Vai VaiO Vai-Vai vai contar no desfile de 2020 a sua própria história na avenida. O enredo ‘Vai-Vai, de corpo e álamo’ é uma homenagem à trajetória da maior campeã do carnaval paulistano, que pela primeira vez em sua história desfilará no Grupo de Acesso. O carnavalesco Chico Spinoza está de volta à alvinegra do Bixiga.

Spinoza conquistou três campeonatos pelo Vai-Vai. O bi em 1998 e 1999 e em 2008 o terceiro troféu. Além disso, desenvolveu os carnavais de 1997 e 2007 na escola da Bella Vista. Esta é a quinta passagem do carnavalesco pela escola.

Leia a sinopse do enredo do Vai-Vai para o Carnaval 2020:

JUSTIFICATIVA

Cartola no coco e camisa listrada, calça alinhada, cigarro de palha e tamborim.

O Criolé surgiu a imagem e semelhança de outros tantos crioulos, descendente dos melhores brincantes de rua. Ele é um símbolo, uma identidade, caricatura do próprio sambista da saracura, aquele que personifica a escola ao vestir-se de suas cores – o preto e branco – um pouco de cada um dos que leva o VAI-VAI dentro do coração, um pouco de cada sambista, de cada escola de samba que faz parte deste mítico universo.

Sua criação, no início dos anos 70, foi idealizada quando a folia paulistana era finalmente reconhecida pelas autoridades e – agora não mais marginalizada – importava sob influência carioca o modelo de ESCOLA DE SAMBA para ocupar o lugar dos blocos de embalo e grandes cordões.

Neste processo havia inúmeros desafios, dentre eles – e talvez o maior de todos – estava preservar as características marcantes de nossa agremiação. Nosso malandro urbano, então, seria o marco desta passagem, a comunhão entre o ontem e o amanhã.

Como testemunho participe, ele esteve no meio de nós, a frente, ao alto, em nossas alegrias e dissabores, nas epopeias de avenida e nos ensaios que antecediam os desfiles, nas letras do samba, no comando dos enredos, no corpo e na alma de cada folião.

Nestas “Bodas de Álamo” é ele quem vem contar os triunfos, as grandes vitórias de nosso povo, justamente por serem estas vitórias as que nos fizeram os maiores campeões do carnaval paulistano. Outra vez, ele riscará o chão com seus passos mágicos e espalhará a energia capaz de dar vida até as mais distantes recordações.

SINOPSE

“…lembranças eu tenho da saracura, saudades tenho do nosso cordão…”.
Em andança por estas mesmas ruas, agora tomadas pelos arranha-céus, me vem à mente estes versos imortais. Não sei precisar ao certo quando foi a primeira vez que os ouvi, ainda que tenha a estranha certeza de sempre ter os conhecido.

O que sei é que minha história por essas cercanias começa muitos anos atrás, quando, sob influência da folia carioca, o Temido Cordão – de episódios memoráveis – adormeceu para dar origem a gloriosa Escola de Samba Vai-Vai.

Do Velho Bixiga – de seus cortiços e casarios – partiram rumo ao novo cenário os mais nobres brincantes: os príncipes batuqueiros e damas meninas, reis negros e rainhas baianas, com toda a tradição de uma corte popular.

Os feitos deste povo, dessa nossa nação, seriam imortalizados agora como estrelas – como nas mitologias antigas – e comporiam sob a proteção da coroa e dos ramos de café, a maior dentre todas as constelações.

Para elas, as joias de nossas conquistas, damos o nome de Álamo, aquilo que nos consagra como vitoriosos, as virtudes que nos colocam “acima dos fortes”.

E para alçá-las, no passo do tempo que corria em direção ao novo horizonte, nossos sambistas levaram consigo aquilo que havia de mais genuíno em essência: força e galhardia inigualáveis, uma energia capaz de seduzir os olhos e arrebatar os corações. O preto e o branco, solitários, encontraram outras cores e pintaram a aquarela de nosso renascimento. Ao som de acordes fascinantes, nossos bambas embarcaram no carrossel de enredos fantasiosos, emergidos da imaginação.

Éramos agora os babalaôs do eterno amanhecer, os guerreiros do céu e da terra, os arlequins e colombinas de um país verde e amarelo, gente que apostava na alegria pra mudar a vida e queria fazer de todos os dias um inesquecível carnaval.

Por vezes, demos a volta no mundo, na roda viva do cotidiano, como personagens de nossa própria história, com nossos pequenos e grandes milagres, nossas nuances e nossa fé.

E quando sonhar foi preciso, fizemos de sonho a nossa odisseia e seguimos rumo ao marco do século, a virada do milênio que trazia à humanidade tantas expectativas, temores e reflexões. O ouro de tolo e os questionamentos sobre o valor da vida, despontaram pela noite feito um clarão, através da nossa vibração; um alento boêmio para o dia-a-dia de um povo combalido que só via no samba o caminho para transformar a tristeza em euforia!

Tomamos a imagem e semelhança de quem fora capaz de reconstruir sua própria existência – no oriente de sua trajetória – para enfrentar as profecias mais sombrias e adentrar a nova era com a certeza de que, se não era possível mudar o passado, dependia de nós reescrever o futuro, éramos a própria esperança.

E nossa ascensão definitiva seria embalada pelas fagulhas cintilantes deste novo tempo. A luz da paz, com o calor emanado das mãos unidas, daria um toque de consciência e traria a cena uma nação tomada pela cegueira, um transe que nem o farol de seu lábaro de estrelas fora capaz de despertar.

Nosso grito acordou então os filhos desta pátria abandonada, na trilha das clássicas melodias, num ato de inebriada comoção. Na transversal do tempo contra todos os adventos, reverberou a emoção, a apoteose das massas. Como manda a tradição, a velha máxima, o povo foi a voz divina da nossa consagração.

É através deste coro – do canto que ecoa em prece de nossas ruas – de nossa gente, que nos encontramos outra vez em estado de graça, no ponto mais alto de nossa jornada, no apogeu. Somos assim, gente que faz da queda o motivo da superação.

Esse é o nosso jeito de chorar sorrindo, de celebrar o ser, o existir e o resistir. O VAI-VAI de Corpo e Álamo*, alma e calor no asfalto, como diz o nosso exaltação.

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