A Mocidade Unida da Mooca busca seu primeiro acesso na história para o Grupo Especial, para isso, terá o enredo ‘Oyá Helena’, uma homenagem para a Helena Theodoro, uma renomada escritora, pesquisadora e professora do Brasil, além de claro, uma sambista de raiz. A MUM será a última escola a entrar no Anhembi em disputa no carnaval de 2024, será a oitava no Grupo de Acesso I, no domingo, dia 11 de fevereiro. O site CARNAVALESCO visitou o barracão da MUM ainda no fim de 2023, e conversou com o carnavalesco, o jovem Caio Araújo, que vai para o seu segundo trabalho, o primeiro solo, como carnavalesco nas escolas de samba de São Paulo.
‘Oyá Helena’, conheça o enredo da MUM
O enredo da Mocidade Unida da Mooca, vulgo MUM, surgiu através da jornalista esportiva da Rede Globo, Ana Thaís Matos, que é noiva do presidente Rafael Falanga, que inclusive a pediu em casamento na véspera de um ensaio técnico no ano passado. Pois, Helena Theodoro surgiu através da jornalista e aprovada por Falanga e Caio, virou o enredo da escola, seguindo uma linha lógica de enredos há alguns anos, como explicou o carnavalesco da MUM.
“Olha, a “Oyá Helena” é uma homenagem para Helena Theodora, e veio de uma ideia do Rafael e da esposa dele, a Ana Thaís, né? A Ana Thaís é uma grande fã do trabalho da Helena e ela foi apresentando para o Rafa, enquanto o Rafa foi apresentando para mim. Quando eu fui conhecendo mais a fundo a obra de Helena e mais do que a obra conhecendo a vida dela. Falei que essa mulher tem que ser enredo. É uma figura muito relevante culturalmente para o país, mas uma figura que também fala muito dos afetos que a gente constrói dentro do samba, sabe? E muito da construção do nosso enredo vai por esse caminho. A Helena está completando 80 anos esse ano. Ela começa a construir o legado do trabalho dela com 13. Então são muitos anos de trabalho para poucos setores de desfile. Então a gente tem que fazer algumas escolhas em como conduzir essa história. O que eu escolhi para contar um pouco desse legado da Helena, foi entender quais eram os pilares principais do trabalho dela. E aí, a partir deste momento entender como a gente dentro do Samba é capaz de conhecer diversas Helenas. E aí no final das contas é onde esse enredo vira uma homenagem para todas as mulheres pretas do carnaval”.
Descobertas na pesquisa
Durante a pesquisa, o que encontrou de interessante, o carnavalesco Caio Araújo nos contou descobertas históricas: “Em todos os setores tem alguma coisinha que inspiraram muito visual da escola e que eram informações que eu desconhecia. Então a origem de onde vão aparecer os primeiros cultos a Iansã, inspiraram muita estética da abre-alas, a relação da Iansã com os elementos, ela não é só o orixá do vento, né? Ela tem também relação com fogo, mas o nome da Iansã vem de um rio. Então ela também tem uma relação com a água e eu desconhecia, isso também vai aparecer de alguma forma no nosso desfile. Inclusive os cultos a Iansã, eles vão começar a nascer justamente nos impérios que cresceram nas margens desses rios, que hoje em dia é o rio Níger, que corta a Nigéria de ponta a ponta. Então todos os impérios que foram crescendo em torno desses foram tipo desenvolvendo cultos a Iansã. E aí tem um império principal ali onde a gente encontra os primeiros relatos de culto a ela, esculturas em homenagem a Iansã e que é esse Império inspirou ali a estética do abre alas. Todo o contexto de estudar revolução salgueirense é apaixonante, é que é isso, você entende, a gente entende o que é o poder numa escola de samba, mas você vê isso acontecendo nos anos 60, é muito potente e o trabalho da Helena, ele está sintetizado no último carro”.
Revelou também a importância da pesquisa nas obras de Helena, e claro, nas recorrentes conversas feitas com a artista: “Acho que ali eu conversando com ela, lendo as publicações dela. Vem nessa relação que ela estabelece entre homem natureza e orixá, né? O orixá é uma manifestação da natureza e nós enquanto humanidade. Acabamos se afastando muito da natureza, mas somos parte dela também. E aí a Helena tem todo esse esforço de fazer essa aproximação de novo do homem com a natureza, porque aproximar o homem da natureza é aproximar o homem do Orixá, e isso tá ali traduzido também de uma certa forma nessa biblioteca do último carro”.
