A Viradouro escolheu na madrugada desta segunda-feira, por volta de 2h, o samba-enredo da parceria de Cláudio Mattos, Dan Passos, Marco Moreno, Victor Rangel, Lucas Neves, Deco, Thiago Meiners, El Toro, Luis Anderson e Jefferson Oliveira para o Carnaval 2023. No ano que vem, a vermelha e branca de Niterói terá a missão de encerrar os desfiles do Grupo Especial. A agremiação falará sobre a vida e a obra de Rosa Courana, ou Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz, considerada a primeira mulher negra a escrever um livro no país, o enredo é de autoria do carnavalesco Tarcisio Zanon. * OUÇA AQUI O SAMBA CAMPEÃO
Compositores celebram a vitória na Viradouro
“Desde que eu me entendo por gente esse era o meu sonho, ganhar um samba na minha escola. Essa vitória é a realização desse sonho, é a escola que me fez renascer, não tem explicação, falar da Viradouro me faltam palavras e ganhar o samba com um enredo tão especial como esse é indescritível. Minha primeira vez que ganho um samba, primeira vez que terei um samba na Sapucaí e justamente pela minha escola do coração. A entrega da parceria em deixar o coração falar foi fundamental, o amor ao pavilhão fala sempre mais alto na mão de um poeta apaixonado”, celebrou o compositor Dan Passos.
“O sentimento é maravilhoso, ganhar um samba na minha escola de coração, estou sem palavras. Obrigado, Viradouro pelo sentimento maravilhoso. A minha parte predileta no samba é ‘eu sou a santa que o povo aclamou”, foi determinando para nossa vitória, contagiou”, garantiu o compositor Lucas Neves.
“Essa vitória é muito importante para mim e para toda a nossa parceria. Juntei parceria com o Cláudio Mattos esse ano e foi tudo muito prazeroso. Gostaria de mencionar o Claudinho também, que teve que viajar a serviço e acabou não comparecendo para comemorar nossa vitória. Com todo respeito, o nosso samba é um samba-enredo de verdade, com essência e coração, e foi isso que nos diferenciou para a vitória”, definiu o compositor Victor Rangel.
“Essa vitória representa tudo para mim. Rosa Maria era uma mulher maravilhosa, e ser campeão com o enredo em homenagem a ela é ainda mais maravilhoso. O nosso samba todo foi o diferencial para ganharmos essa disputa. Tínhamos a letra mais bonita”, afirmou o compositor Jefferson Oliveira.
“É a realização de um sonho, a gente batalhou bastante, trabalhamos, estudamos e pesquisamos muito pra fazer esse samba, nós nos apresentamos a cada dia melhor e hoje não foi diferente. Foi uma grande final e acho sinceramente que fomos merecedores. É minha primeira vitória aqui na Viradouro, mas é a escola que me acolheu e onde eu espero vencer mais vezes, quero escrever uma longa história da minha vida aqui na Viradouro. Eu acho que o primordial foi a emoção, esse enredo eu acho que pedia isso, mais do que força até, e eu acho que nós emocionamos, isso é muito especial”, comentou o compositor Deco.
Em entrevista ao CARNAVALESCO, o presidente Marcelinho Calil revelou o que é possível esperar da Viradouro em 2023, frisou o ineditismo do enredo e elogiou o carnavalesco Tarcísio Zanon.
“Todos podem esperar um grande carnaval da Viradouro novamente, vamos fazer o maior enredo que já fizemos na minha gestão, um enredo que junta-se a poucos outros enredos esse ano porque, além de ser um enredo de qualidade e preencher quesitos, ele tem algo muito importante que é o ineditismo. Grandes enredos serão vistos, mas talvez poucos com esse ineditismo. Temos uma boa história, que é onde começa tudo e, daí em diante, são os quesitos. A gente vem aprimorando as nossas questão, desde 2019, é uma escola que vem pontuando, vem tendo performance. É buscar corrigir os erros e manter o que já tá. Um novo ano é um projeto em branco, nós trouxemos novidade na comissão de frente, com a Priscila e o Rodrigo, que vai dar um peso maior a nossa comissão. É briga de cachorro grande, se eu tivesse a fórmula, eu estava rico. O Tarcísio é uma jóia bruta, ou melhor era uma jóia bruta quando nós o contratamos, é um dos melhores carnavalescos do Rio de Janeiro. É curioso, até pela idade dele, mas ele é um cara muito clássico, mas que tem também um pouco dessa audácia, ousadia e modernidade e consegue ser conservador onde é precisa e, obviamente, buscar algo mais”.
