Por Lucas Santos, Guibsom Romão, Maria Clara e Matheus Morais. Fotos de Nelson Malfacini

Segunda escola a pisar na Sapucaí para a realização do ensaio técnico da Série Ouro, o Arranco do Engenho de Dentro viu uma dupla que está iniciando sua trajetória juntos se destacarem. Yuri Souzah e Gislaine Lira fizeram uma apresentação muito singela, forte e receberam uma boa resposta do público. Já o restante do desfile do Arranco deixou um pouco a desejar, principalmente, pelo baixo rendimento do canto da comunidade da tradicional escola da Zona Norte. O samba, uma obra mais melodiosa, também não conseguiu impulsionar um desfile mais alegre da agremiação, ou mais delirante como manda o enredo. Com pouco mais de 50 minutos de ensaio, o Arranco realizou o seu principal treino para o próximo carnaval. * VEJA AQUI FOTOS DO ENSAIO

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Para 2024, a Azul e Branco da Zona Norte vai trazer o enredo “Nise – reimaginação da loucura”, desenvolvido pelo carnavalesco Nícolas Gonçalves, que busca exaltar a importância de Nise da Silveira e abordar o seu legado para a saúde mental brasileira, de uma forma afetuosa e carnavalizada, dando enfoque à sensibilidade da homenageada diante da imensidão dos mundos da loucura. A agremiação será a terceira escola a pisar na Sapucaí no sábado de carnaval.

“Eu avaliei que a gente ainda tem muito que melhorar, mas como aqui é para treino, então é para isso. O samba foi bem cantado, a evolução temos que trabalhar mais, mas eu acho que a gente está em bom passo. Acho que a escola evoluiu bem, saímos em 52 minutos. Certo que a escola que compacta aqui, não é a mesma que vai para o desfile, por causa dos carros, mas eu acho que a gente ainda tem tempo de concertar as coisas que precisam. A gente vai chegar quase em 1.900/2.000 componentes e isso cortando porque todo mundo quer desfilar”, disse Cosme Márcio, diretor de carnaval.

Comissão de Frente

Os bailarinos das coreógrafas Suelen Gonçalves e Karen Ramos apresentaram uma coreografia mais parecida com os movimentos preparados para o minidesfile no lançamento oficial do álbum da Liga-RJ na Cidade do Samba em dezembro. A indumentária impressionou um pouco menos do que a utilizada naquele evento também. A coreografia trazia um pouco da loucura que trata o enredo, muito voltada para o delírio, apostando em dança e passos mais marcados, sem nenhum artifício de surpresa ou efeito especial. Um dos pontos altos era quando uma bailarina era erguida pelos componentes. O efeito das saias dos integrantes também foi um ponto positivo do desfile do Arranco.

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“O ensaio foi super positivo, viemos super bem, fizemos o que imaginavamos. Foi bem legal, bem bacana, a escola veio bem forte como um todo. Vamos contar a história da Nice e a sua relação com os seus clientes, de uma maneira muito bacana, simples e amorosa, do jeito que ela era”, explicou a coreógrafa Suelen Gonçalves.

“O ensaio técnico é um termômetro para a gente sentir como está a escola e o andamento da comissão de frente em relação à escola. É muito importante a comissão não prender a escola ou correr demais, então hoje foi bem bacana, bem positivo, apesar da gente não ter mostrado o que a gente vai mostrar no dia, obviamente, para não dar spoiler. Mas o andamento é mais ou menos esse, a velocidade e a energia é essa. O que eu posso dizer é que nós estamos preparados para emocionar a Sapucaí, com essa história da Nice (da Silveira, médica psiquiatra e tema do enredo) que mudou todo o método da psiquiatria e transformava a vida dos seus clientes (maneira que Nice se referia aos seus pacientes) através da arte, isso vai emocionar a Sapucaí”, completou Karen Ramos.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O casal Yuri Souzah e Gislaine Lira, estreando a parceria para o carnaval deste ano, optou por um bailado mais clássico, focando nos passos mais tradicionais do casal de mestre-sala e porta-bandeira. A exceção foi um pequeno passo marcado realizado para entrar na coreografia bem no início da cabeça do samba de forma bastante singela e sincronizada. Ambos estavam com uma indumentária prateada, Yuri ainda possuía um charmoso chapéu. É importante elogiar a postura corporal do casal e a sensualidade principalmente de Gislaine ao ser cortejada pelo mestre-sala. A porta-bandeira também mostrou bastante arrojo e personalidade em seus movimentos. Apresentação muito madura do casal.