Alegorias da MUM prometem mais uma vez
Com uma temática que exige um estilo diferente em cores, Caio Araújo revelou que a MUM sairá um pouco das cores do seu pavilhão, vermelho e verde, tem motivos: “Esse ano a MUM vem bem colorida, ela não vem ali muito ligada as cores do pavilhão, elas vão aparecer em determinado momento, principalmente o vermelho, mas não são as cores básicas do nosso desfile. A gente vai abrir baseado na Iansã, mãe do céu do entardecer. Que é uma Iansã que se relaciona mais com o rosa e com laranja. Então a gente vai ter uma abertura que vai puxar para o rosa e para o laranja e para a cor das paramentas dela são cor de cobre na verdade. E aí vamos fazendo uma transição para cores quentes no segundo setor para falar dessa herança toda que a Helena constrói dentro do Salgueiro. E depois vamos fazer uma transição para cores frias, então terminamos o nosso desfile tipo com tons de azul, de roxo, lilás e bastante dourado. Mas fomos para um caminho bem diferente assim de cor esse ano, abandonamos um pouquinho as cores da escola, mas tivemos que dar por enredo as cores que ele pediu. Então abrimos mão um pouquinho ali, tentando colocar onde é possível, mas fomos nessa pegada de levar realmente as cores que o enredo pede”.
Tradicionalmente a MUM tem feito grandes apostas alegóricas, seja na beleza, riqueza ou no tamanho das estruturas. Para 2024, não será diferente como contou o Caio Araújo: “Vamos vir com as alegorias grandes novamente. É um projeto que é maior que o do ano passado, é maior do que o projeto do Santo Negro da Liberdade, principalmente o abre-alas. Creio que é o segundo maior abre-alas da Mooca, talvez só perca pro abre-alas do de 2019, mas é um carro grande e detalhado, a gente vem com todos os carros tipo grandes assim. Vamos fazer bastante uso de tripé esse ano também que é uma ferramenta que o regulamento proporciona para nós. Dá soluções visuais interessantes na avenida e ajudam a contar histórias. Então vamos ter alegoricamente uma escola grandiosa. Em termos de fantasia também, aumentamos o tamanho do costeiro, deixou as fantasias mais volumosas, a comunidade na Mooca gosta de vir com costeiro grande, eles não curtem quando vem a fantasia ali com costeiro pequenininho ou sem costeiro. Então vamos vir com uma escola grandiosa, volumosa. com volume de desfile, sabe? Vai ser vai ser legal”.
A aposta no conjunto alegórico: Tem um quadripé na abertura da escola. E ao longo do desfile a gente vai ter seis tripés na frente do abre-alas. O abre-alas são dois chassis, mais dois carros e mais quatro tripés que vão vir na cênica que vem na frente do terceiro carro. Então estamos nessa proposta de criar uma dinâmica visual diferente do desfile, sabe… De não ser só ala, ala, ala carro, queremos colocar ali algumas coisinhas, algumas diferenças ali no meio do desfile para deixá-lo mais dinâmico visualmente. As pessoas têm sempre uma novidade para ver ali no desfile”.
Grande aposta do desfile
É difícil perguntar para um carnavalesco da sua maior aposta, entretanto, Caio Araújo apontou dois momentos que considera como diferenciais: “Aposto muito na abertura como um todo, desde a comissão até ela abre-alas. É o trabalho do Nildo na comissão. Então já vocês já sabem como é, dá para esperar um grande espetáculo dele. O coreógrafo Nildo é muito bom. E é muito gostoso trabalhar com Nildo. E o terceiro carro, aposto bastante no terceiro carro. Ele traz uma linguagem um pouco diferente do que estamos acostumados de ver aqui em São Paulo. Então aposto muito no terceiro e nesta abertura, da comissão até abre-alas, vai ser um conjunto bem bonito”.
