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Casal Segredo: ‘Alegria e trabalho árduo são os principais ingredientes para uma comissão nota máxima’

Bailarinos, coreógrafos, parceiros, casados e pais. Priscilla Mota e Rodrigo Negri construíram e aprimoraram seu legado ao longo dos anos, especialmente na Marquês de Sapucaí. Apelidados e já conhecidos como “Casal Segredo”, eles não acreditam numa fórmula mágica para o sucesso de suas comissões de frente. No entanto, caso existisse, alegria e trabalho árduo seriam os principais ingredientes.

Em entrevista concedida ao site CARNAVALESCO, a dupla abriu as portas de sua sala no barracão da Viradouro, onde trabalham atualmente, para responder perguntas sobre a carreira e planos futuros.

Vamos começar com a pergunta mais fácil. Qual é o desfile da vida de vocês? E por qual motivo?

Rodrigo: “Acho que ‘É Segredo!’ porque, sem sombra de dúvidas, mudou as nossas vidas”.

Priscilla: “Esse desfile fez com que a gente acreditasse que podíamos viver disso. Na verdade, eu tenho dois. O outro foi o da Mangueira em 2019 porque além de ter sido histórico, foi o ano em que nosso filho nasceu. Eu achei que não conseguiria me superar como profissional sendo uma nova mãe. Começamos a ensaiar quando ele tinha um mês e meio, até levávamos ele para o barracão para podermos trabalhar. Achei mesmo que não daria conta e, além de ter dado, vencemos o carnaval. Isso marcou muito como mulher”.

Qual desfile vocês acham que poderia ter funcionado mais e não foi possível?

Priscilla: “Acredito que o desfile da Grande Rio em 2018, falava sobre o Chacrinha. Foi a estreia do Renato Lage na escola e tivemos um problema técnico no desfile. A comissão de frente, talvez uma das mais difíceis que fizemos, era um espetáculo que poderia ser levado para qualquer lugar. Não se restringia a Sapucaí, aquilo realmente funcionaria num teatro, num musical, num circo… era uma comissão extremamente trabalhosa. Ela foi concebida em dezembro, já estava pronta em dezembro, porque ainda precisava da gravação e pós-produção. Era uma performance interativa com o que acontecia dentro de uma televisão, então era difícil. Infelizmente passou batido. não foi marcante porque os problemas marcaram mais”.

Rodrigo: “Entrou no bolo da escola com a situação técnica do carro… enfim, o trabalho ficou perdido no meio disso, mas era um trabalho que a gente gostava muito. Muita gente até comenta sobre, entendeu a dificuldade que foi, porque era tudo na hora… a gente tinha que equalizar o vídeo com o som ao vivo”.

Hoje, qual é o maior desafio da comissão de frente? Ser a síntese do enredo ou um espetáculo impactante de abertura?

Priscilla: “Fazer a síntese é muito difícil, principalmente quando temos enredos tão densos como o da Viradouro esse ano. É uma saga, um enredo que caberia em vários carnavais… penso que se a história da Rosa fosse contada em filmes, seriam várias sequências. O Tarcísio conseguiu brilhantemente sintetizar a história na proposta do desfile, e dentro disso temos que sintetizar mais ainda. É o maior desafio”.

Rodrigo: “Mas também acho que não é uma regra da comissão de frente. A gente gosta de seguir essa vertente, mas alguns coreógrafos preferem focar num só momento. O lance da síntese é difícil mesmo porque precisamos criar algo rápido, marcante e de fácil entendimento, não só para o público como também para os julgadores”.

Sem ser a de vocês, qual é a comissão que adoram? Podem citar até três.

Priscilla: “Theatro Municipal, 2009. O Marcelo Misailidis fez na Vila Isabel. Também tem a da Vila Isabel em 2012. Gosto muito dessa linha teatral que o Marcelo segue. Na verdade, a gente bebe um pouco da fonte dele, certo? Muitas pessoas vieram antes da gente e admiramos o trabalho até antes de sonhar em fazer carnaval”.

Rodrigo: “A do Carlinhos de Jesus, em 1999, na Mangueira com os baluartes”.

Gostam de ser chamados de “Casal Segredo”?

Rodrigo: “Acho que é uma marca e a gente gosta, sim. Foi uma fã nossa, do fã clube mesmo, que nos apelidou assim. Depois virou referência”.

Priscilla: “Não é que eu não goste, mas só acho injusto quando nos rotulam enquanto artistas. ‘Ah, a Priscilla e o Rodrigo só fazem mágica’. Se bem que isso já meio que caiu por terra também”.

