Por Diogo Sampaio

Nem mesmo o samba elogiado, o carro de som entrosado ou a bateria ousada, com várias paradinhas, foi suficiente para garantir uma boa apresentação da Lins Imperial na Avenida. A verde rosa do bairro de Lins de Vasconcelos foi a segunda escola a passar pela Marquês de Sapucaí nesta sexta-feira de Carnaval e acumulou problemas ao longo desta passagem. O primeiro deles ocorreu ainda na concentração, quando a barra de direção da segunda alegoria, intitulada de “A Lapa de Madame Satã”, quebrou e precisou ser rebocada, com apenas a parte do carro desfilando. Depois, os problemas prosseguiram nos chamados quesitos de chão, com uma harmonia de canto irregular e uma evolução repleta de falhas. Após ficar em ritmo lento no início, a escola precisou correr para cumprir o tempo, terminando o desfile no limite máximo de 55 minutos. * VEJA FOTOS DO DESFILE

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Comissão de Frente

Com o nome de “Madame Satã em atos – Resistir para Existir!”, a comissão de frente assinada pelo coreógrafo Carlos Bolacha trouxe uma síntese dos momentos mais marcantes da vida de João Francisco dos Santos, o Madame Satã. Acompanhada de um tripé, que trazia ao centro um palco em forma de chapéu, 11 integrantes vestidos de caveiras rosas interagiam com os personagens de casa fase, em uma dança teatralizada e bem-humorada.

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Logo no começo da coreografia, a comissão retratava a infância e juventude de João na região da Zona da Mata de Pernambuco, onde ele experimentou os primeiros delírios e infernos. Depois, em um segundo ato, a Mulata do Balacochê, fase em que Satã fez o seu debut como artista-travesti da Lapa e se afirmou como a Rainha Negra da Boemia Carioca, foi representada. Já em seu terceiro e último momento, a figura de João-Satã como entidade e amuleto de luta para os movimentos negro e LGBTQIAP+ ganhou destaque, sendo o grande ápice da apresentação quando as caveiras mostravam placas com grandes transformistas e travestis, que assim como Madame Satã quebraram barreiras e fizeram história. Entre eles, Rogéria, Lacraia e Jorge Lafond.

No entanto, assim como outros quesitos, a comissão de frente da Lins teve falhas na execução. A principal foi na transição da primeira e segunda fase da apresentação, em que a figura do malandro se transformava na Mulata do Balacochê. Apenas na primeira cabine de jurados o efeito da troca de roupa funcionou.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Jackson Senhorinho e Manoela Cardoso, vieram com uma fantasia intitulada de “O inferno do menino João”. O figurino de ambos era bastante luxuoso e trazia cores quentes, com predomínio do vermelho e do dourado. A dança dos dois foi marcada por passos coreografados, que faziam menção a letra do samba. Um exemplo disso era quando Jackson fazia o gesto do punho cerrado para o alto no momento em que a letra dizia o verso “Arte em forma de protesto!”.

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Harmonia

A harmonia foi um dos calcanhares de Aquiles da apresentação da Lins Imperial. Apesar da qualidade do samba-enredo, o canto da escola deixou a desejar, sendo possível notar componentes sem nem mesmo mexer a boca em diversas alas, como na ala “João nas Ruas da Lapa”. Já em outras, o oposto era observado, com desfilantes berrando o samba a plenos pulmões, casos das alas “O Caranguejo da Praia das Virtudes” e “O Pasquim”.

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Enredo

Para celebrar os seus 60 anos de fundação, que será completado no próximo dia 07 de março, a Lins Imperial apostou na releitura do tema apresentado no Carnaval de 1990 sobre Madame Satã, que na época terminou em 14º lugar no Grupo Especial. Desta vez, porém, a verde e rosa optou por uma abordagem contemporânea e em forma de manifesto. Esta proposta conseguiu ser transmitida no desfile, graças ao conjunto alegórico e de fantasias simples, mas de fácil leitura.

