Quarta escola a entrar na avenida na primeira noite de desfiles do Grupo Especial do Rio de Janeiro, a Unidos da Tijuca apresentou o enredo “É onda que vai, é onda que vem… Serei a Baía de Todos os Santos a se mirar no samba da minha terra”, desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos. Em 1 hora e 10 minutos, o desfile da escola do Borel foi prejudicado pelos erros apresentados em evolução e os problemas de acabamento nas alegorias. A exuberante Comissão de Frente de Sérgio Lobato e a bateria “Pura Cadência” de Mestre Casagrande foram os destaques da escola. O valente desempenho do carro de som da escola, apesar dos problemas no som da pista, foi notório e o enredo da Amarela e Azul teve fácil leitura. * VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE
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Comissão de Frente
A Comissão de Frente da Unidos da Tijuca no carnaval de 2023 pode ser definida como histórica, ao ser a primeira da história do carnaval a apagar as luzes da pista e utilizar a iluminação cênica da pista para destacar sua apresentação. Comandada pelo experiente coreógrafo Sérgio Lobato e intitulada “Um Banho de Axé”, como na letra do samba-enredo da escola, se propunha mostrar as águas do Atlântico e as influências culturais africanas na Baía de Todos os Santos. Toda dança era regida por Iemanjá, orixá das águas salgadas nas religiões afro-brasileiras, que foi representada na avenida pela atriz Juliana Alves, ex-rainha de bateria da escola.
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* Comissão e bateria se destacam, mas erros de evolução e falha nas alegorias prejudicam o desfile da Unidos da Tijuca
* Ala “Holandeses” da Unidos da Tijuca representou a conquista de Salvador
Além da utilização da iluminação cênica, a dança elaborada por Sérgio Lobato foi bem fundamentada e sincronizada. A coreografia, em seu primeiro momento realizado no chão da pista, utilizava muito do movimento conferido pelas saias dos bailarinos e na excelente interpretação de Juliana Alves. Quando subiam para o tripé, os bailarinos de azul e saia formavam as ondas e mexiam um pano azul e branco dando movimento às mesmas ondas, enquanto a Iemanjá ficava como figura central do tripé. Logo após, surgiam gradativamente novos personagens na cena, com referências a cultura baiana, como um sambista e adeptos de religiões de matriz africana. O ponto alto da coreografia se dava quando a Iemanjá ganhava seus elementos tradicionais e era levantada a metros do chão do tripé, com uma longa saia azul. A Comissão arrancou aplausos em todos os módulos.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
No carnaval de 2023, a Unidos da Tijuca promoveu a estreia de uma nova parceira no quesito Mestre-Sala e Porta-Bandeira, ao mesclar a experiência de Denadir Garcia com o estreante Matheus André. Representando a “Visão Aquática de Kirimurê”, Denadir e Matheus vestiam uma roupa em tons de azul e branco, que remete a elementos marinhos. A ausência do chapéu da porta-bandeira foi o único problema no quesito e pode resultar em descontos. Em volta do casal, a escola trouxe guardiões vestidos de “Ancestrais Tupinambás”.
Na execução da coreografia ao longo dos módulos de julgadores, o casal se apresentou com maestria e sincronia, sem o mestre-sala sequer parecer estreante. A dança apresentada foi excelente e se destacou no desfile da escola. A coreografia do casal foi bem forte, com bastante referências a elementos da letra do samba, como nas referências aos orixás Oxum e Xangô e no trecho do “cadinho de pimenta”. O movimento dado pelo costeiro azul do mestre-sala contribuiu demais para seus movimentos e conferiu beleza à dança da dupla.
Harmonia
A Harmonia da Unidos da Tijuca apresentou bom desempenho na avenida e foi um dos pontos fortes da escola no desfile de 2023. Apesar dos diversos problemas apresentados no som da Marquês da Sapucaí que prejudicou diretamente o carro de som da escola comandado por Wantuir e Wic, o canto da comunidade da escola se manteve firme e coesa durante o desfile. A aceleração feita no samba-enredo da escola contribuiu para a valentia no canto do povo do Borel. Além do refrão principal da Amarela e Azul, com o famoso e chiclete “Banho de Axé”, o trecho final do samba da escola, do “Ó pai ó” até “viver será só festejar” foram cantados a plenos pulmões pelos componentes da Tijuca. As alas 2, “Português com um padrão”, 16, “Rendas de Bilro” e 28, “Baianas do samba de roda”, foram destaques no quesito.
Evolução
O quesito evolução foi, sem sombra de dúvidas, um dos mais problemáticos da escola no desfile. O mais grave deles ocorreu na apresentação da bateria nos dois primeiros módulos, dos setores três e seis, quando a ala de passistas avançava e se abriu clarões na avenida. Outra dificuldade foi apresentada quando o primeiro tripé, “Navegando sobre as águas de todos os santos”, travou e a ala 4, “Pelo mar do porto da barra”, que a acompanhava avançou, na frente do segundo módulo. No último módulo, as alas 15, “Cana-Brava” e 16, “Renda de Birlo”, deram uma embolada na frente dos julgadores. Por fim, para fechar os portões dentro do tempo permitido, as alas da escola precisaram acelerar.