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“Eu estou emocionada, eu estou aqui tremendo com vontade de chorar. Nosso Arranco tomou a Avenida e foi uma sensação única! Mais uma vez, o Arranco me dando essa sensação incrível de me emocionar ao pisar nesse chão e defender esse pavilhão que eu amo tanto. Eu estou muito feliz com o resultado de hoje e agora é rumo ao nosso desfile. A cada ensaio a gente percebe que pode ser melhor. A gente pensa muito, é uma questão de perfeccionismo né, até o último dia e o último instante a gente sempre pode melhorar mais. Hoje a gente saindo desse desfile vamos revisar e vamos ver mais ou menos e vamos sentir a energia, como é que fica nosso estado físico, lógico que no dia do desfile tem a fantasia, mas tem como a gente fazer uma pré avaliação e planejar o que a gente vai fazer daqui pra frente e da melhor forma porque a gente quer atingir um objetivo maior da escola”, disse a porta-bandeira.

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“Foi emocionante, conseguimos exercer todos os nossos combinados, todas as nossas coreografias a gente conseguiu exercer e o que restou para gente é só felicidade, alegria e emoção. A gente veio emocionado do início ao fim e rumo ao carnaval, falta pouquinho e bate aquela ansiedade grande, mas eu sei que no final tudo dá certo. A Arranco está linda, a escola está linda, está grande e é isso daí. A fantasia é segredo, mas estamos totalmente dentro do enredo, já é um spoilerzinho”, completou o mestre-sala.

Harmonia

Conduzido por Thiago Acácio e Pâmela Falcão, o carro de som teve um desempenho satisfatório com a obra, beneficiado também com um equipamento de som melhor que no início da noite de apresentações no Sambódromo. Mas, Thiago e Pamela, também mostraram o entrosamento de sempre e fizeram com que a obra passasse bem, ainda que não tenha mexido tanto com público e componentes, até pela sua característica mais melódica. Já o canto da comunidade começou até positivo, bem nas alas iniciais, mas ao longo do desfile e da escola foi diminuindo. Era possível ver muita gente não cantando ou só cantando os refrões.

“A gente hoje a gente teve essa oportunidade de estar pisando pela primeira vez na Sapucaí com esse samba incrível, o trabalho está sendo feito de uma forma muito linda. Hoje a gente teve alguns pequenos problemas de som, que a gente tem certeza que a gente vai ajustar para o desfile. Conseguimos fazer um trabalho bacana, o desfile rolou até o final, conseguimos trazer uma otimização e é bom que a gente observa as coisas que pode melhorar já para o desfile. O Arranco está fazendo um carnaval lindo, nossa escola veio linda, cantando, nossa bateria ‘Sensação’ está um arraso, estou feliz demais com esse momento”, garantiu Thiago.

“Acho que a gente conseguiu encontrar o tempo certo, o andamento certo. O samba cresceu absurdamente desde a nossa primeira gravação e eu acho que caiu na graça. Na graça dos arranquistas. Um refrão muito fácil, todo mundo explode. Não é à toa que o meu caco que é exatamente esse: ‘Agora, minha escola’ e aí a gente sobe no refrão e vira, não é delírio não”, comentou Pâmela.

