Fim do mistério e das especulações. De autoria dos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora, em parceria com a pesquisadora convidada Rafa Bqueer, o enredo de 2025 da Acadêmicos do Grande Rio propõe um mergulho nas águas amazônicas e uma jornada mística que mistura palácios, pajelanças, incensos, igarapés, Encantarias e terreiros de Tambor de Mina. Tudo isso perfumado com ervas e conduzido pelo som inconfundível de maracas e tambores.

Foto: Vitor Souza Lima/Divulgação Grande Rio

“O Carimbó está em tudo. É uma síntese cultural muito poderosa, assim como o Tambor de Mina e a Pajelança Cabocla. É uma mistura fascinante. As Belas Turcas são as mais queridas entidades da Mina paraense, influenciando o cotidiano das pessoas (tanto que a gente vê os nomes delas nas bancas de ervas e banhos de cheiro) e sendo traduzidas em letras de Carimbós. Os tambores do Carimbó são os Curimbós, que possuem nomes próprios e expressam a voz dos Encantados. Os tambores têm alma. O enredo costura isso e viaja pelo mundo do Encante, que não está ligado à morte. Quem se encanta não morreu, mas entrou em um portal e acessou um plano que coexiste com o nosso, um espelho invertido. O encantamento norteia a vida, em busca da cura. Já fomos ao espaço sideral e agora vamos ao fundo das águas!”, explica o artista Gabriel Haddad.

Para Leonardo Bora, o enredo dá sequência às propostas criativas anteriores, destacando uma letra em específico: “As Princesas são madrinhas e protetoras de Mestres e Mestras. Falamos de realezas. Quando nos deparamos com uma composição inédita de Dona Onete, “Quatro Contas”, entendemos que o fio do enredo estava ali. Era um fio de contas. Saudando as águas da Encantaria, as “Águas de Nazaré”, ela homenageia as suas protetoras: Mariana, Jarina e Herondina, as Belas Turcas; e a Cabocla Jurema, que personifica a própria floresta. Durante a primeira conversa com Dona Onete, nos bastidores de um show, tudo se desenhou com mais clareza. Foi um momento encantado, traduzido no subtítulo. O título, por sua vez, evoca a ancestralidade indígena. A pororoca é um motivo recorrente. As Princesas se confundem com a pororoca e são saudadas dessa forma, nas doutrinas (modo como são chamados os “pontos” do Tambor de Mina). Tudo está amarrado numa mesma trama. A percepção das conexões entre o vodum Averequete e o Mestre de Carimbó Verequete é prova disso. Visitar terreiros e dialogar com Dona Onete foram movimentos essenciais para a construção dessa narrativa”.

Haddad complementa, traçando novas conexões: “A palavra “Parawara”, numa tradução livre, quer dizer “habitante do rio” ou “oriundo do rio”. Se “pororoca” é “estrondo”, algo que arrebenta, falamos da voz de quem mora nos rios, dessa voz que vem do fundo. Falamos dos Encantados. Entendemos que os rios são ruas, vidas, memórias, os rios são as próprias pessoas com quem conversamos e as Encantarias que elas saúdam. “Grão-Pará” quer dizer “Grande Rio”. Continuamos, nesse sentido, acionando a memória e a identidade da escola de Caxias, cujos tambores do Samba vão se misturar aos Curimbós”.

Todo o processo de pesquisa do enredo foi documentado em áudio e vídeo pelo cineasta paraense Vitor Souza Lima. Para o desenvolvimento da pesquisa, Bora e Haddad convidaram a multiartista Rafa Bqueer, também paraense, que trabalha imaginários amazônicos nas suas criações. Os carnavalescos reforçam, com isso, a tendência de trabalho com parceiros e colaboradores, algo destacado por Haddad.

“Estamos reunindo muito material. Queremos que esse processo seja o mais plural possível, vivo e festivo. A comunidade caxiense precisa vestir, viver e incorporar esse enredo tão vibrante, poético e mágico. Navegar por ele e mergulhar nele. As festas dedicadas às Princesas são muito aguardadas. Nosso desejo é que o Encantamento se faça presente nos menores detalhes. Com essa energia, vamos brigar pelo campeonato”.

A sinopse do enredo da Grande Rio será divulgada em breve. Em 2025, a tricolor de Caxias será a terceira escola a desfilar na terça-feira de carnaval.