O dirigente ainda fez um balanço do desfile de 2022 e do resultado da escola, que terminou na terceira colocação. “Primeiro, uma avaliação interna quanto as notas, houve de fato uma questão apontada pelos julgamentos quanto a execução e o andamento da bateria, foi algo que eles não gostaram tanto. Respeito, o que pode ser mudado, a gente muda, é justo, para que a gente não caia nos mesmos erros. Agora é corrigir, bola pra frente. Ficar entre as seis primeiras e, no nosso caso, entre as três primeiras pelo terceiro ano seguido, é uma honra, um privilégio e mostra que o trabalho da escola é muito bom. Segundo que ganhar também implicaria superar uma adversária que fez um desfile muito forte (Grande Rio), muito bom. Não posso afirmar que, na minha excelência, isso aconteceria. Prefiro acreditar que era pra ser a Grande Rio campeã, fez um grande desfile, a gente teve algumas questões que precisam ser ajustadas e é isso que vai acontecer daqui para frente”.
Responsável pela parte plástica do desfile da Viradouro em 2023, Tarcísio Zanon encara agora o voo solo na escola de Niterói. Ele comentou a missão e também explicou o enredo.
“Está sendo um momento muito importante da minha carreira, estou bastante confiante tendo essa equipe maravilhosa da Viradouro ao meu lado. É um trabalho de amadurecimento junto da equipe e isso me deixa mais tranquilo para desenvolver um grande trabalho. Eu costumo pesquisar muito por títulos de livros, que normalmente são exatamente o que me faz comprar-lós. Quando eu vi esse livro de Rosa Maria Egípcia de Vera Cruz, uma santa africana no Brasil, assim que li me interessei muito. Comprei e fui descobrindo uma personagem riquíssima que o grande público não conhecia. A primeira mulher negra a escrever um livro no Brasil. Uma mulher inteligentíssima, criou o Sagrado Coração que hoje é adorado no mundo inteiro. É uma história muito rica. Me encantei de cara e assim que trouxe para os presidentes eles automaticamente se encantaram também. Está fluindo muito bem e foi bastante aceito pelo público. Casa muito com a minha estética de trabalho e também com a estética da Viradouro, que gosta de enredo femininos”.
O artista também falou qual será a tônica do desfile da Viradouro e o que o público pode esperar. “A Viradouro é a escola da emoção, não tem como não ter emoção nesse desfile. A Rosa foi uma mulher multifacetada. Ela foi escravizada, prostituída, além de ter sido considerada feiticeira. É uma saga muito mística. Iremos trazer a temática do cristianismo preto originário no Brasil, algo que muito pouco se explorou no Carnaval. Eu cheguei a explorar um pouco do Cristo negro na Estacio, mas está sendo incrível trazer esse novo olhar. Eu sou suspeito para falar, mas estou cada dia mais encantado. Fico no barracão namorando as fantasias e carros. Estamos no caminho de muita leveza e bastante cor. Não será um carnaval monocromático, como vínhamos fazendo aqui na Viradouro. Vai ser um carnaval com setores marcados pelas cores, justamente por essas diversas fases da Rosa. Vocês podem esperar uma abertura muito diferente e monumental, com bastante arte cinética em praticamente todos os carros”.
Diretor de carnaval da Viradouro, ao lado de Alex Fab, Dudu Falcão fez um balanço do desfile de 2022 e já projetou o ano que vem. “O carnaval de 2022 foi um carnaval atípico, muito cansativo. O nosso objetivo sempre foi o campeonato, mas não temos como negar que o 3° lugar também é uma colocação digna. Nós estamos ajustando o que achamos que dá para melhorar, tentando manter nosso grau de excelência e agora é um outro carnaval, com tempo menor, já revisamos nossos prazos e hoje tivemos uma das missões mais difíceis da nossa gestão. A escola vai sempre pensar no que pode fazer para melhorar, mas é hoje uma das que mais ensaiam, fazemos ensaio de rua que nós podemos considerar quase um ensaio técnico. Agora é ensaiar, ensaiar e ensaiar, é entender que o treino é tão importante quanto o jogo e nós vamos continuar nessa pegada de bastante ensaio”.
Dudu Falcão falou também da missão de fechar o Carnaval 2023 do Grupo Especial na segunda-feira. “Nós sabemos a mensagem que é falar da Rosa, vai ser um carnaval de muita densidade cultural, mas com um visual muito bacana e a responsabilidade de fechar o carnaval, passar uma mensagem correta e deixar as pessoas com saudade para que a gente possa voltar e ser a última a desfilar no sábado das campeãs. A nossa ideia é continuar seguindo o padrão que a Viradouro adotou, em torno de 2500 pessoas, isso já inclui carros alegóricos também. O gigantismo tem que ser em estrutura e impacto e esses 2500 atendem bem a expectativa de espetáculo e de desfile”.
O intérprete Zé Paulo Sierra falou sobre a obra escolhida e o trabalho para o desfile do ano que vem. “A expecatativa já é muito grande para o desfile. Foi uma final muito bonita. Nosso enredo (Rosa Maria Egipcíaca) é muito forte. A palavra dessa obra é emoção”, afirmou.
O presidente Marcelinho Calil também falou do samba campeão. “Não falta emoção, sentimento e alegria. Primeiro, ele tem uma maturidade muito boa para o projeto que a escola vai apresentar na avenida. Escolhemos uma obra que guie a escola e a comunidade para um grande carnaval, mas que respeite o projeto plástico”.
