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Olha a crítica! São Clemente se reencontra com sua identidade e faz melhor desfile desde 2015

Por Guilherme Ayupp. Fotos: Allan Duffes e Magaiver Fernandes

Na abertura da segunda noite de desfiles do Grupo Especial, o público presente ao Sambódromo pode presenciar o reencontro da São Clemente consigo mesma. A preta e amarela de Botafogo voltou a passar pela avenida com sua reconhecida irreverência, em um desfile extremamente divertido, um chão forte e uma apresentação de enredo que até o desfile da escola foi o melhor visto no Grupo Especial até então. Credenciais que permitem afirmar que foi o melhor desfile da São Clemente desde 2015. Problemas em evolução e alegorias podem fazer a escola sofrer punição. A escola apresentou o enredo ‘E o samba sambou’.

Comissão de Frente

A Comissão de Frente da São Clemente teve a dupla função de apresentar a agremiação à Marquês de Sapucaí e sintetizar o enredo. O elenco personificava um grupo de dirigentes que presidem a Liesa. Carnavalizados, trajando cartolas, coloridos de acordo com os pavilhões das agremiações, renderam uma homenagem à comissão de frente do desfile de 1990. Naquele ano, cartolas carregavam mestres-salas pela avenida, representando o poder de compra e venda do passe dos sambistas por parte dos presidentes.

O elemento cenográfico trazido pela comissão de frente representou a “Sala de Reunião” da Liga, onde os líderes se reúnem para juntos decidirem os rumos do carnaval. Alegoricamente, o elemento era guardado por peças de xadrez, que sintetizavam o controle que os cartolas têm sobre o “tabuleiro” e as regras do jogo carnavalesco. Sobre o elemento os bailarinos encenam as discussões entre dirigentes em torno das decisões que envolvem o futuro das escolas de samba. A apresentação se deu em cima do tripé. Não é um erro passível de punição mas prejudica a visão de parte do público, de frisas e camarotes por exemplo. A apresentação ocorreu sem falhas e carregou a marca irreverente do coreógrafo Junior Scapin.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal fez uma crítica direta a substituição dos bambas das escolas por ídolos estrangeiros. Eles personificaram as estrelas internacionais Michael Jackson e Madonna, figuras emblemáticas da cultura pop mundial. Os guardiões da dupla representavam os paparazis. Giovana desfilou toda sua categoria, que a coloca como uma das mais importantes porta-bandeiras da história do carnaval.

De volta ao Grupo Especial encantou com uma apresentação tradicional ao lado de Fabrício. A indumentária, apesar de retratar dois personagens pops, era bastante tradicionalista com muitos faisões nas cores da escola. No último módulo de julgamento a dupla lutou contra o vento, mas não cometeu falhas passíveis de punição.

Harmonia

Depois de muito criticada por uma harmonia fria em 2018, a São Clemente deu a volta por cima no quesito. A escola passou cantando muito o samba reeditado e repetiu o desempenho do ensaio técnico. Certamente uma das melhores harmonias apresentadas pela escola desde que voltou ao Especial em 2011.

Samba-Enredo

Como era esperado desde o anúncio desta reedição o samba teve um espetacular rendimento na Sapucaí. Foi até o momento o samba de maior comunicação com o público das arquibancadas. Uma grande atuação da dupla de cantores Bruno Ribas e Leozinho Nunes, auxiliados luxuosamente pela cantora Larissa Luz.

Evolução

A escola enfrentou alguns problemas no quesito em sua passagem pela Sapucaí. No quarto módulo de julgamento um buraco foi deixado depois da apresentação do casal de mestre-sala e porta-bandeira. Com relação ao andamento de desfile a escola teve de ficar um período parada pois houve uma dificuldade em retirar o abre-alas da pista. Com isso foi necessário dar uma acelerada ao final da escola.

Enredo

A proposta da São Clemente nasceu baseada em duas premissas. A necessidade identificada pela escola de resgatar sua identidade de enredos críticos e os rumos do carnaval. A escola havia alertado em 1990 e voltou à temática agora. E o que se viu na Sapucaí foi uma verdadeira aula de Jorge Silveira na apresentação do seu enredo. Os setores comunicaram-se entre si com inteira coerência.

O desfile foi aberto com o fato de a Sapucaí ter virado um palco hollywoodiano. Depois trouxe o afastamento do povo da festa, seguindo pela força financeira na mudança de escolas e o poder dos escritórios de samba. No quarto setor a vaidade de rainhas de bateria e destaques foram mostrados. O desfile se encerrou com a lembrança dos antigos carnavais críticos da São Clemente.

Fantasias

Se não eram luxuosas como outras escolas que passaram pela avenida, o conjunto trazido por Jorge Silveira foi o mais interativo de todo o Grupo especial até o desfile da escola acontecer. Engraçados, criativos e com leitura os figurinos se destacaram em todos os setores. A ala 04, ‘Cara Crachá’ ironizou a farra das credenciais na pista.

Na sétima ala ‘Dirigentes Poderosos’ notas de dinheiro para evidenciar o poder financeiro dos comandantes da festa. A oitava ala também trazia uma brincadeira com o preço das fantasias com direito a um comprovante de pagamento de cartão de crédito. No setor que ironizou os escritórios a ala ‘Boi com abóbora’, termo que designa sambas de baixa qualidade, era uma das com melhor leitura. A polêmica ala que ironizaria a Globo e o BBB, ameaçada de não desfilar, passou muito criativa. O desfile se encerrou com a ala ‘Setor Zero’, que trazia personagens que ficaram de fora da festa.

Alegorias

Embora criativas e de fácil leitura as alegorias não estavam muito bem acabadas e destoaram um pouco do conjunto de fantasias. No carro abre-alas, uma destaque incorporada de Marlyn Monroe chamava atenção. A polêmica declaração do cantor sertanejo Cesar Menotti de que carnaval seria coisa de bandido, recebeu a melhor das respostas do carnavalesco Jorge Silveira, na segunda alegoria. Na farra dos camarotes eles estavam representados. A quinta alegoria passou apagada em três dos quatro módulos de julgamento.

Outros Destaques

Um dos momentos de maior emoção foi na passagem da última alegoria, que se propunha a criticar a falta de verbas. Os carnavalescos da Série A vieram no carro. Os guerreiros que colocam um espetáculo na avenida sem condições alguma estavam visivelmente emocionados. A ala de baianas trazia uma crítica à falta de um dos mais tradicionais segmentos do carnaval. Jornalistas de diversos veículos especializados foram convidados para a ala ‘Filhos da Pauta’, que brincava com a imprensa. Foi uma das mais animadas do desfile.

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