Das quatro maiores campeãs do carnaval de São Paulo, três estarão no Acesso I em 2023. Ao todo, são 37 títulos do Grupo Especial desfilando no domingo, contra 29 na sexta-feira e no sábado. Os dados dão a dimensão do peso dos pavilhões no segundo grupo da folia paulistana, que será realizado no dia 19 de fevereiro do próximo ano. Integrantes de cada uma das agremiações falaram ao CARNAVALESCO sobre o panorama do Carnaval 2023.

Tradicionais valorizadas

No geral, diversos componentes exaltaram o peso das bandeiras presentes no Acesso I de 2023. Um deles foi Agnaldo Amaral, da Nenê de Vila Matilde. Perguntando se para subir bastava não errar, ele foi enfático e aproveitou para exaltar as coirmãs. “Não pode errar nunca, na realidade! As melhores do carnaval, com todo o respeito, estão no Acesso: as tradicionais estão aqui. A gente vai fazer tudo e o impossível para estar no Especial ano que vem. Já são alguns anos amargando essa situação e esse ano vamos subir, se Deus quiser, estamos cheios de vontade de ser campeões. O carnaval é isso, está cada vez mais acirrado, graças a Deus”, destacou o intérprete da escola onze vezes campeã do carnaval que retorna ao segundo grupo após ser campeã do Acesso II em 2022.

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Jessika Barbosa, porta-bandeira do Camisa Verde e Branco, pontuou que a comunidade da Barra Funda também está animada para disputar com coirmãs tão tradicionais. “Sim, com certeza! As mais tradicionais estão no Acesso I, e está todo mundo na comunidade com sangue nos olhos para alcançar os nossos objetivos”, pontuou.

Mestre Marcel, diretor de bateria do Morro da Casa Verde, também destacou a garra dos ritmistas comandados por ele. “Eu passo muita informação pra eles, e eu falo que o Acesso I é muito competitivo, tem muita escola grande. Temos que fazer o melhor pela nossa escola e todo mundo abraço, está todo mundo com sangue no olho”, prometeu.

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O peso das concorrentes também foi destacado por Brunno Mathias mestre-sala da Colorado do Brás. “Os componentes entendem que a nossa responsabilidade está dobrada. Além de estarmos num grupo em que acabamos de chegar, têm muitas escolas de peso e de tradição. Vamos ter que passar passando, como o nosso presidente diz, com aquele algo a mais. É aí que a gente vai levar”, relembrou, destacando que a equipe foi a penúltima no último desfile do Especial e foi rebaixada.

Erro zero

Diversos integrantes também destacaram que, em um grupo tão concorrido, um erro é fatal. Edson Jr., o Juninho, vice-presidente da X-9 Paulistana, é um deles. “Estamos trabalhando pesado para não só errar, mas… vocês vão ver na pista o diferencial. Carros totalmente diferentes e bem-acabado. Vamos com força total!”, prometeu.

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Ter ‘algo a mais’ também será importante para quem quiser boas colocações no Acesso I. E a escola conhecida justamente pela expressão, o Vai-Vai, terá tal característica na avenida mais uma vez em 2022, de acordo com Renato Trindade, o Renatinho, mestre-sala da escola. “A gente sempre fala que ‘ser Vai-Vai é algo mais’. É isso que a nossa comunidade vai dar, esse algo a mais. Vai-Vai está no nosso coração, assim como o samba. O quilombo ainda está fincado nos nossos corações”, poetizou.

Mestre Dennys, diretor de bateria da Mocidade Unida da Mooca, concordou com os componentes das coirmãs. “Não pode errar, de jeito nenhum! É muita humildade, porque quando você tem algum tipo de soberba no carnaval, é costume as escolas errarem. Estamos fazendo nosso dever de casa com muita simplicidade no aspecto geral. Se Deus quiser, vamos conseguir o acesso para o Especial”, vibrou.

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Brunno, porém, acredita que passar apenas com acertos pode ser o suficiente desde que os integrantes de cada escola de samba correspondam na avenida. “Cada ano é um ano, independentemente das escolas que estão lá. O campeonato, todo ano, tem uma surpresa. Vai levar quem errar menos, e o mais importante em todo ano é o chão de cada escola. É o que a Colorado está buscando: cantar e vibrar, mostrar que temos que voltar de onde nunca deveríamos ter saído”, ressaltou.

