Terceira escola a desfilar no Grupo Especial do Rio, neste domingo (11), o Salgueiro apresentou o carro com a fantasia chamada “O exército da morte”, denunciando como os militares contribuíram para a destruição de Hutukara.
“A alegoria mostrou a parte mais trágica do enredo: as doenças, o garimpo ilegal e tudo de ruim que foi feito”, explicou o diretor de destaques da escola, Eduardo Pinto, de 58 anos, ao ser questionado sobre o significado da quarta alegoria.
O carro, colorido em tons de vermelho, verde, preto e branco, mostrou esculturas dos nativos em estado avançado de desnutrição, além de diversas caixas representando os minérios que são roubados na Amazônia. Através de caveiras e urubus, significando a morte, a alegoria denunciou as consequências dos crimes ambientais.
Na edição de 2024 do Carnaval, o Salgueiro escolheu os Yanomami como foco de sua celebração. A tradicional escola de samba da Tijuca destacou as comunidades indígenas brasileiras em sua narrativa.
A alegoria lembra que a morte dos povos indígenas começa com a abertura da estrada Transamazônica, feita durante o golpe militar. Eduardo explicou o significado do carro: “É a parte trágica do próprio enredo. Tudo de ruim que está sendo feito pelos brancos a esse povo originário, desde a abertura da Transamazônica. É por isso que tem esses detalhes lembrando o exército”.
“Meu pai não vai gostar. Minha família é toda militar e eu estou saindo no carro do exército do mal”. É o que explicou Juliana Kmiciak. A gerente de projetos desfila na escola há 4 anos e disse de maneira bem humorada que vai ser “deserdada pela família”.
“Há um ano atrás a gente via as tragédias que passaram o povo Yanomami. O número de mortes, em relação ao ano passado, diminuiu, mas ainda assim continua altíssimo e o descaso ainda é muito grande”, denunciou Juliana. “Quando você vê as imagens, você se choca. Então o carnaval vem também para te fazer refletir, ver aquilo de maneira colorida, alegre, mas vai te fazer pensar”, completou.
O desfile levou o nome de “Hutukara”, termo da língua yanomami que se refere ao “céu original a partir do qual se formou a terra”, com a intenção de homenagear a cultura e as histórias mitológicas Yanomami, além de enfatizar a importância da proteção da Amazônia.
“Estamos aqui para falar sobre o nosso Brasil. Os nativos foram muito massacrados e o Salgueiro está aí levantando essa bandeira”, disse a funcionária pública Juliana Paz, de 29 anos, ao ser questionada sobre a importância da alegoria. “O Brasil pertence aos índios, os portugueses que vieram e colonizaram. Só que a nossa essência são indígenas, não os europeus. Então o salgueiro está trazendo essa essência”, defendeu.