Enredo
Com o enredo “É onda que vai, é onda que vem… Serei a Baía de Todos os Santos a se mirar no samba da minha terra”, o carnavalesco Jack Vasconcelos e a Unidos da Tijuca renderam homenagem a Baía de Todos os Santos, através das histórias, culturas e a relação do povo baiano com a segunda maior baía do mundo, desde que era chamada de “Kirimurê” até os dias de hoje. A narrativa da escola foi dividida em seis setores, ou “capitulos, sendo esses: “Do Mar”; “Da Terra”; “Dos Santos”; “Do povo”; “Do Reino” e “Da Festa”.
Ao longo de 28 alas, 5 alegorias e 2 tripés, o enredo da Unidos da Tijuca foi apresentado com coerência pela facilidade da leitura da história da Baía de Todos os Santos, em todas as suas vertentes, sobretudo no conjunto de fantasias. O carnavalesco Jack Vasconcelos se provou mais uma vez como um grande contador de histórias e maestral enredista. As fantasias das alas 16, “Rendas de Bilro”, 18, “Náufragos” e 24, “Blocos Afros”, podem ser citadas como exemplo de facilidade na leitura do significado.
Alegorias e Adereços
Para homenagear a Baía de Todos os Santos e contar sua história, a Unidos da Tijuca apresentou 5 alegorias e 2 tripés em seu desfile. O quesito alegorias da Unidos da Tijuca foi um dos seus principais problemas no desfile de 2023. Além de algumas questões na concepção, a execução dos carros alegóricos da escola apresentou diversos erros no acabamento, com a última passando com a traseira tombada. A primeira alegoria, representando “Kirimurê”, foi uma das melhores da escola no quesito, com predomínio das cores azul e laranja cítrico, com uma grande escultura de uma sereia e peixes à frente. O segundo carro, “Beira de Bahia que deságua minha fé”, apresentou aparentes problemas de acabamento desde sua entrada na avenida. As colunas da Igreja apresentaram falhas e estavam com partes descoladas. Na terceira alegoria, “No mercado e na feira, meus cheiros, meus sabores e meu povo”, a escola apresentou a Feira de São Joaquim e o Mercado Modelo. Com o piso de madeira e revestido por caixotes, componentes da escola no entorno da alegoria jogavam frutas para o público. As colunas que formavam o mercado modelo também apresentaram falhas evidentes.
A quarta alegoria da Tijuca, “No encontro dessas águas, reluzem meus tesouros”, representou a união das águas do Atlântico com a dos rios Paraguaçu, Jaguaripe e Subaé, que dentro do enredo escondiam tesouros ao fundo das águas. A alegoria passou bem na avenida. O quinto e último carro, “Minhas águas são de festa onde a fantasia é eterna”, foi o mais problemático da agremiação. Apesar da bonita e colorida frente, o fundo da alegoria, que tinha uma escultura de um farol, tombou completamente para trás desde o início e passou assim por todos os módulos de julgadores. O primeiro tripé da escola, “Navegando sobre as águas da Baía de Todos os Santos”, juntamente com o segundo tripé, “Terra que banho é de luta”, cumpriram bem seu papel e ajudaram na leitura do enredo.
Fantasias
O conjunto de fantasias da Unidos da Tijuca se apresentaram de maneira regular na avenida, com alguns figurinos com maior destaque e detalhamento que outros. No entanto, as fantasias idealizadas por Jack Vasconcelos foram bem no papel de contar a história do enredo apresentando, sendo a leitura fácil aos olhares de quem as via. Ao longo da avenida, as cores escolhidas pelo carnavalesco foram bem variadas, o que era uma necessidade do enredo. A alas 1, “Lenda do pássaro encantado”, 2, “Português com um padrão”, 9, “Orixantos” e 21, “ Fonte da Bica”, além da 16, “Rendas de Bilro”, apresentaram bons figurinos com primor estético e fácil leitura. Algumas alas da escola não conseguiram igualar o primor estético dessas, contribuíram para uma certa irregularidade no quesito.
Samba-Enredo
Composto por Cláudio Russo, Julio Alves e Tinga, o Samba-Enredo da Unidos da Tijuca cumpriu seu papel na avenida, contribuindo para o desempenho do canto da comunidade da escola. Na avenida, a obra ganhou um andamento mais acelerado do que o notado nos ensaios da Amarela e Azul. O refrão principal da escola do Borel, sobretudo o trecho do “Banho de Axé”, foi sucesso entres os componentes da escola e nas arquibancadas, que o cantaram bem.
Outros destaques
Um dos grandes pontos fortes da Unidos da Tijuca há muitos anos, a “Pura Cadência” se provou mais uma vez na avenida. Vestidos de “Marujada”, os ritmistas seguem sendo um dos quesitos de segurança da escola do Borel. Ao longo do desfile, a bateria contribuiu imensamente para o desempenho musical da escola, tanto ao sustentar o ritmo durante todos os momentos, quanto com bossas que levantaram o público. A rainha Lexa, com um figurino dourado representando uma “Sereia”, foi aplaudida por todos os setores da Sapucaí.