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Evolução

Talvez o quesito mais problemático de toda apresentação. A agremiação começou em um ritmo lento, chegando a ficar parada em alguns momentos. Porém, com o relógio correndo e ainda com muita escola para passar, a Lins precisou apertar o passo a partir da metade do desfile, sendo necessário correr no trecho final para não estourar o tempo. Além disso, a verde e rosa abriu alguns clarões e buracos, um deles em frente a primeira cabine de julgamento, devido a dificuldade de locomoção da segunda alegoria.

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Samba-Enredo

O samba-enredo da Lins Imperial foi um dos mais elogiados durante o período do pré-Carnaval e comprovou no desfile oficial o motivo de tamanha celebração. Composto por Claudio Russo, Genésio, Jefferson Oliveira, Kiko Vargues, Mateus Pranto, Naldo, Paulo César Feital, Pezão e Samuel Gasman, a obra foi muito bem defendida na Avenida pelos intérpretes Rafael Tinguinha e Lucas Donato, que demonstram excelente entrosamento entre si e com a bateria comandada por mestre Átila. Os cantores estavam confortáveis com o samba e deram o máximo para levantar o público.

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Alegrias e Adereços

O conjunto alegórico da Lins foi marcado pela simplicidade e fácil leitura, mas também pelas falhas de acabamento. Com o título de “Os Delírios de João-criança em Glória do Goitá”, o abre-alas da agremiação abusou das cores quentes e fez uso de esculturas com figuras de Satanás para remeter ao clima abrasador do Nordeste e fazer uma conexão com as narrativas sobre o inferno, típicas da literatura de cordel de Pernambuco. Apesar de criativo, várias esculturas apresentavam falhas graves, com parte delas despencando na Avenida.

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Na sequência do desfile, a segunda alegoria da Lins, após o problema na concentração, passou de forma incompleta pela Marquês de Sapucaí. Apenas a parte frontal do carro, em que a escola reproduziu o famoso momento em que João Francisco dos Santos ganhou o concurso no Teatro República, no baile de Carnaval promovido pelo Bloco Caçadores de Veados em 1938, atravessou a Avenida no desfile oficial. Devido a barra de direção quebrava teve muita dificuldade no trajeto e foi um dos fatores que comprometeram o quesito evolução.

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Já a terceira e última alegoria, de nome “O encantamento de Satã”, trouxe uma espécie de celebração aos 60 anos da Lins Imperial e a vida de João Francisco dos Santos. O carro representou o que seria uma visita da águia da verde e rosa ao terreiro de Satã em Vila de Abraão, na Ilha Grande, onde o homenageado decidiu viver seus últimos anos. Elementos como o chapéu de palha, a navalha e as duas rosas vermelhas estiveram presentes, assim como referências a entidades da umbanda que João cultuava. Entre elas, Maria Arrepiada, Rosa Sapucaia, Preto Velho Benedito e Pai Francisco. Assim como os outros dois era possível notar diversas falhas de acabamento, principalmente na parte traseira.

Fantasias

Assim como as alegorias, as fantasias da Lins Imperial abusaram da criatividade e do uso de materiais baratos, mas que surtiram efeito, resultando em um conjunto leve e de fácil leitura. Uma das alas com o figurino de maior destaque foi a dos passistas, que vieram fantasiados de rufiões e cafetinas, personagens que faziam parte do cotidiano da Lapa boêmia de Madame Satã. Outra indumentária que chamou atenção foi a dos ritmistas da Verdadeira Furiosa, comandados por Mestre Átila. Eles vieram vestidos das duas forças que compõem a figura de João Francisco dos Santos. De um lado, traziam uma representação da artista-travesti Mulata do Balacochê; do outro, retratavam o tradicional malandro carioca.

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Outros destaques

As baianas da Lins Imperial chamaram a atenção logo na abertura devido ao samba na ponta da língua e a não economia nos giros, desfilando soltas, sem fileiras rígidas. As senhoras vieram com uma fantasia representando o cenário infernal da infância do menino João. As cores quentes, bastante utilizadas ao longo de todo o primeiro setor da agremiação, novamente estiveram presentes com o intuito de transmitir o calor do aprisionamento na boca do inferno de Glória do Goitá, assim como as caveiras e o Satanás.