O presidente vampirão. O Jesus negro. O Cristo Redentor caboclo e os macramês que entretecem narrativas. Jack Vasconcelos, Leandro Vieira, Gabriel Haddad e Leonardo Bora, são alguns dos artistas que sintetizam um Brasil profundo, colagem de tantos retalhos de sonhos, credos e desigualdades, capazes de nos encantar e nos despertar reflexões. Ao olhar para a imagem como um suporte de ideias frutos de seu tempo, é inegável não pensar no impacto que esses carnavalescos causam nas estruturas das escolas de samba ao serem alçados ao papel de protagonistas por boa parte da imprensa, críticos de arte e admiradores da folia.

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Arte: Antonio Vieira

O lugar do artista visual carnavalesco na cidade nos remete – sem uma pretensa busca de origens e anos limites – à colonização brasileira por Portugal. Procissões religiosas já eram realizadas ainda no século XVII e, pouco a pouco, essa prática foi sendo difundida e o período carnavalesco passou a ser um importante momento de expressão artística na cidade do Rio de Janeiro. Mais adiante, nas favelas e subúrbios cariocas, uma série de artistas negros usavam de criatividade e improviso para tecerem suas plásticas e colocarem suas escolas de samba “na rua” entre os anos 1930 e 1950, construindo conceitos particulares de arte. A partir da entrada de Pamplona e sua turma nas escolas de samba, esse modelo visual orgânico foi sendo deixado de lado em favorecimento de um fazer visual ligado à escola de belas artes, valorizando artistas com essa formação. Pouco sabemos seus nomes e trajetórias, mas sua contribuição são tão importantes quanto as demais.

Ao que pese o racismo estrutural e o preconceito na sociedade, o lugar social do artista carnavalesco foi se consolidando como fundamental na cenografia brasileira. Certamente, olhar para tais figuras, aqui caricaturadas, nos trazem reflexões infinitas a respeito do lugar que as escolas de samba, hoje, protagonizam na cena das artes visuais do Brasil.

Os carnavalescos carregam, na nomenclatura, uma categoria profissional artística que, há mais de um século, faz parte do cotidiano carioca e nos brinda com beleza.

Os desfiles, além de espetáculos, também nos geram reflexões sobre as possiblidades e os novos caminhos que as escolas de samba enquanto produtora de sentidos artísticos próprios podem seguir.

Vida longa aos provocadores carnavalescos!

* Texto de Vinicius Natal – Historiador e antropólogo

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