Experiente no comando da bateria, mestre Ciça disse que já pensa em bossas para o desfile, mas que agora é que o trabalho ficará mais claro. Ele ainda elogiou a rainha Erika Januza.
“Minha bateria é tranquila, não tem pressão. Estamos aí nessa disputa duríssima todo ano, cada vez mais difícil, mas estamos aí. Já penso em algumas bossas mais ou menos, mas agora com a escolha do samba vou conseguir elaborar minhas ideias de forma melhor. Temos uma rainha muito presente e dedicada, acredito que isso faz toda diferença no desempenho da bateria nos ensaios e no dia final”.
O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Rute e Julinho, fez um balanço do Carnaval 2022 e projetou o desfile de 2023. “Acredito que sempre temos o que melhorar. Eu sempre peço para nossa ensaiadora me falar os defeitos do meu ensaio, não quero ouvir as qualidades, e sim minhas imperfeições. Por mais que tenhamos ganhado nota máxima no último ano, sempre tem um olhar pra corrigir, ou algo do tipo. Carnaval de 2022 fechou o ciclo no sábado das campeãs. Agora é pensar em 2023 e ensaiar muito para não errar de novo. Eu espero que nossa fantasia faça jus ao nome de Rosa. Se vai ter brilho, luz ou luxo, eu realmente não sei, até porque isso não significa representatividade. Eu quero algo que represente de verdade a história dessa mulher extraordinária. Com o samba escolhido, nós começamos a pensar no desenho coreográfico. De acordo com as bossas e paradinhas, vamos aos poucos construindo nossa coreografia. É um processo bem lento, as vezes uma semana antes mudamos tudo”, disse Rute Alves.
“Eu e Rute estamos há mais de 15 anos dançando juntos, e isso tende a nos colocar numa zona de conforto em relação a nós mesmos. Esse trabalho que a gente faz de querer buscar sempre pelo novo e pelo melhor, faz com que a gente acompanhe esse processo da escola de reinvenção, sem perder a tradição. Esse processo coreográfico antes da escolha do samba, passa por um laboratório com a nossa ensaiadora, visando mais pra frente, após a escolha do samba, ir moldando e inovando na nossa dança”, completou Julinho Nascimento.
Espetáculo na abertura da final
O show da Viradouro foi um dos pontos altos da noite. A aposta na teatralização trouxe algo de novo, a porta-bandeira Rute Alves surgiu no palco dentro de uma grande rosa, ela e o mestre-sala Julinho fizeram alguns passos de valsa, enquanto um pianista tocava na parte de baixo. Uma fênix “sobrevoou” a quadra com a bandeira da escola no bico e entregou a Julinho, foi um momento que arrancou muitos aplausos do público.
A bateria de mestre Ciça fez um grande esquenta e a escola começou a apresentação de seus sambas históricos, com destaque para Zé Paulo Sierra, o intérprete trocou de roupa várias vezes. Um enorme telão na parte traseira do palco apresentava imagens que faziam referências ao que era cantado.
A rainha de bateria, Érika Januza, esteve presente e como de costume, sambou muito a frente dos ritmistas da “Furacão Vermelho e Branco”, quando subiu ao palco, ela disse que estava muito ansiosa para conhecer o novo hino da agremiação.
A noite também marcou a apresentação de Carolina Macharette como nova musa da escola, ela sambou e agradeceu a oportunidade.
Análise das apresentações na final:
Parceria de PC Portugal: a primeira parceira fez uma apresentação carregada na emoção, no esquenta parte do samba foi cantado a capela pela torcida, as três primeiras passagens foram sem a bateria e o samba de sustentou com força, destaque para os refrões. A torcida levou balões, bandeiras e muito papel picado. O início forte se manteve durante toda a apresentação, principalmente quando a Bateria de mestre Ciça realizava bossas. Todos os harmonias cantavam com bastante empolgação o samba, assim como presidente Marcelinho Calil.
Parceria de Claudio Mattos: a segunda parceria da noite teve Wander Pires e Pitty de Menezes no comando do carro de som. No início a apresentação se mostrou muito forte, com os torcedores cantando o samba a capela antes do início, a parceria contou um grande número de torcedores e todos estavam com balões e bandeiras nas cores da escola. Durante a apresentação algumas encenações foram feitas e uma menina representava Rosa Courana. Assim como no primeiro samba da noite, os segmentos e o presidente cantaram a obra com bastante empolgação.
Parceria de Renan Gêmeo: a última parceria da noite contou com Gilsinho e Igor Viana no comando do carro de som, o número de torcedores impressionou pela quantidade e canto, sem dúvidas a apresentação mais aguerrida, o refrão principal era gritado por todos, inclusive componentes da escola, a torcida logo no início cantou o samba a capela, durante a o tempo sem a bateria foi possível perceber um canto muito forte também, principalmente o refrão principal, que caiu no gosto de todos da quadra, um verdadeiro sacode. Assim como nas outras apresentações, os segmentos e Marcelinho Calil cantaram com muita empolgação.