Proposta de temas fortes
O carnavalesco Caio Araújo ressaltou a sequência de escolhas de enredo como foi no caso de ‘Oya Helena’, e o momento vivido pela MUM que busca o primeiro acesso à elite em sua história: “É importante olharmos para escola de samba e sempre tirar coisas boas de dentro dela, sabe? A Mooca é uma escola que está construindo um caminho muito legal e desde antes de vir para a Mooca já tava tipo de olho nela e admirando o trabalho estava sendo feito aqui dentro de resgate de bons enredos e de entender a importância de você contar uma boa história na avenida e de entender a importância de você ter um grande samba. A Mooca é essa escola que é corajosa no sentido de bancar decisões que favoreçam o espetáculo, que favoreçam o show do carnaval. É sempre importante ressaltar e exaltar isso de como a Mooca está construindo a história dela dentro do carnaval. Isso é uma escola que entende os quesitos de base, que os mais importantes são o samba e a história que estamos contando na Avenida. Se não tivermos uma boa história e um bom samba, podemos passar com o desfile mais lindo do mundo que ainda assim ele não vai ser relevante. Ele vai ser ali um momento de uma hora e cinco que vai estar passando na Avenida, pode ser campeão, até, mas que no final das contas não vale a pena. É isso, entender a relevância, o poder de uma escola de uma escola de samba e levar isso para frente. Isso é muito bonito na Mooca, é um projeto de escola, não é um projeto de carnavalesco e não é um projeto de pessoas que passaram por aqui ou que vão passar por aqui. É um projeto da diretoria e de como a diretoria entende que deveria ser o carnaval, essa necessidade de sempre dar um espetáculo grande pro público. É muito legal, eu acho que sempre tem que ser exaltado. E ouçam bastante Samba da Mooca que tá belíssimo, ‘Oya Helena’ vai dar muito certo na avenida”.
E agradeceu o artista André Rodrigues pelo início do trabalho na agremiação da Zona Leste de São Paulo: “O André faz um trabalho muito importante aqui, né, André Rodrigues que agora tá lá na Portela quando ele faz primeiro ali a ‘Santíssima Trindade de Oyo’, depois ele vai fazer ‘Abdias do Nascimento’ e acho que isso também ajuda a escola a entender muita coisa. Fica essa semente dele aqui que agora está germinando. O André é um artista tão potente por conta disso também, ele sabe plantar sementes ali nos lugares certos e a Mooca foi a escola certa para essa semente que ele plantou germinar e no final das contas é carnaval, tem que ser do jeito que a Mooca propõe assim, pensa esse espetáculo. Tem que olhar para trás, tem que olhar para frente. A Mooca é essa escola que equilibra muito bem a tradição com um novo”.
Conheça o desfile
Setor 1: “Vamos descobrindo que a Helena desde criança já recebe esse estímulo do pai e da mãe, a educação, a frequentar a escola de samba e os terreiros. Então ela tem essa religiosidade, essa relação com samba construída muito estreitamente desde muito cedo. Isso vai construir todo o repertório dela que vai mais tarde se transformar no trabalho acadêmico da Helena, então a gente começa o desfile justamente falando dessa mulher que nasce nesse contexto de país que introduziram ela já essa herança preta ancestral que existe aqui no Brasil. E a partir disso, a gente vai mostrando o legado da Helena. E aí a ideia é que na nossa abertura colocamos essa coisa do nascimento de Helena sob as bençãos de Iansã, como uma tempestade de mudança no dentro do da cultura e da construção do academicismo intelectual do Brasil. O nosso abre-alas é justamente isso, é sobre a filha de Iansã, a tempestade da mudança e a gente faz essa relação muito estreita também por dois fatores, né. Helena, filha de Iansã, tem um livro que é todo dedicado a falar sobre a Orixá. E por conta do que aconteceu conosco no ano passado, né? Depois do desabamento dos carros por conta da ventania, então a gente achava que também era importante homenagear Iansã e Oyá no nosso enredo. E aí no ano passado a gente fala desta tempestade que veio para o mal que nos prejudicou, mas essa tempestade também pode vir para o bem e aí a gente coloca a Helena como a grande tempestade que vem pro bem, ela foi um agente de transformação. Foi a primeira mulher preta a fazer mestrado no Brasil. Foi a mulher preta que colocou conhecimentos pretos dentro da Universidade do Brasil, antes dela isso não existia. Então essa é a grande mudança que ela vai propor, sobre as bênçãos de Iansã, ela vai promover essa mudança dentro do ensino do Brasil. E aí esse repertório se constrói dentro do terreiro, então vamos valorizar neste primeiro momento, a Helena dentro do terreiro descobrindo a religiosidade e a relação dos orixás com a natureza. E como a força deles age ali dentro do nosso mundo.
