Por Aydano André Motta
A fila da criação carnavalesca andou – não para, na verdade – e embaralhou o resultado do desfile das grandes escolas de samba. Os novos artistas da festa ganham espaço crescente, com leituras diferentes, abordagens inéditas e atitude renovadora, que modifica a estética e as narrativas do espetáculo. Com qualquer desfecho para 2020, nada será como antes na Sapucaí.
Houve o tempo em que tudo era Joãosinho Trinta, Rosa e Renato, Paulo Barros. Acabou. Leonardo Bora e Gabriel Haddad, Edson Pereira, Tarcísio Zanon e Marcus Ferreira, Leandro Vieira, Jorge Silveira, João Victor Araújo chegaram para oxigenar o Carnaval, que, numa ciranda virtuosa, ganhou sambas melhores e desfiles mais interessantes.
Viva a diversidade!
Dela, nasce agora a mãe de todas as perguntas: quem vai ganhar? Nada menos do que oito escolas podem sair campeãs nesta Quarta de Cinzas, quantidade inédita na história recente do babado. Viradouro, Mangueira, Grande Rio, Portela, Vila Isabel, Salgueiro, Mocidade e Beija-Flor (pela ordem do desfile, notou?) vão tentar pôr o sono de volta no lugar, na noite da terça-feira, sonhando com a primeira colocação. E todas elas igualmente podem sequer voltar no Sábado das Campeãs.
Um ponto de interrogação maior do que o Cristo negro crucificado da Mangueira – imagem definitiva do Carnaval 2020 – serve de emblema ao desfile. Vamos lá:
– A Viradouro levantou a plateia com seu “Ó mãe, ensaboa mãe”, mas passou com carro apagado.
– A “Estação Primeira de Nazaré” foi ousada e imponente com sua versão para a história de Jesus, mas teve problemas com o canto e o samba.
– A Grande Rio empolgou com o hino mais lindo de sua história e o trabalho da dupla Bora/Haddad, mas se enrolou na entrada do abre-alas.
– A Portela teve a águia do revigorado Renato Lage e seu chão incrível, mas sofreu no início de sua apresentação.
– A Vila Isabel contrariou os gatos-mestres do pré-carnaval com excelente desfile, mas não conseguiu explicar o enredo.
– O Salgueiro surgiu lindo e com a força encarnada que marca sua trajetória gigante, mas toureou um samba fraco e acelerado.
– A Mocidade cantou apaixonadamente por Elza Soares, mas pecou na estética de alguns carros.
– E a Beija-Flor retomou seu lugar de Deusa da Passarela cantou como nos seus grandes momentos, mas tinha outro enredo indecifrável e ainda correu no fim.
Reparou? Todo mundo tem um “mas” para chamar de seu. É a nova era do espetáculo, com mais nuances e surpresas.