Por Lucas Sampaio e fotos de Fábio Martins

A Primeira da Cidade Líder realizou na noite de sábado seu desfile no Sambódromo do Anhembi. O conjunto visual formado tanto pelas fantasias quanto pelas alegorias se destacou na apresentação, que teve problemas de evolução na reta final. A Azul e Amarelo da Zona Leste foi a oitava escola a se apresentar pelo Grupo de Acesso 2, fechando os portões aos 49 minutos.

Comissão de Frente

A comissão de frente intitulada “Galeria de Sambistas Imortais” se apresentou dividida em dois grupos em dois atos marcados pelo samba. No primeiro ato, o primeiro grupo, vestido como sambistas representando a comunidade da Portela, fazia passos à frente e cumpria as obrigatoriedades de apresentar a escola e saudar o público, enquanto o segundo grupo, mais atrás, veio vestido cada um de diferentes baluartes portelenses sambando, e quando um deles era citado pela letra do samba, o seu representante ia ao centro. No segundo ato, os baluartes passam à frente junto com o elemento alegórico, um caixote, do qual é retirado um grande pavilhão da Portela desfraldado por eles. Essa bandeira, porém, é virada em dado momento da dança ao passo que uma criança representando Nossa Senhora da Conceição aparece: a outra face do manto portelense se revela como sendo o manto da padroeira da Águia de Madureira. Os atores passam a reverenciar a santa, em um momento que rendeu aplausos do público.

A dança foi marcada pela boa sincronia dos sambistas do primeiro grupo, que não falharam em cumprir seu papel em nenhum dos quatro módulos. O segundo grupo, porém, apresentou uma leve inconsistência na coreografia por parte de um dos baluartes de frente ao módulo 1, problema solucionado diante dos demais jurados. No terceiro módulo, o pavilhão demorou um pouco a ser recolhido para esconder a criança, o que fez ela ficar levemente à mostra antes de entrar no pequeno tripé.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal da Cidade Líder, formado por Fabiano Dourado e Sandra de Jesus, desfilou com fantasias representando “A majestade do samba e a Águia Altaneira”. As roupas da dupla chamaram atenção, sendo a de Fabiano, representando a Águia, vinha com uma iluminação de LED nos olhos e a de Sandra, representando a Portela, vinha com iluminação espalhada por toda a saia, mas sem exageros, ambos dando um belo efeito visual.

O casal conseguir obter um bom desempenho em todos os módulos, cravando os movimentos obrigatórios com elegância. Fabiano se destacou pela irreverência de sua dança, cortejando Sandra sempre com um sorriso no rosto. O desempenho seguro do casal poderá render boas notas para a Cidade Líder.

Enredo

O enredo da Primeira da Cidade Líder em 2024 foi “Salve ela! A Majestade do Samba Portela!”, assinado pelo carnavalesco Ewerton Visotto. A proposta da Líder foi contar a história centenária da escola de samba carioca Portela através de seus baluartes.

A maneira original a qual a Cidade Líder apostou em conseguir resumir grandes momentos da história portelense em tão poucas alas permitiu ao desfile uma leitura agradável e recheada de referências de fácil leitura. As duas alegorias cumpriram seu papel de representar símbolos históricos da Portela, fazendo do conjunto da escola um desfile compreensível para qualquer um que conheça a centenária história da Águia de Madureira.

Alegorias

A Primeira da Líder se apresentou com dois carros alegóricos. O Abre-alas foi nomeado como “O teu azul é o infinito, sob o céu de Madureira a Águia Altaneira, da Padroeira nasce a escola de Samba Portela”, e o segundo carro foi intitulado “Se for falar da Portela, hoje não vou terminar, O samba sempre a florescer em versos aos pés da Jaqueira, Centenário de Emoção”.

O Abre-alas chamou atenção não apenas pela gigantesca escultura de Nossa Senhora da Conceição, como também pelo fato da imponente Águia à frente do carro vir emitindo o clássico grasnido que a homenageada traz em seu símbolo. O segundo carro trouxe um grande pavilhão portelense estampado à frente, com esculturas representando sambistas nas laterais e uma jaqueira no topo da estrutura, que contou com a presença de pessoas convidadas. Ambas as alegorias vieram com bom acabamento e conseguiram ilustrar a proposta do enredo com clareza, contribuindo positivamente para a leitura do enredo.

Fantasias

A Primeira da Cidade Líder apresentou suas alas de uma forma diferenciada. As alas foram nomeadas em homenagem a grandes baluartes da história da Portela, mas cada ala veio apresentando diferentes conjuntos de fantasias simbolizando registros históricos das épocas em que viveram esses grandes portelenses, como a fundação da escola e desfiles marcantes.

A ideia de formar filas de fantasias diferentes dentro da mesma ala permitiu um aumento no número de referências percebidas diante do pequeno contingente da Cidade Líder. A qualidade do acabamento das fantasias chamou atenção, com todas as alas observadas representando bem seus significados. Destaque especial para a fantasia da bateria, que mesmo com mais simplicidade representou o considerado primeiro samba-enredo da história, “Teste ao Samba”, com todos os ritmistas trajando becas.

Harmonia

A comunidade da Primeira da Cidade Líder clamou o samba com vigor em boa parte do desfile. Ao longo dos dois primeiros módulos, a escola apostou em várias bossas com a bateria “Batucada de Primeira”, sempre bem respondidas pelo canto dos componentes. O vigor do segmento, porém, enfraqueceu na parte final do desfile conforme a escola precisou acelerar o passado para conseguir fechar os portões no tempo limite, o que poder ser observado especialmente no quarto módulo.

Samba-enredo

O samba da Cidade Líder é assinado por um elenco de grandes compositores como China da Morada, Portuga, Fábio Souza, Gui Cruz, Vitor Gabriel, Turko entre outros, e defendido pela ala musical liderada pelo intérprete Thiago Melodia. A letra inicia com uma exaltação à Portela, e conforme vai passando os baluartes são apresentados em meio a referências a enredos históricos.

A obra ilustra de forma poética os grandes nomes que marcaram a história da escola carioca, encaixando de forma inteligente cada um deles sem necessariamente se apegar à época aos quais estiveram presentes. A ala musical defendeu a obra com grande eficiência, engrandecendo a apresentação da agremiação da Zona Leste.

Evolução

­O único quesito que destoou dos demais no desfile da Primeira da Cidade Líder. A evolução foi comprometida por um início muito lento, que dificultou a leitura do andamento da escola conforme a apresentação avançava. Restando apenas dez minutos para o encerramento do desfile, a bateria mal havia saído do recuo, o que gerou um receio quanto ao estouro do tempo que fez a escola acelerar muito o passo. A consequência da decisão foi uma correria que causou a abertura de um buraco à frente do segundo carro diante do quarto módulo, que pode gera consequências à escola. No fim, os portões se fecharam aos 49 minutos, restando ainda pouco mais de um minuto para não ultrapassar o limite regulamentar.

Outros Destaques

À frente da bateria “Batucada de Primeira” reinaram soberanos a Rainha Amanda Martins e o Rei Robson Sambista. Os ritmistas da Cidade Líder, comandados pelo mestre Alê, fizeram grande apresentação dominada por várias bossas diferentes em sequência, demonstrando confiança e levantando o público por onde passou.