins é uma rainha verdadeira”.

O início no carnaval e revelação da sexualidade

No tradicional Camisa Verde e Branco, Camila Prins começou sua trajetória nas escolas de samba. Inicialmente ‘escondida’, como muitos LGBT acabam ficando, principalmente nos tempos mais antigos do carnaval. Para o site CARNAVALESCO, Camila Prins contou sobre seu início no samba.

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“Foi nos anos 2000, pela escola Mocidade Camisa Verde e Branco, onde tive a honra de ser convidada pelo Tito Arantes, grandiosos, que Deus o tenha, que me fez o convite, e foi ali. Mas o carnaval vem da minha infância, através do carnaval, me transformei nessa mulher que sou hoje. Sou do interior de São Paulo, nasci em Leme, mas fui criada em Porto Ferreira. Na minha cidade tem uma brincadeira de homem se vestir de mulher e vice-versa. E aos 12 anos de idade, me vesti pela primeira vez de mulher. Meus familiares e pais disseram: ‘Filho, o carnaval acabou’, e para mim não. Sou essa pessoa que sou, foi onde assumi a minha sexualidade através do carnaval, e hoje sou essa mulher que me sinto incrível e honrada”.

Mas aos poucos, foi crescendo até que chegou a ser madrinha em 2018, assim dando um passo importante para chegar onde está hoje. Foi preciso, claro, dar as caras, e começar a mostrar sua relevância, sua representatividade, seu samba no pé e claro, sua carisma.

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“Comecei como destaque de alegoria, de carro, depois fui para musa, destaque de chão, estive no Rio de Janeiro, mas naquela época era uma musa anônima, não tinha coragem de assumir minha sexualidade, com medo de ser rejeitada. Vinha como uma simples modelo. Como eu moro na Suíça, era um modelo vindo da Suíça desfilar no carnaval e em 2017, eu assumi a sexualidade, quem realmente sou, Camila Prins. Em 2018 tive a honra de vir na bateria Furiosa do Camisa Verde e Branco, agradecida pela Magali Tobias, foi onde ela abriu as portas para minha pessoa. E hoje sou essa rainha”.

A luta e representatividade

Abrindo portas para uma comunidade inteira que luta pelo seu espaço em diversos setores sociais, Camila Prins sabe a importância da sua conquista, não somente pessoal, mas para o meio do carnaval. Vemos sempre na sua passagem pela avenida, muita vibração das arquibancadas, imprensa em si, comunidade reverenciando, um claro recado vindo de todas as partes.

“A minha representatividade é muito grandiosa, além de para mim ser essa grande conquista, para o meu mundo LGBTQI+, para as minhas meninas trans, onde somos apedrejadas todos os dias. Sendo uma mulher que eu sou, aplaudida pelo nosso mundo do samba. Que sabemos como é o mundo do samba, conseguir o respeito deles posso dizer que conquistei. Estou aqui, posso demorar, quero ficar dois, três, até cinco anos, honrando essa coroa, mas vou ter a honra de daqui para frente ter uma menina no meu lugar fazendo todo esse trabalho maravilhoso que eu comecei”.

A vida além do carnaval, também tem samba!

Interligada com o samba, a rainha da Colorado do Brás também tem sua história vinculada fortemente com o carnaval na Europa, o que é muito importante para a construção da Camila Prins como rainha.

“Sou bailarina, moro na Suíça, trabalho em Cabaré fazendo shows, e hoje em dia, com esse cargo, faço mais shows de carnaval, de samba. Fui rainha no maior festival de samba que tem na Europa, e sou madrinha de rainha da Unidos de Lausanne, na Suíça. Há sete anos na frente da bateria, mas na agremiação estou há 15 anos”.

As inspirações e o que representa o carnaval

Toda rainha de bateria tem suas inspirações, o que a Camila Prins planta hoje para as futuras rainhas, foi o que as rainhas dos anos 80, 90, plantaram para sua transformação nos dias atuais.

“Luma de Oliveira e Luiza Brunet, ainda Monique Evans, aquelas rainhas que quando assentava no chão, olhava e dizia ‘meu Deus, que mulheres incríveis’, e hoje me sinto uma delas, sinto uma Luma de Oliveira, como essas grandes inspirações que me tornou essa mulher que sou hoje”.

Sobre como será a rainha Camila Prins: “Me tornei uma personagem eu mesma. Elegante, alegre, sorridente, essa mulher que eu sou”.

Por fim, a rainha da Ritmo Responsa, que é comandada pelo Mestre Allan Meire, comentou sobre o que é o carnaval para ela: “É tudo, é minha alegria, minha inspiração, felicidade, tudo para mim o carnaval. Através do carnaval surgiu essa mulher que eu sou”.

A sua agremiação, Colorado Brás, esteve no Grupo Especial em 2022, a Camila Prins foi Rainha LGBT naquele ano. Em 2023 será a sexta escola a desfilar no domingo, dia 19 de fevereiro, no Grupo de Acesso I.