O Paraíso do Tuiuti abriu a segunda noite de desfiles do Grupo Especial com o enredo “Batizado Ka ríba ti ye – Que nossos caminhos se abram”, falando de homens e mulheres negras que fizeram história na humanidade e são exemplos de sabedoria e resistência. O início do desfile trouxe Oxalá modelando o barro e criando o ser humano na comissão de frente, enquanto o abre-alas da escola representava os “Caminhos de Orunmilá”, que é o senhor dos segredos e do conhecimento.
A escola associou cada Orixá a uma das figuras ilustres que entraram para a história, pois cada um seria o Orixá de cabeça dessas personalidades presentes no enredo. A velha guarda desfilou como os “Guardiões da tradição”. No primeiro setor, “A espada e a palavra – Lideranças na política”, o Tuiuti trouxe alas em homenagem ao faraó negro Piankh Piye, ao rei africano Mansa Kanku Mussa, ao casal quilombola Zumbi e Dandara e ao ex-presidente sul-africano Nelson Mandela.
A ala das baianas foi batizada como “O movimento de mudança – Obà si, Angela Davis”, e representou a bravura de Obá, orixá protetora do poder feminino. As senhoras do Tuiuti exaltaram a escritora e ativista norte-americana Angela Davis, que luta pelo fim da discriminação racial e pela igualdade de gênero.
Josiane Moraes, 50 anos, assistente social, revelou o seu sentimento antes do desfile. “É uma honra, pela história dela. Porque ela lutou contra o racismo, pela independência feminina, contra a desigualdade de gênero. E representando Iansã, que é Obá em yorubá, como guerreira que ela foi”.
A indumentária das senhoras do Tuiuti era toda trabalhada nas cores branco e dourado, com detalhes em preto, prata e vermelho. Elas traziam nas mãos a espada de Obá, reforçando a força e a luta das mulheres negras. Búzios e pedrarias vermelhas faziam parte da luxuosa roupa da ala das baianas.
“Eu tô amando, tô gostando muito! É uma emoção muito grande. Quando a bateria começa a tocar então… Parece que dá vontade de entrar na bateria e ir junto com ela”, disse Silvia Lemos, 64 anos, promotora de vendas. Ela ainda elogiou o figurino: “A fantasia tá linda, um luxo. Dá pra gente rodar bastante”.
As baianas vieram atrás da ala “Um longo caminho para a liberdade – E se e babá, epà bàbà, Nelson Mandela!”, que assim como Angela Davis, também teve sua liberdade roubada ao passar parte de sua vida encarcerado. Entre as duas alas veio uma fileira de componentes fantasiados de ogãs, que executou uma coreografia na avenida.
Suzana Machado, 45 anos, servidora pública contou um pouco da emoção em desfilar pela escola, após meses de preparação. “A gente ia na cidade do samba ensaiar… Foram três meses de ensaio. E hoje a gente tá aqui, com muita alegria, pra expurgar todas as dores e preocupações”.