O intérprete citou também o entrosamento do carro de som com a bateria. “Esse entrosamento que está muito gostoso porque a gente está curtindo o processo desde o início. As bossas que foram montadas, foram com a gente, junto com os diretores de bateria na quadra, cantando samba. Porque assim, da mesma forma que eu estou estreando, a Pâmela está nesse ano tão especial pra ela, o segundo ano, trazendo enredo, tem muito a ver com ela e com a vivência dela. Mestre Gilmar retornando agora pro Arranco. Essa equipe toda do Arranco é uma galera que está trazendo um sonho muito grande para poder realizar aqui na Sapucaí junto. A gente tá de mão dada pra fazer esse sonho acontecer”.

Evolução

Para uma escola que traz uma importante mensagem, mas ainda assim uma busca pelo delírio, faltou um pouco mais na Sapucaí. Algumas pessoas andavam. Ainda que sem buracos e sem alas emboladas, para uma evolução satisfatória desse desfile, faltou mais alegria ao componente. Sobre as alas coreografadas só se observou o fenômeno em uma que vinha logo depois do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, com pompons na mão, fazendo movimentos que em algum momento todos se uniam ocupando um corredor imaginário mais para o centro da pista. A fluidez do desfile pode ser citada como ponto alto da evolução, a escola demorou pouco parada e sempre se movimentou com fluidez.

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Samba-enredo

A obra dos compositores Gegê Fernandes, Negô Vinny, Robson Ramos, Niu Souza, Bello e Dilson Marimba tem um caráter mais melodioso e o andamento desta noite também acabou não conseguindo fazer o desfile explodir. Os refrãos foram os versos mais cantados, principalmente o do meio “No templo da arte, mandalas em cores”. Apesar de não ter impressionado muito o público, o samba teve em Thiago e Pamela um consolo para melhorar o canto até o desfile. Destaque para a melodia bastante funcional da obra que facilitou o aprendizado do público.

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Outros destaques

A rainha de bateria Graciele Bracco, a “Chaveirinho” veio vestida com uma malha em tons claros realçando sua beleza. Em seu discurso a presidente Tatiana dos Santos agradeceu pela dedicação de todos os componentes. A dupla de intérpretes fez o grito de guerra em homenagem ao Quinho que faleceu esta semana. O colorido da fantasia e pelo samba no pé das passistas do arranco impressionou. Os meninos também mostraram muita desenvoltura. O samba escolhido para o esquenta foi o de 2009, quando a escola ainda frequentava o Grupo B. As musas e os destaques do chão capricharam no colorido e nos delírios em maquiagens bastante abstratas.

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“Melhor que isso eu não poderia pedir, tivemos o andamento que eu queria. No mini desfile, foi um andamento que não era tão confortável para mim, um andamento que eu não estou acostumado a trabalhar. Mas hoje a bateria veio leve, eu pedi para eles virem hoje se divertir. As bossas que nós ensaiamos foram bem executadas, claro que, isso aqui é uma prévia para o desfile, ainda vamos sentar para analisar e discutir, mas no geral, eu posso falar que estou muito feliz com o resultado de hoje. A gente sempre tem o que aperfeiçoar, a gente não pode chegar no ensaio técnico e dizer que estamos prontos, tem que aperfeiçoar, limpar algumas notas que possam ter estado fora, temos que ver o que funcionou e o que não funcionou em bossas. Eu gosto muito do naipe de terceira, o desenho que meu diretor é lindo. Não só ele, eu tenho que falar do encontro do tamborim com o chocalho, o naipe de cuíca, o agogô, no geral, eu estou muito satisfeito. Como eu falei para eles, 100% desse trabalho que vocês viram aqui hoje, eu dedico à minha diretoria. O entrosamento foi perfeito com o carro de som. Hoje eu fiquei muito impressionado em ver como os ensaios que a gente fez lá, funcionaram no dia de hoje”, afirmou mestre Gilmar.