A força da torcida da Mocidade Independente de Padre Miguel é absurda. Não tenho dúvida que entre as pessoas nascidas nos anos 1980 e 1990 ela tem o maior número de apaixonados. É impressionante o volume de Independentes. Após passar por tempos difícies no início dos anos 2000 e até meados dos anos 2010 veio o ressurgimento. Porém, os dois últimos anos foram tenebrosos, inclusive, em 2023, a escola correu muito risco de ser rebaixada. O torcedor está machucado.
O resultado de 2022 e 2023 gerou pedidos de desculpas da direção. Na primeira vez, os componentes acreditaram e compraram a causa. Nada mudou, pelo contrário, infelizmente, piorou. Agora, o torcedor ainda machucado quer acreditar novamente. A paixão não tem limite e não pode ter mesmo. Porém, como confiar que será diferente?
É óbvio que a atual direção não tem nenhuma relação com as inúmeras penhoras que a Mocidade ainda passa, fruto de péssimas gestões anteriores. Os culpados seguem por aí, usaram e abusaram de benefícios, e deixaram dívidas e mais dívidas. É nítido também que essa direção tem totais condições de apoiar mais, principalmente, financeiramente. Querer é poder. É preciso respeitar quem não quer, mas também não é viável pedir racionalidade para torcedor.
O desfile de 2023 foi complicado demais. Até o momento da apuração, eu não tinha dúvida que a Mocidade, infelizmente, brigaria para ficar no Grupo Especial, inclusive, achava difícil permanecer. Afinal, em nenhum momento, cogitei o rebaixamento do Império Serrano. Por outro lado, eu sabia que a Verde e Branco da Zona Oeste tinha quesitos fortes, principalmente, seu casal de mestre-sala e porta-bandeira, Diogo e Bruna, além da bateria, comandada por mestre Dudu. Eu também confiava no trabalho do carnavalesco Marcus Ferreira, no coreógrafo Paulo Pina e na categoria de Marquinho Marino, um dos melhores diretores de carnaval. Foi assim. O grupo todo salvou a Mocidade. Não sei se foi justo, mas o certo é afimar que os citados conseguiram manter a escola no Especial.
Voltando ao resgate da Mocidade é preciso enaltecer a comunidade. Desde o título de 2017 é bonito e significativo assistir aos ensaios de rua na Vintém. Estão no hall dos melhores. Aí, a gente já esbarra em um entrave de 2023. A Mocidade começou a ensaiar na rua apenas em janeiro. Não pode. É custo? Ok, mas quem está no Grupo Especial tem que saber que ensaiar desde novembro, inicialmente, na quadra, e depois na rua, a partir de dezembro, é condição fundamental para realização de um bom desfile.
O título em 2017, junto com a Portela, devolveu o patamar de escola de samba que está sempre entre possíveis favoritas ao título. No início, mérito de Rodrigo Pacheco e Marquinho Marino. A dupla recuperou a escola. Houve um afastamento, muito falatório, acusações, e quem saiu perdendo foi a Mocidade.
No contexto do resultado foi fundamental as escolhas dos enredos, principalmente, a presença do jornalista Fábio Fabato, como enredista e autor da sinopses. Seus projetos foram essenciais para que grandes sambas-enredo fossem construídos. Por diversos anos consecutivos, a Mocidade entrou no ranking dos melhores sambas de cada carnaval.
Acho desleal colocar a culpa dos resultados de 2022 e 2023 nos carnavalescos Fábio Ricardo e Marcus Ferreira. O primeiro veio de um bom desfile pela Unidos de Padre Miguel, enfrentou dificuldades não imaginadas na Mocidade e não suportou. Chegou até o fim, mas sem levar seu projeto para pista.
O segundo é um grande artista, torcedor declarado, e que foi essencial para Mocidade não despencar esse ano. O trabalho de Marcus Ferreira recebeu o reconhecimento do torcedor Independente. Chegou a ganhar um prêmio Estandarte de Ouro, do jornal O Globo, por conseguir tirar da cabeça o que não tinha no bolso. A torcida é que tenha estrutura para conseguir, enfim, tocar tudo o que sonha para a Estrela Guia.
A direção ainda passará por uma eleição presencial. Faz parte da democracia. Como também faz parte, infelizmente, o falatório repleto de acusações que só minam a escola e afetam o sentimento de quem realmente ama a agremiação. O componente espera que o processo eleitoral previsto para esse mês passe o mais rápido possível e a Mocidade escreva novas páginas.
O que esperar para 2024?
Zé Paulo Sierra veio para o lugar de Nino do Milênio. Era um sonho antigo da Mocidade e do próprio Zé. Não sei se o momento é o adequado. Torço que sim. Lamento a saída do Nino que é um profissional sério, dedicado e que trabalhou demais para o Carnaval 2023. Por outro lado, imagino que Zé Paulo mexerá demais com o coração dos torcedores.
A direção de carnaval ainda me preocupa. Marquinho Marino saiu (bom para ele que vai respirar novos ares, mas péssimo para agremiação que perde um dos melhores diretores de carnaval). Ainda não se sabe se a escolha do novo diretor será prata da casa ou virá de fora. Talvez, a melhor solução seja pegar em casa, afinal, o mercado de direção de carnaval está fechado. A escola confirmou que o coreógrafo Paulo Pina segue no comando da comissão de frente. O artista merece. A direção de harmonia de 2023 saiu, mas ainda não foi divulgado quem entra. Os demais segmentos seguem para 2024. O Independente não vai parar de acreditar, afinal, a estrela nunca para de brilhar.