O Centro de Duque de Caxias virou uma Passarela do Samba. Com a força e o grito da comunidade caxiense, a Acadêmicos do Grande Rio realizou no último domingo o seu primeiro ensaio de rua. O pontapé inicial foi dado na Avenida Brigadeiro Lima e Silva, no coração da cidade, e serviu de aquecimento para os segmentos da escola. Os treinos começaram no dia 17 de outubro, quando ocorreu o primeiro ensaio de quadra. Agora, a Tricolor da Baixada promete dar um show de harmonia na Marquês de Sapucaí.
Segundo o diretor de carnaval da agremiação, Thiago Monteiro, o local é estratégico por conta do amplo espaço e pela localização que aproxima ainda mais o povo da cidade com a escola de samba. Nem a onda de calor que assola o Rio de Janeiro foi suficiente para tirar o fôlego do caxiense. Após os termômetros ficarem na casa dos 30°, Monteiro acredita que o clima contribui para o condicionamento do desfilante.
“É o nosso primeiro ensaio (de rua). Temos feito os ensaios na quadra há mais de um mês e meio, então hoje é um passo importante na nossa preparação.. Para mim é até bom que faça calor, porque no dia do desfile não tem ‘colher de chá’ – não é camisa e short, é fantasia. Temos que testar o componente da melhor maneira possível para o desfile. Daqui em diante não paramos mais. Os segmentos estão juntos e todo mundo abraçou o enredo e o samba.É fundamental a gente estar aqui realizando essa preparação, é a nossa comunidade e o calor do nosso povo. A Grande Rio não desfila somente com 3 mil componentes, ela desfila junto com os um milhão de habitantes da nossa cidade”, conta o diretor de carnaval.
Ao longo de quase 700 metros toda a Avenida ficou tomada de componentes. Com o samba na cabeça e na ponta da língua, o rugido da onça foi ecoado por cada torcedor tricolor presente. Se por um lado a agremiação afirma que nos últimos três anos tem tentado se conectar ainda mais com a comunidade e a cidade, no domingo ela contou com o forte apoio caxiense.
Para Thiago Monteiro, o papel da comunidade é fundamental para o sucesso do desfile. Ele afirma que a Grande Rio tem elevado seu padrão de desfile nos últimos anos, apesar das falhas em 2023. Nos últimos três carnavais, a agremiação garantiu os 30 pontos do quesito harmonia.
“No ano passado a nossa comunidade correspondeu. No desfile tivemos falhas técnicas que passaram longe da comunidade, e já estamos corrigindo essas falhas com várias decisões que foram tomadas nesse processo. E a comunidade manter a pegada e entender que o enredo de onça não é do Zeca ou de Exu. Cada enredo tem a sua história, raíz e natureza. O componente tem que entender isso para passar na Avenida”, diz.
Após o primeiro ensaio de rua, os preparativos vão seguir a todo o vapor. A bateria da escola, por exemplo, passa a ensaiar três vezes por semana – às terças-feiras, quintas e aos domingos. Para o mestre Fafá, ter começado a ensaiar cedo é fundamental para o desenvolvimento do trabalho. Como tem feito nos últimos anos, Fafá planeja levar 270 ritmistas para a Marquês de Sapucaí.
“Estamos indo muito bem, graças a Deus. Temos feito bons ensaios na quadra e agora, com os ensaios de rua. Escolhemos o samba muito cedo, então estamos com muito tempo para trabalhar com calma e sem pressa. Será um trabalho muito técnico. Esperamos desempenhar o mesmo trabalho que estamos fazendo na quadra”, conta o mestre de bateria.
Para ele, o ensaio de rua é de suma importância, já que possibilita que a bateria se locomova, o que não é possível no ensaio de quadra devido ao espaço. Ensaiar em local aberto é um diferencial para fazer correções e acertar detalhes.
Fafá conta que ficou surpreendido com a forma que os componentes abraçaram o samba-enredo. De acordo com ele, a força do canto é até maior que 2022, quando a Grande Rio levou Exu para a Passarela do Samba e conquistou o seu primeiro título no Grupo Especial.
“Cada enredo é um clima e a cada um você sente. Hoje eu sinto a Grande Rio com o mesmo clima e a mesma energia que tivemos em Exu (2022). A comunidade abraçou o samba de uma forma absurda. Quanto mais a nossa comunidade canta o samba, mais ela nos impulsiona a melhorar. Eu digo que 50% do trabalho da bateria da Grande Rio é feito em cima da comunidade, então para nós é de suma importância. Esperamos que esse samba cresça a cada dia mais para que, se Deus quiser, no dia 28 de janeiro a gente possa fazer um grande ensaio técnico e repetir isso no desfile. A bateria está focada e determinada para trazer este título de volta para Caxias e os 40 pontos”, comenta.
Não é somente para os ritmistas que os ensaios de rua tem um grande peso na preparação. Animados com o primeiro passo fora da quadra, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira de Caxias, Daniel Werneck e Taciana Couto, revelaram que a coreografia está em construção e flui muito bem. No último carnaval, a dupla garantiu os 30 pontos no quesito.
“Hoje iniciamos uma nova fase do nosso projeto e começamos a testar algumas coisas. É um processo que vamos construindo. Estamos muito empolgados e felizes com a resposta do público e com a nossa comunidade cantando cada vez mais forte, alto e bonito. A Grande Rio, com certeza, vai fazer um desfile muito bonito”, destacou a porta-bandeira.
“Estamos estudando a proposta do que vamos levar para a Avenida. Assim como em todos os anos, a gente estuda não só a fantasia e o que representa, mas o que precisa ser levado. Isso sem perder o mais importante, que é o tradicional da dança do mestre-sala e da porta-bandeira. Estamos tendo ajuda da nossa coreógrafa e de um dos bailarinos da comissão de frente. Vamos buscar, mais uma vez, e lutar pela nota máxima. Os ensaios de rua e de quadra são muito importantes não só pela preparação, mas pelo condicionamento que eles nos dão. Não adianta fazer só treino funcional e musculação – que já fazemos -, porque o condicionamento vem desses ensaios. Isso contribui”, completou o mestre-sala.
Em 2023 o tão sonhado bicampeonato bateu na trave. Questionados sobre o que fazer de diferente para buscar a segunda estrela da Grande Rio, a dupla afirmou que o trunfo será repetir o feito de 2022 e abraçar o trabalho feito por toda a agremiação. Nessa luta, a força do chão da escola será fundamental.
“O mais importante para qualquer escola de samba é a comunidade. A gente precisa deles. E a Grande Rio há algum tempo vem trazendo a comunidade pra cá. Também é a parceria e união de todos os segmentos, porque o trabalho em conjunto traz um resultado muito favorável para nós e para a escola”, afirmou o mestre-sala.
“A base da escola e o trabalho segue o mesmo. O diferencial é trabalhar em cima deste samba, abraçar esse trabalho e fazer ele crescer na Marquês de Sapucaí”, completou a porta-bandeira.
Com o enredo “Nosso destino é ser onça”, dos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora, a Acadêmicos do Grande Rio será a quarta escola a desfilar no domingo de carnaval.