Por Guilherme Ayupp. Fotos: Magaiver Fernandes
A Colorado do Brás foi a primeira escola a desfilar na noite de abertura dos desfiles do Grupo Especial em São Paulo. A vermelha e branca apostou em um conjunto de fantasias modesto com materiais bastante simples para uma escola da elite do carnaval, embora não pisasse no grupo desde 1993. De positivo o conjunto alegórico e o samba-enredo, aspectos que podem ajudar a escola a lutar pela sonhada permanência. A Colorado conclui seu desfile em 62 minutos e apresentou o enredo ‘Hakuna Matata – Isso é viver’.
Comissão de Frente
A proposta da comissão de frente foi mostrar a ligação entre o homem e o mundo espiritual, onde nada pode acorrentar o espírito livre e só a fé conforta e nos livra das algemas. Formado por um grande xirê, as fantasias foram inspiradas em orixás que bailavam e davam força para o escravo, que mesmo com sua dor não se deixava, através da sua fé, enfraquecer o espírito. As fantasias dos orixás se basearam em uma proposta lúdica, que criava um figurino livre sem a necessidade de seguir indumentárias dos cultos religiosos. Exú, Oxalá, Oxóssi, Logun Edé, Xangô, Obá, Oxum, Oxumaré, Ogum, Iansã, Nanã, Omulu, Iemanjá e Ossain foram os orixás representados na comissão da Colorado.
A apresentação contou com uma coreografia simplificada, porém sem erros nas duas primeiras torres de julgamento. Os bailarinos tinhas costeiros volumosos e os movimentos se deram de uma forma bastante sincronizada. A jurada da primeira torre de julgamento acompanhou com bastante atenção a atuação dos bailarinos, observando possivelmente a pasta de defesa do quesito. Os integrantes tinham maquiagens no rosto nas cores do figurino apresentado.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
O primeiro casal da Colorado se apresentou com a indumentária intitulada ‘O Nascimento do Continente’. A fantasia representava o símbolo de força e sabedoria africana, tendo em sua composição a grande mãe África. A roupa trouxe elementos do nascimento do povo africano dentro da proposta de cores e mistura de cultura do povo africano. A fantasia da porta-bandeira teve a intenção de mostrar a riqueza de formas do continente e gerar a vida, como uma verdadeira mãe, carregando nas suas costas um bebê cênico que criava um elo da maternidade e amor entre a África e seu grande fruto: a vida. O mestre-sala, com sua fantasia inspirada em tribos, seguia o poder de proteger este amor entre a mãe e seu filho, tendo papel patriarcal com o fruto carregado nas costas da mãe África. Assim como os guerreiros africanos que defendem sua cultura, o dançarino defendeu a cultura carregada no continente representado pela porta-bandeira.
Ruhanan Pontes e Ana Paula apresentaram-se de maneira correta nas duas primeiras torres de julgamento do quesito. O destaque sem dúvida foi o belo jogo de cores da indumentária da dupla. A saia possuía plumas nas cores verde, laranja e roxo. E Ruhanan também possuía muitas plumas em tons que combinavam com a de sua parceira.
Harmonia
A harmonia teve uma atuação irregular na apresentação da Colorado do Brás. As alas do primeiro setor do desfile praticamente não cantaram o samba-enredo, o que melhorou nas alas intermediárias. Antes do final do desfile novamente foi possível detectar com facilidade componentes em alas que não cantavam. Por fim a ala final, com camisas de apoio, cantou bastante o samba-enredo da escola encerrando bem o desfile.
Enredo
No carnaval 2019, a Colorado do Brás decidiu brincar com a música ‘Jambo Bwana’, do grupo queniano Boney M. que, que lançou para o mundo em 1983 a expressão “Hakuna Matata”, representando “sem problemas”, “seja livre” e “seja feliz”. A música tinha como objetivo atrair turistas para o país que acabara de se libertar de uma ditadura.
A Colorado teve bastante dificuldade de realizar bem sua proposta na avenida. Embora os carros e fantasias tenham tido um bom aspecto visual, a leitura do enredo ficou bastante dificultado devido à complexidade do tema, que acabou não se comprovando na avenida, através do conjunto plástico apresentado.
Evolução
O quesito deve causar algumas perdas de décimos na escola. Ao entrar no primeiro recuo de bateria, abriu-se um buraco entre os ritmistas e a ala que vinha posteriormente. Outro aspecto que pode acarretar na perda de pontos é o fato de praticamente todas as alas terem passado pela avenida andando, ao contrário de evoluírem com destreza e espontaneidade.
Samba-Enredo
O samba-enredo da Colorado iniciou sua apresentação no Anhembi cativando bastante o público presente nas arquibancadas, frisas e até camarotes. A obra se mostrou ser bastante popular em sua comunicação com o público no Sambódromo. Ao longo da apresentação seguiu-se um bom padrão de desempenho do samba, sob a competente condução do intérprete Chitão Martins e da bateria. Ao final do desfile as arquibancadas dos últimos setores cantavam e aplaudiam o samba.
Fantasias
O conjunto apresentou-se com materiais simples, porém não haviam alas mal acabadas. Duas se destacaram perante as demais. A ala de baianas, com uma belíssima indumentária, com direito a tons de tecidos diferentes entre as senhoras. Outra ala que causou bastante impacto na avenida veio no último setor da escola, totalmente verde, com folhas sintéticas. A maioria das alas apostou em tecidos sublimados, dando um efeito de estamparia diferenciado.
Alegorias
Os destaques do abre-alas na parte superior na frente da alegoria se apresentaram pouco carnavalizados. O abre-alas era acoplado e vermelho e preto. Foi o mais imponente do conjunto, como era de se esperar. O material de cesto de palha na segunda alegoria pintado deu efeito bonito na avenida. Assim como as fantasias, os carros se apresentaram com materiais simples mas sem falhas de acabamento. A alegoria da aranha causou impacto na avenida, embora materiais de acabamento simples. O única a apresentar falhas de acabamento foi o quarto carro, apesar de bastante bonito e imponente
Bateria
A bateria da Colorado ajudou a impulsionar os melhores momentos de canto da escola, com duas paradinhas em destaque. A primeira quando a letra do samba exaltava o orixá Xangô. A segunda foi um dos pontos altos do desfile, quando o samba falava em ‘canção e sentimento’ um paradão obrigava a escola cantar.
Outros Destaques
Antes do desfile iniciar a Liga SP e a Prefeitura de São Paulo prestaram uma homenagem muito bonita ao Mestre Sabu, o locutor da avenida durante 28 anos. Uma placa foi entregue à esposa dele, que morreu na semana do carnaval. Durante o desfile a ala de baianas emocionou com uma fantasia muito bonita. A indesejada chuva acabou afetando o desfile da escola. Com meia-hora de apresentação a água começou a incomodar e atingiu seu ponto de maior força aos 48 minutos, mas no final perdeu força.