No retorno à Estrada do Portela, neste primeiro ensaio de 2024, a Portela, mais uma vez, viu brilhar a obra que escolheu e a comunidade comprou para desfilar na Sapucaí no início de fevereiro próximo. Com grande contingente de componentes e grande presença de público nas calçadas, o portelense cantou muito o samba, brincou bastante carnaval, mas observando uma escola que dá muita atenção aos seus outros quesitos. A comissão de frente fez uma bonita apresentação, assim como o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Marlon Lamar e Squel Jorgea, com uma exibição muito forte, além do já costumeiro alto rendimento do ritmo da bateria “Tabajara do Samba”, de mestre Nilo Sérgio, com as bossas e paradinhas cada vez mais ajustadas e ajudando o samba a se destacar ainda mais.

Nem a ausência do intérprete Gilsinho, voz forte da Azul e Branca de Madureira, atrapalhou o excelente ensaio da Portela. A comunidade e o carro de som supriram a ausência e conduziram o samba com força e correção durante os cerca de 60 minutos de treino. Com o enredo “Um Defeito de Cor”, dos carnavalescos André Rodrigues e Antônio Gonzaga, a Majestade do Samba será a segunda agremiação da segunda-feira de carnaval que vai desfilar na Marquês de Sapucaí.

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O diretor geral de harmonia, Julinho Fonseca falou à reportagem do site CARNAVALESCO como a direção de carnaval tem preparado os componentes para cantarem de forma tão expressiva e intensa nos ensaios de rua.

“É a manutenção do trabalho que vem sendo feito. Nesta reta final, voltando desse pequeno recesso, faltando agora praticamente 32 dias para o carnaval, para o nosso grande dia, é continuar fazendo o nosso ensaio de canto, é manter a nossa estratégia fazendo o ensaio individual, setor a setor, forçando o componente a não só cantar, mas entender o samba. Os ensaios de quadra às quartas-feiras estão sendo muito valiosos para gente, procurando incentivar as alas a cantarem de forma individual, setor por setor. O nosso teste final será no dia 14 no nosso ensaio técnico”, acredita o profissional.

Para o presidente Fábio Pavão a escola está pronta para o ensaio técnico do próximo domingo, na Marquês de Sapucaí, segundo ele, um importante termômetro na preparação para o desfile da Águia de Madureira em 12 de fevereiro.

“No ensaio a escola vai encorpando, o andamento da bateria com o carro de som vai melhorando progressivamente. Hoje já é o andamento ideal de Avenida. A escola passou muito bem, com os componentes cantando, a harmonia, estamos ensaiando também a evolução, essa mais na Rua Carolina Machado, onde a gente consegue fazer o distanciamento entre as cabines. Nós estamos fechando hoje, na verdade, os ensaios na preparação da rua para o ensaio técnico na próxima semana, que é a nossa primeira apresentação para o grande público, para avaliar também como a gente está se preparando, os próprios componentes, quesitos da escola. Acho que a gente está caminhando para fazer uma grande apresentação no domingo que vem, estamos trabalhando muito para isso”, espera o dirigente.

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Comissão de Frente

Bem entrosada com a temática do enredo, a comissão de frente da Portela comandada por Léo Senna e Kelly Siqueira foi formada apenas por mulheres. Vestidas em roupas carregadas de ancestralidade nas estampas e com o Azul da Portela, a africanidade estava presente também na coreografia muito voltada para a dança ancestral e o toque de feminilidade. Muito bom ver uma comissão que dá destaque para a dança. A apresentação teve muita sincronia e uma boa dose de intensidade, mas sem perder a delicadeza nos detalhes dos gestos e movimentos. Destaque para o efeito produzido pelas saias, principalmente quando as bailarinas se aproximavam e se juntavam como se fossem um organismo só, em algumas partes da coreografia. Na volta do refrão principal, já no final da apresentação, passos que se utilizavam de técnicas de balé clássico , mas com todo o caráter tribal que pede o enredo.

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Mestre-sala e Porta-bandeira

Com a coreografia agora mais desenvolvida, o casal Marlon Lamar e Squel Jorgea, que vão dançar juntos pela primeira vez no desfile deste ano, mostraram que o entrosamento já está bem adiantado e executaram movimentos com elevado grau de dificuldade e intensidade com bastante naturalidade, firmeza, sem perder a singeleza e a postura própria para um casal de mestre-sala e porta-bandeira. Vestidos ambos de branco, a dupla apresentou uma coreografia que procurava pontuar bastante a letra do samba. Já na entrada da apresentação no lugar que simulava o módulo de julgamento, o casal mostrou força nos giros. Na primeira cabine, um vento mais moderado poderia atrapalhar a apresentação, mas Squel foi muito firme e com toda a sua experiência manteve o pavilhão bastante esticado, executando os movimentos com naturalidade e graça. Já Marlon deu um show a parte com passos muito rápidos, mas também muito assertivos. O mestre-sala riscava o chão da Estrada do Portela sem temer nada e deslizava como se não houvesse atrito entre o sapato do bailarino e o asfalto. Ótima apresentação.