Setor 2: “A partir deste momento que a gente passa do nascimento da Helena para a juventude adolescência dela, vamos ter essa Helena crescendo literalmente dentro do Salgueiro. Então é uma mulher que vai pegar ali toda revolução salgueirense dos anos 60, onde começam a aparecer personagens importantes da história preta do país, Zumbi, Chica da Silva, Chico Rei, são personagens que o samba popularizou, não foram os livros de história, não foram as academias. Foi o samba e o Salgueiro ali nos anos 60 que traz esses personagens pro imaginário popular. E aí paramos para pensar numa criança preta dentro de tudo isso e crescendo com essas referências, então vemos a escola de samba, realmente é exercendo o seu papel de escola. Daí entendemos toda a potência que uma escola de samba tem, a escola de samba não é só uma festa que a gente faz uma vez por ano em fevereiro. Ela é também produtora de um conteúdo intelectual tão relevante quanto qualquer universidade. Se a gente não tivesse Salgueiro nos anos 60, talvez não tivéssemos ainda descoberto esses personagens ou teria descoberto eles por outras fontes, mas é importante entender a revolução cultural que uma escola de samba é capaz de propor e a Helena aprende isso na adolescência dela e vai transportar isso mais tarde para o trabalho que é quando a gente já vai chegar no desfile na vida adulta de Helena. Que Helena pega a Academia do Samba e vai levar um samba para academia, né? Então, Helena vai pegar todos esses conhecimentos que ela adquiriu ao longo da vida nas escolas de samba e nos terreiros vai levar para dentro de uma faculdade que é absolutamente embranquecida. Onde só existiam referências europeias e aí ela vai falar ‘não essas referências não começam ali na Europa’. Se falarmos de filosofia, que é ali a primeira formação de Helena, a filosofia não começa na Grécia, os filósofos gregos foram estudar no Egito, um país africano com dinastias pretas e que construiu boa parte da base do conhecimento ocidental.
Setor 3: “E aí a gente passa neste último setor por esse processo de empretecimento da academia onde Helena vai tirando essas referências brancas e vai colocando referências pretas dentro do Imaginário do Brasil. Aí a gente chega no último carro que é uma celebração ao trabalho da Helena e que é também um grande resumo do nosso enredo. O carro é uma grande biblioteca, mas não é uma biblioteca como a gente conhece porque esses conceitos mudam também com a Helena, então não era simplesmente colocar um monte de estante com livrinhos ali, que iam dar conta de falar de tudo que o trabalho de Helena representa e do que a figura dela representa. O que acho muito interessante na figura dela, é isso a gente conhece dentro dos sambas, muitas mulheres pretas que começaram a frequentar terreiros muito cedo, que entendem o poder de uma escola de samba e a ideia que todas essas mulheres olhem para Helena Teodoro, conheçam o trabalho dela e se identifiquem. Ali que a gente vai ver que dentro de cada escola de samba de São Paulo e do Rio de Janeiro vai ter muitas Helenas Teodoros, muita mulher preta foda ali pra gente admirar e tomar como um norte sabe que são verdadeiros agentes de transformação da mesma maneira que Helena foi. E acho importante a gente falar da Helena, porque é isso ela fez essa mudança tão grande dentro da do ensino brasileiro e ainda assim ela não é uma figura extremamente popular. Ela é mais popular dentro do nicho do samba. É legal que a gente populariza o nome dela, entenda a importância e relevância dessa mulher que desde cedo ali, desde os 13 anos, ela já começou a colocar os dois pés no peito ali para falar ‘ó a herança do povo preto é tão relevante tão importante quanto qualquer outra que a gente a valoriza nesse país’. E é esse o caminho que a gente vai levar. Vamos falar muito do legado dela para construir esse imaginário de quem é Helena Theodoro e do porque ela é tão relevante e tão importante no nosso país”.
Ficha técnica
3 alegorias
15 alas
10 tripés (um quadripé)
1300 componentes
Diretor de barracão – Diego Falanga
Diretor de ateliê – Cristiano