Os compositores ouvidos pelo site CARNAVALESCO celebraram o projeto da TV Globo, em parceria com a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), para a transmissão dos quatro programas que vão definir os sambas-enredo do Carnaval 2022 do Grupo Especial do Rio de Janeiro. Estrelas do espetáculo, eles movimentam o dia a dia dos apaixonados por carnaval, mas carecem de reconhecimento do grande público. O novo modelo pode devolver o protagonismo alcançado em décadas passadas para esses artistas.
“Uma esperança que o carnaval volte a ter a visibilidade que teve um dia e o que o desfile volte a ter o protagonismo. É importante para que as escolas percebam também a necessidade de modernização na forma de se comunicarem, não só com quem gosta do desfile, mas com o público que não conhece ou que conhece e não tem proximidade. De um lado é uma grandiosa esperança de que as coisas possam estar avançando na modernização. Por outro lado, acho que tem um pouco de receio das últimas experiências dos sambistas com o monopólio da Globo. Elas são preocupantes. Aquele compacto que fizeram nos dias do carnaval 2021, com playback, foi absolutamente decepcionante para os amantes do carnaval. Como o próprio desfile, em que o sambista entende que não é para ele, é para o grande público, mas ele não se sente representado. Porém, a esperança é muito maior do que o receio”, disse o multicampeão de sambas, André Diniz, o maior vencedor da história da Vila Isabel.
Autor de clássicos do carnaval, como o samba do Paraíso do Tuiuti em 2018, Cláudio Russo elogia a iniciativa, mas também mostra preocupação com o formato que poderá ser feito.
“Acho que é mais uma etapa do engrandecimento dos desfiles das escolas de samba. Vai ter mais visibilidade para escolas e seus compositores. O que me deixa preocupado é saber o que vem atrelado com isso. Disputa de samba é sempre tradicional. Qualquer mudança radical pode ser preocupante. Como colocar o público para votar, por exemplo, isso acho que não ficaria bem. Ninguém melhor do que a diretoria e a comunidade de cada escola para entender o que querem e precisam. Podem ser uma boa esses programas, ainda mais na visibilidade que a TV Globo pode trazer para todos”, comentou Cláudio Russo.
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Campeão na Portela, Beija-Flor e em várias escolas da Série Ouro (antiga Série A), Samir Trindade, ressalta a visibilidade que a transmissão da TV Globo dará para os sambas-enredo e para os próprios compositores.
“O samba precisa de visibilidade. Sempre achei que a disputa de samba poderia ser um grande entretenimento para o público voltar a gostar de carnaval. Em algum momento, houve uma ruptura entre o povo e o carnaval. O povo vai voltar a conhecer os sambas-enredo. É uma grande oportunidade para todos os compositores, que são discriminados nas escolas de samba, e que desde 2012 os sambas tiveram uma reviravolta e melhora, mas as alas de compositores perderam representatividade. São sempre os mesmos compositores e parcerias. Com as lives isso ficou bem claro. Não é somente estrutura, mas também a qualidade musical que faz a diferença. Quanto mais pessoas gostarem de samba-enredo, mas jovens entrarem nas alas de compositores, acredito que possa dar uma oxigenada no carnaval e no segmento, uma renovação”, explicou Samir Trindade.
Representante da nova geração, Diego Nicolau comentou que o modelo escolhido atende também o momento que o mundo passa, ou seja, ainda vivendo a pandemia da Covid-19.
“O momento que a gente vive no mundo inteiro necessita de ajustes, que não podem não ser ideais, mas que acabam se tornando muito importante para continuidade dos projetos. Assim, eu entendo essa questão das lives e as finais sem o grande público. Ter uma quadra lotada numa final, na hora de cantar o samba campeão, é uma cultura das mais importantes de um processo do carnaval, mas é melhor ter do que não ter. É um passo que a TV Globo da de valorização do compositor e do carnaval. Acaba sendo uma forma de nos tornarmos os artistas que somos de fato para esse viés de transmissão televisiva. Existem várias possibilidade, essa é uma delas, e prova a vontade de fazer, o que é muito importante”, disse Diego Nicolau.
O compositor Dudu Botelho, do Salgueiro, acredita que o carnaval e o gênero samba-enredo merecem esse reconhecimento da grande mídia, através da transmissão da TV Globo, e sugere que o modelo possa continuar nos próximos anos.
“Embora a gente ainda não sabia todos os detalhes do novo formato, eu vejo com muito bons olhos, tem tempo que o samba-enredo andava desprestigiado de um grande espaço midiático. As vinhetas diminuem a cada ano e esse novo projeto pode ser a grande retomada da popularização das escolas e de seus sambas. O carnaval merecia esse espaço na retomada dos desfiles pós essa catástrofe sanitária que o mundo ainda está passando. Disputas que eram acompanhadas por no máximo 10 mil pessoas nas quadras, poderem ser vistas por milhões em um sábado a tarde. É gol de placa para escolas, compositores e todo mundo que goste de samba. Pode tomar uma grande força, ser definitiva, aprimorado e que vai vir para ficar nos próximos anos. Estou bem feliz com essa possibilidade”, comentou Dudu Botelho, campeoníssimo de samba no Salgueiro.