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Harmonia

O grande destaque da noite. Nem mesmo a dificuldade que o ensaio na estrada do Portela acarreta por se dar em uma rua desnivelada e com subidas e descidas, fez com que a comunidade deixasse de cantar o samba com naturalidade, força e alegria. A todo momento a equipe de harmonia chegava junto para compensar a questão do terreno e não deixar que o samba atravessasse. O forte e ininterrupto canto ajudou a escola a se manter acertada na condução do samba, com todos dentro do mesmo compasso. Até mesmo alas com coreografia mais complexa, se mantiveram cantando com muito vigor. A comissão de frente, a velha-guarda e a bateria foram outras alas que também deram a sua contribuição no canto. Nas últimas alas, muita alegria também com o samba e bastante espontaneidade. Já o carro de som, hoje comandado pelos cantores de apoio de Gilsinho, mostrou bom entrosamento com a bateria do mestre Nilo Sérgio e não deixou a obra cair em nenhum momento. O vice-presidente Júnior Escafura também avaliou o canto da escola como muito positivo e lembrou que a escola ensaia bastante para isso.

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“A minha avaliação é muito positiva. A escola está feliz, a escola está cantando, está brincando, evoluindo. Acho que a gente está se preparando muito bem para fazer um grande carnaval. Os harmonias tem o tempo todo ajudado os componentes, estamos atentos a tudo, a escola ensaia muito, ensaia quarta, sexta e domingo, fora o trabalho que tem durante a semana de algumas alas, a gente quer atingir a perfeição, até porque o nível das escolas, a competição está muito alta. E a Portela tem que sempre estar no primeiro patamar”, entende o dirigente.

Evolução

Em uma rua com as dificuldades já apresentadas no quesito anterior, em geral a Portela se preocupa menos com o treino deste quesito. Isso porque além do desnível do terreno, há a dificuldade de ser uma rua apertada que fica com ainda menos espaço devido a grande quantidade de público. Por isso, em geral a Portela foca mais na evolução quando realiza os ensaios na Rua Carolina Machado. Ainda assim, levando em conta todas estas dificuldades, não se pode dizer que a evolução da escola foi ruim, ao contrário, com bastante fluidez e respeitando os espaços, sem formar buracos. Importante destacar o número relevante de alas coreografadas que ainda que confiram ao treino um bonito efeito, principalmente uma em que as mulheres traziam uma capa azul e giravam, pode-se interferir na questão da espontaneidade na evolução, pensando na avaliação dos jurados no desfile oficial. É importante ficar atento a isto, ainda que as coreografias sejam bastante pertinentes ao enredo. Na questão de harmonia, não houve influência, pois até as alas com coreografia mais desenvolvidas seguiram mostrando um rendimento satisfatório no canto.

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Samba-enredo

Sem Gilsinho, a escola se manteve organizada para que o andamento e tudo que foi preparado para a obra fosse mantido através do excelente trabalho de Nilo Sérgio e do carro de som da Azul e Branca de Madureira. Com uma melodia bastante peculiar e bonita, a obra não deixa faltar também força e vibração. O refrão “Saravá Keindhe”, tem muita melodia mas também traz, até pela sua letra, uma força que faz com que o componente cante com a alma e vibre bastante. E na bateria, as bossas conferiram à obra ainda mais força. Com grande destaque para o agogô e atabaques, o clima que a Tabajara acrescentava ao desfile fazia com que a obra crescesse mais ainda, confirmando a avaliação de ser uma das melhores dessa safra de 2024. O andamento também mais uma vez foi um ponto alto, dando ao samba uma pegada nem arrastada e nem muito corrida, própria para uma evolução cadenciada, porém firme, e permitindo que o componente brinque e dance, além de tudo, pois tem muito balanço, muito swingue. Mais uma vez, um destaque do ensaio e com certeza uma mola condutora para a escola fazer um grande desfile.

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Outros destaques

A rainha Bianca Monteiro, mais uma vez, esbanjou samba no pé, vestida com um bonito conjunto no azul da Portela, e mostrou a simpatia de sempre, principalmente com as crianças que terminaram o desfile sambando junto com a majestade que reina à frente da Tabajara do Samba. Antes do ensaio, a TV Globo, detentora dos direitos de transmissão, fez uma ação com gravações para exibição no noticiário local.

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Muitos dos desfilantes trouxeram balões de encher nas cores da escola, além de bastões luminosos e muitos leques. O presidente Fábio Pavão em discurso antes do ensaio desejou primeiramente um feliz ano novo a todos os componentes e lembrou que o trabalho chega a reta final de sua caminhada e preparação para o carnaval 2024. No carro de som, próximo aos músicos, veio Tia Surica, presidente de honra da escola, muito festejada pela comunidade.