Apesar de pouco falado (e lembrado), José Leite foi uma das figuras mais importantes da história da Vila Isabel.
Trabalhou na Escola desde a sua fundação e era uma espécie de braço direito de Antônio Fernandes da Silveira, o Seu China, o primeiro presidente (que aparece no retrato mostrado por seu filho, o compositor Djalma Sapo).
Leite sempre foi de jogar para o time, carregando o piano. Uma de suas missões era fazer visitas ao ateliê do pintor e escultor Miguel Moura, um dos primeiros carnavalescos da cidade. Nesses encontros, no Centro, surgiam papos e ideias, e deles nasciam os enredos da Vila – cujas alegorias e fantasias eram criadas pelo próprio Miguel.
Como sempre fazia, Leite embrulhava as pranchas com todo o carinho e tomava o bonde de volta para Vila Isabel.
Certa vez, já no bonde, Leite teve que enfrentar um impiedoso temporal. Ficou mais de dez horas ilhado em diversos alagamentos entre a Presidente Vargas e a Praça Barão de Drumond. Tomou todos os cuidados possíveis para que a chuva não respingasse nas telas pintadas a guache.
Era quase meia-noite quando Leite conseguiu descer do bonde com o material são e salvo. A chuva já havia passado, mas as ruas estavam cobertas pelo lamaçal. Atravessou a praça, escalou as escorregadias escadarias do Morro dos Macacos até chegar à residência do presidente, que aguardava a entrega do material desde o final da tarde.
Lá chegando, Leite encontrou Seu China só de calção e tamancos, tomando uma cerveja champanhada e ouvindo o noticiário no rádio. Abriu os braços, feliz por ter conseguido cumprir sua missão com lealdade e bravura:
– Meu presidente!
Seu China fez aquela cara de poucos amigos, de cacique empombado, e soltou os bichos:
– Vocês não querem p. nenhuma!