Por Lucas Sampaio e fotos de Fábio Martins
A Mancha Verde realizou na noite de sexta-feira seu desfile no Sambódromo do Anhembi no carnaval de 2024. Novamente a técnica irretocável foi o principal destaque da agremiação, que contou com boa leitura dos quesitos visuais. A substituição de última hora ocorrida no casal de mestre-sala e porta-bandeira, porém, gerou problemas para o quesito. A Mais Querida foi a sexta escola a se apresentar pelo Grupo Especial, fechando os portões após uma hora e quatro minutos.
Comissão de Frente
A comissão de frente intitulada “Olubajé, o grande banquete a Omolu” se apresentou em três atos marcados pelo samba, fazendo uso de um tripé com a escultura de Obaluaê que carregava alimentos. Através dos atos, o grupo cênico simbolizou a lenda do orixá Ocô, que recebe a missão de tirar o alimento da terra para o banquete que será servido a Omolu. A coreografia é marcada por diversos passos de dança típicas dos orixás dos componentes em geral, tendo a atuação coadjuvante de representações de outros orixás como Oxóssi. A comissão cumpriu bem a missão de apresentar a escola e saudar o público, iniciando de forma positiva o desfile da escola.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
O primeiro casal da Mancha no desfile foi formado por Thiago Bispo e Adriana Gomes, e desfilaram com fantasias representando as “Sementes que Olorum criou”. Thiago substituiu às pressas o mestre-sala oficial da escola, Marcelo Luiz, afastado de última hora por motivos de saúde.
Não dá para se esperar uma atuação irretocável de uma parceria formada a poucas horas do desfile começar. Para um casal chegar pronto à Avenida, é preciso um trabalho árduo através de treinos realizados ao longo de muito tempo, e por conta disso a falta de sintonia da dupla foi percebida em determinados momentos. Thiago tentou acompanhar os passos da espetacular Adriana, mas por vários momentos ao longo do desfile os giros não cravavam ou os movimentos ocorriam de forma descoordenada.
Enredo
O enredo da Mancha Verde em 2024 foi “Do Nosso Solo Para o Mundo”, assinado pelo carnavalesco André Machado. A proposta da escola foi retratar como a produção do campo no Brasil abastece há muito tempo boa parte do mundo. O desfile começa apresentando como a prática de se tirar o alimento da terra iniciou de acordo com a crença iorubá, passando por diferentes práticas agropecuárias ao longo da história, a tecnologia no campo e finalizando com o meio rural nos tempos atuais, a fé a São José, padroeiro da agricultura, e as festas das colheitas.
A leitura do enredo ocorreu com clareza ao longo de todos os elementos apresentados pela escola no desfile e eram de fácil compreensão. As fantasias das alas simbolizavam bem a proposta de conexão de cada segmento, conseguindo chegar nas alegorias de forma bem representada. Destaque para a ala “Ogun forja as ferramentas para o agricultor plantar”, composta por várias fantasias diferentes e cuja formação tomava boa parte do espaço entre os carros um e dois.
Alegorias
A Mancha se apresentou com quatro alegorias. O Abre-alas foi intitulado como “A Colmeia”, enquanto a segunda alegoria foi nomeada “Agricultura no Brasil Colonial – As Missões Jesuíticas e os ciclos de exportação”, a terceira se chamou “Teu Celeiro Partilha” e a última recebeu o nome de “Do nosso Solo, para o Mundo”.
As alegorias apresentaram bom acabamento e ilustraram bem a proposta do enredo. O destaque ficou para o terceiro carro, que contou com um grande contingente de crianças e esculturas caricatas de porquinhos fazendeiros, chamando a atenção do público. O último carro contava na parte superior ao centro com um globo terrestre que se abria, revelando pessoas que fizeram uma atuação nos momentos em que eram visíveis.
Fantasias
O conjunto de fantasias da Mancha costurou através das alas a linha cronológica da narrativa do enredo proposto pela escola. A separação dos setores ocorreu de maneira clara, com destaque para a ala que veio após o carro Abre-alas que entregou de forma criativa a saída do setor inicial, que abordou a prática agrícola na crença iorubá, com o setor seguinte que começou a contar a história da agricultura no Brasil colonial. Os desfilantes conseguiram evoluir de forma leve e animada, contribuindo positivamente para o conjunto do desfile da Mancha.
Harmonia
A comunidade da Mancha Verde provou mais uma vez o comprometimento que possuem com o bom desempenho da escola na Avenida. O coral da Mais Querida ecoou ao longo de todo o desfile, se destacando especialmente nos vários apagões praticados pela bateria “Puro Balanço”. A ala “Meu São José, nos dê a sua proteção” se destacou com canto vigoroso e animado.
Samba-Enredo
O samba da Mancha Verde foi composto por Tinga, Marcelo, Lepiane, Lico, Leandro, Richard, Jefferson, Telmo, João, Lucas, Alison, Rodrigo, Deivid, Tiago e Paulo, e foi defendido na Avenida pela ala musical liderada pelo intérprete Fredy Vianna. De letra curta, a obra da escola narra o enredo de forma clara e objetiva, e o canto da comunidade mostrou que o samba é capaz de manter o andamento harmônico do desfile sem comprometer.
Evolução
Tradicionalmente um quesito forte da Mancha Verde, a evolução teve bom comportamento ao longo de todo o desfile. A escola procurou ocupar com rapidez o espaço do primeiro setor, para garantir que a fluidez da apresentação transcorresse sem percalços. A única ressalva foi a demora para a conclusão da manobra de recuo da bateria, o que fez com que a Mancha ficasse muito tempo parada na Avenida antes de voltar a prosseguir. Nada que prejudicasse o encerramento do desfile, ocorrido com os portões fechados com uma hora e quatro minutos.
Outros Destaques
Estrando no comando da bateria “Puro Balanço”, os mestres Cabral e Viny conseguiram conduzir bem a atuação dos ritmistas e garantiram boas bossas e retornos dos apagões aplicados. A Rainha Viviane Araujo foi soberana vestindo sua fantasia representando uma cantora sertaneja. Ao seu lado, a Princesa Duda Serdan representou o “Orvalho de Oxumaré”.