Desde 2010 vocês mostraram que o elemento cenográfico era fundamental na comissão de frente. Ainda assim, alguns são trambolhos. O que pensam sobre o uso desses tripés no trabalho de vocês?

Priscilla: “É curioso porque a gente entende que a opinião pública não gosta muito dos trambolhos, mas se você pegar um mapa de julgamento e as notas, principalmente dos últimos anos, as comissões de frente mais bem pontuadas são as que trazem elementos cenográficos grandes que fazem com que elas sejam espetáculos. Ficamos entre a cruz e a espada, então tentamos trazer um espetáculo com o menor elemento cenográfico possível dentro da proposta. Tem vezes que conseguimos e outras não. Mas acaba que isso vira uma exigência das notas e, infelizmente, com elementos cenográficos menores é mais difícil. Hoje o ponto de partida do nosso trabalho é esse, tentar caber o nosso grandioso espetáculo dentro do menor elemento possível para aquele ano. Acho que o alegórico grande incomoda quando impede a visão do público. Imagina trazer um elemento que parte do público não consegue enxergar? Isso atrapalha. Quando é para o bem do desfile e você consegue fazer com que todos assistam, todo mundo sai ganhando.”

Rodrigo: “É muito difícil para a gente encontrar esse equilíbrio porque queremos agradar ao público e aos julgadores. Também temos as necessidades do trabalho. Às vezes tem coisas que não conseguimos viabilizar, diminuir, por uma questão técnica. Mas é lógico que pensamos em beneficiar todo o público porque isso é importante. Quando estamos dançando, essa energia deles chega na gente e até nos julgadores”.

O intercâmbio com artistas do campo erudito, como balé e ópera, existe há muito tempo. Qual é o impacto inicial e quais são as diferenças de trabalho?

Priscilla: “Acho bacana porque nós viemos de uma formação clássica, erudita. Somos bailarinos do Theatro Municipal. O que a gente traz é a nossa disciplina. A maneira de conduzir o trabalho por aqui é extremamente rígida como no balé clássico, não dá para deixarmos as coisas ao sabor do acaso. Temos um cronograma, regras e devemos cumprir exigências físicas, técnicas e artísticas. A gente entende porque vivemos isso há anos e trouxemos para cá. Quando estamos coreografando uma peça, por exemplo, sabemos que existem etapas e o carnaval também não pode pular essas etapas. Aprendemos muito aqui, já que são universos completamente diferentes, mas acredito que se complementam”.

Rodrigo: “Como a Pri disse, acho que a disciplina é o foco principal e temos que juntar essas habilidades em prol de um trabalho bonito”.

Se pudessem, o que gostariam de aperfeiçoar no quesito Comissão de Frente?

Priscilla: “Tenho uma visão muito particular porque acho que cada artista responsável por comissões de frente tem seu jeito de trabalhar. Falando sobre a nossa experiência, a cada ano agregamos mais etapas porque entendemos que certas coisas estão fazendo falta. Não trabalhamos mais sem fazer uma imersão teatral, por exemplo. Contratamos um preparador, fazemos com que ele entre no universo do enredo com a gente e isso faz com que o elenco se sinta prestes a estrear numa peça. Fazemos palestras, circuitos artísticos, rodas de exercícios e debates, antes mesmo de entrarmos na coreografia. Para o nosso trabalho, é uma coisa que enriquece muito. Agora englobando na parte do carnaval, acho que certas coisas atrapalham, mas sinceramente não sei como resolver. A questão da chuva é uma dessas. Todo mundo sofre, não só a comissão de frente, mas acredito que coisas possam ser melhoradas. A maneira como o quesito é julgado… Chegamos num momento em que a comissão de frente tem um papel tão importante no desfile que ela é técnica e subjetiva, mas nem sempre a subjetividade é entendida da mesma forma. Então, acho que precisamos ter mais conversas com os julgadores sobre o caminho, sabe?”.

Rodrigo: “Sim, e esse feedback deles, caso tenham alguma opinião relacionada ao nosso trabalho, pode servir de aprendizado para aprimorarmos no ano seguinte. Ter um bate-papo ajuda”.

Acham legal que tenha a apresentação apenas na frente do módulo de julgadores ou gostariam que a análise fosse como em São Paulo, pela pista toda?