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Sangue frio

Apesar das imensas escolas de samba presentes no Acesso I, há quem prefira tirar a pressão do peso dos pavilhões envolvidos. Fernando Neninho, mestre de bateria do Pérola Negra, não deixou de exaltar as coirmãs, mas preferiu focar no trabalho desenvolvido pela Joia Rara. “O ‘algo a mais’ é ensaiar e trabalhar. Sempre respeitar as grandes, elas são as pioneiras, mas acredito que, trabalhando e ensaiando, não tem segredo. Esse é o foco para a escola chegar ao objetivo”, ressaltou.

O diretor aproveitou para ressaltar a união de todas as agremiações e rechaçou qualquer tipo de rivalidade mais ácida entre elas – sobretudo entre os ritmistas. “As baterias se expandiram hoje em dia, quem desfila em uma desfila em outra. Tem poucas escolas que não permitem seus componentes de não tocar mais nas coirmãs. Geralmente, ritmista que desfila lá também desfila aqui e assim por diante. Essa rivalidade fica mais pra zoação, em grupo de WhatsApp. No carnaval isso não faz bem, não”, finalizou.

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Comunidades empolgadas

As comunidades das respectivas escolas de samba também estão empolgadas para o desfile. Na Vila Matilde, Agnaldo elembrou as últimas agruras da Águia: “O pessoal já estava animado quando estava no Acesso II, agora o pessoal está ainda mais!”, orgulhou-se. Juninho tem a mesma percepção em relação aos componentes da X-9: “A comunidade abraçou o projeto, tá todo mundo vindo com força total, tá cantando forte. Estamos confiantes!”, pontuou.

Após o segundo rebaixamento em três desfiles (e, também, o segundo na história da maior campeã do carnaval paulistano, com quinze títulos), Renatinho destacou a mudança pela qual a Saracura está passando após a lanterna no Especial de 2022. “Eu vou falar uma coisa muito séria para vocês: o Vai-Vai está diferente. O Vai-Vai está com outro tipo de cabeça. Pra gente, não é importante termos novos horizontes: é importante ter o nosso samba com organização. Esse é o DNA novo que o Vai-Vai vai vir e que vai ser totalmente diferente”, afirmou.

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Na Zona Leste, Dennys destacou que ele também tem um papel bastante curioso na bateria: sossegar os ritmistas. “O meu maior desafio é acalmá-los. A euforia pode trazer erros para a bateria. Sempre explico que temos que ter respeito pelas coirmãs, mas, em primeiro lugar, temos que fazer o nosso. A gente tá ensaiando muito, está trabalhando duro, é só fazer tudo na calma que tudo vai dar certo”, pontuou.

Qual a força da escola?

Perguntados sobre quais seriam os principais pontos positivos de cada agremiação, integrantes mostraram quão diversos serão os desfiles no domingo de carnaval.

Jessika está confiante na temática apresentada pelo Camisa Verde e Branco. “Eu acho que o principal esse ano é a força do nosso enredo. Além da gente simplesmente não errar, temos que mostrar a força do nosso enredo e a intensidade que os nossos diretores já pedem. É o nosso diferencial para chegar ao nosso almejado Grupo Especial”, afirmou, referindo-se a Invisíveis”, tema da escola que abordará os marginalizados após a promulgação da Constituição do Cidadão, em 1988.

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Sempre evitando qualquer sobressalto, Dennys destacou que a Chapa Quente, bateria da MUM, atuará coletivamente com todos os outros quesitos da agremiação. “A nossa parte de bateria já está toda feita: desenhos de tamborim, bossas… faremos tudo, mas com cautela. A responsabilidade é muito grande, temos um quesito para defender mas temos que pensar na escola toda. Lógico que queremos mostrar o trabalho de um ano inteiro, mas temos que pensar na escola em primeiro lugar”, ratificou.

Há, também, quem evite colocar pressão em um único segmento. É o caso de Marcel “Tem vários fatores, e isso nós só veremos no dia. Estamos nos preparando, fazendo nosso trabalho. Vamos fazer o melhor pela nossa escola e, se Deus quiser vai dar tudo certo”, destacou o diretor de bateria do Morro.