Com o enredo “Gbalá – Viagem ao templo da criação!”, a Unidos de Vila Isabel foi a terceira agremiação a desfilar na Marquês de Sapucaí na noite desta segunda-feira de Carnaval. O abre-alas da escola foi batizado de “Quando acaba a criação, desaparece o criador”. Dividido em dois chassis, ele retratou o caos do mundo em meio aos problemas sociais e ambientais que, no contexto do enredo, adoecem Oxalá.
Ao topo da primeira parte, magnatas de diversos setores da elite celebravam um farto banquete, enquanto na plataforma inferior, os pobres estavam em meio ao acúmulo de lixo excessivo – os restos – produzidos por quem estava acima. A abertura marcou o início e o tema central do samba-enredo de Martinho da Vila, como explica o carnavalesco Paulo Barros.
“O samba descreve que Oxalá está doente porque a sua criação adoeceu. O abre-alas retrata alguns dos males do planeta, mostrando o porquê do planeta estar doente. O material dele é uma base extremamente trabalhada para o sentido carnavalesco. Em resumo, é o ambiente de Oxalá, mas que está meio desgastado – já que no nosso enredo ele está adoentado. É um problema social, que é o rico e o pobre em meio a essa desigualdade – não só do Brasil, mas no mundo inteiro. E isso também causa o desgaste da natureza”, explica Paulo Barros.
No topo da pirâmide, o ator e circense Vinícius Daumas, 50 anos, representou um empresário do agronegócio em meio ao farto jantar. Segundo ele, a alegoria destacou o topo da pirâmide social brasileira e levou para a avenida uma crítica fundamentada no samba e no enredo.
“É um grande jantar, que tem pessoas do agronegócio, empresariado, milionários – os magnatas lá no topo. Enquanto a elite está lá em cima jantando, quem está embaixo come os restos. Iniciamos o desfile mostrando para a sociedade o que fizemos com o nosso mundo e o adoecimento de Oxalá em vista do que a sua criatura fez com a humanidade. O Paulo Barros foi genial, porque já começa o desfile dando um ‘soco no estômago”, disse Vinícius.
Já o segundo chassi da alegoria retratou os danos ao meio ambiente, como a floresta em chamas – um dos motivos para o adoecimento do criador. Na parte de trás do carro, os contornos de uma fábrica simbolizavam os impactos causados pelo consumo desenfreado. Composição do chassi, a influenciadora digital Anna Retonde, 25 anos, representou o fogo das queimadas.
“Representa um mundo ainda triste, perdido e marcado pela desigualdade social. Nós somos a chama desse fogo que queima a floresta. No topo, as pessoas com muito dinheiro. O conjunto mostra o mundo ainda triste e a alegoria está muito linda e retratou muito bem esse início do enredo”, contou.