Priscilla: “Antigamente, se não me engano em 2010, 2011 e 2012, eram cinco cabines. Agora só paramos três vezes e, naquela época, era obrigatório pararmos cinco vezes. Os setores eram mais privilegiados porque fazíamos o espetáculo completo mais vezes. Ainda nos preocupamos em, entre as cabines, criarmos coisas para os setores também. Não passamos batidos de um módulo até outro. Mas tudo que pode ser feito em andamento, sem parar, pode acreditar que fazemos para que o público veja”

Rodrigo: “Gostaríamos de fazer até mais, mas é uma questão de técnica e tempo de desfile. A gente não consegue porque tem o andamento da escola, e se parássemos muitas vezes atrapalharia tudo”.

Como funciona o processo de criação de vocês? Quando se inicia e como se desenvolve a cada mês até o desfile?

Priscilla: “É árduo… Por exemplo, o carnaval de 2022 foi em abril. Viemos para a Viradouro em maio e já começamos a conhecer os artistas da escola, conversar com o Tarcísio. O enredo foi lançado e em junho já estávamos fazendo todos os testes. Depois, começamos com o processo da imersão, passamos a vir aqui periodicamente, vendo as fantasias saindo do papel e entendendo os setores. A partir disso iniciamos o desenvolvimento da comissão de frente. Tudo parte do princípio de estarmos aqui com o carnavalesco para sonharmos juntos e não ser algo do tipo ‘Unidos da Frente, Acadêmicos de Trás’”.

Rodrigo: “Sempre pensamos em fazer esse conjunto… enfim, muitas reuniões. Quando começamos a desenvolver o projeto, também temos uma cenógrafa que cuida disso. Normalmente em outubro iniciamos os ensaios com os bailarinos, três vezes por semana, mesclado com as outras preparações que mencionamos. Em janeiro passa a ser algo diário”.

Esse ano vocês não vão fazer comissão de frente na Série Ouro. É um “adeus” ou um “até breve”?

Priscilla: “Olha, atualmente está bem definido como um adeus. Acho que é impossível, pelo nível de exigência e cobrança que temos com o nosso trabalho. A União da Ilha ensaiou da mesma forma e com o mesmo empenho que a Mangueira. Como também existe a problemática dos recursos, você precisa se empenhar dez vezes mais para conseguir criar, às vezes, o mínimo. É muito complicado. Temos somente as mesmas 24 horas de um dia. Foi um processo de grande aprendizado e não nos arrependemos. A Ilha se superou e fez uma comissão linda, mesmo com as dificuldades que a Série Ouro enfrenta. Eles levaram uma comissão de frente que as pessoas amaram, nós também amamos. Foi muito gostoso, mas é bem difícil”.

Rodrigo: “Foi muito cansativo para a gente, somos muito intensos no nosso trabalho. Entendemos que trabalhar em duas escolas é quase impossível porque a gente deixa de viver. Também não temos dois grupos. O nosso grupo se dividiu e desfilou nas duas escolas. Para eles foi cansativo, fisicamente e psicologicamente. Ao mesmo tempo, tivemos a oportunidade de passar pela Avenida duas vezes. A gente trabalha tanto, nos ensaios e tudo mais, e parece que passa rapidinho. Quando entramos com a Mangueira, já não estávamos tensos. Enfim, agora é uma despedida e não pretendemos repetir a dose”.

Quando chegaram na Viradouro vocês falaram sobre o motivo de escolherem a escola. A estrutura dada é muito diferente das outras? O que é tão diferente?

Priscilla: “É diferente pela questão da atenção da equipe aos detalhes. É uma escola atenta que trabalha com antecedência para te dar a oportunidade de fazer o melhor. A gente não corre atrás do tempo, a gente corre atrás da qualidade. Não precisamos tentar resolver porque o tempo está acabando, não tem funcionário e não tem as coisas. Aqui temos o tempo, os funcionários e as coisas. A estrutura e a organização são muito boas, então a gente pode se dar ao luxo de ficar testando, buscando o melhor…A nossa passagem por outras escolas também nos trouxe muitas expertises que colocamos aqui. Tudo acaba sendo uma grande troca. Nós ensinamos e aprendemos. Acho isso muito legal no carnaval. Esse encontro de artistas, saberes e viveres”.

Rodrigo: “Essa atenção é fundamental. Já passamos por algumas escolas e entendemos a diferença. É desgastante estar perto do desfile e termos que resolver mais coisas. Aqui a gente não sente isso. Se pensamos em algo, eles tentam resolver para estar nas nossas mãos o mais rápido possível. A gente só precisa se preocupar mesmo com a parte artística, sem bater a cabeça por questões que não nos cabe”.

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