Por Antonio Junior. Fotos: Allan Duffes e Magaiver Fernandes
Em um ano de dificuldade e muitos problemas internos, a comunidade do Salgueiro mostrou no desfile deste domingo de carnaval, na Marquês de Sapucaí, toda a força de seu chão. Os componentes da Academia do Samba cantaram com muito empenho o samba-enredo da agremiação, um dos mais bem avaliados do pré-carnaval, e deram a identidade salgueirense ao desfile da Vermelha e Branca. Além do quesito Harmonia e do bom rendimento do samba, o casal Sidclei e Marcela deu um show a parte e ao lado da comissão de frente da Academia também se destacou, mostrando totais condições de alcançar as notas desejadas na avaliação dos julgadores.
Alguns quesitos, porém, não mantiveram o bom desempenho dos citados anteriormente. A evolução da escola no trecho final do desfile foi comprometida com oscilações quanto ao andamento. E, o conjunto visual, especialmente o quesito Alegorias e Adereços pode ser descontado por problemas de acabamento.
Comissão de frente
Comandada por Sérgio Lobato, a comissão de frente salgueirense representou a benção do orixá e levou para a Avenida o sincretismo religioso. Utilizando um gigantesco elemento alegórico, o quesito fez apresentações seguras nas quatro cabines julgadoras. Dividida em três momentos, a coreografia apresentava São Jerônimo em um primeiro momento, abençoando o começo de desfile da agremiação. Na parte traseira do elemento, formava-se a pedreira de Xangô, abrindo os caminhos e interagindo com seis componentes camuflados na estrutura.
Por fim, após as bênçãos das duas entidades religiosas, a comissão caiu no samba, também utilizando a estrutura do elemento alegórico, e contando com a participação do ator e salgueirense, Eri Johnson. A apresentação arrancou muitos aplausos por onde passou, inclusive de jurados dos quesitos. Únicos pontos a serem observados, são: pelo tamanho do elemento alegórico, quem estava no lado oposto ao dos jurados, não acompanhasse a apresentação. Além disso, dois dos componentes da comissão apresentaram problemas no tecido dourado da parte da frente da fantasia – os mesmos acabaram se desprendendo da estrutura da fantasia, ainda que não comprometessem a apresentação da agremiação.
Mestre-sala e Porta-bandeira
Um dos carros-chefes da agremiação, Sidclei e Marcela fizeram apresentações tecnicamente perfeitas nos módulos de julgamento. O casal mostrou que, mesmo com as dificuldades do ano, o afastamento momentâneo e a volta recente à rotina de ensaios após a gravidez da porta-bandeira, está em totais condições de gabaritar o quesito. Com muito sincronismo, o casal fez suas apresentações bem próximos um ao outro e mostraram excelente forma. Destaque para Marcela, que mesmo pegando vento considerável e chuva no começo do desfile, mostrou graciosidade e muita técnica na dança.
Harmonia
Outro ponto alto do Salgueiro no desfile, o canto da comunidade se mostrou valente ao longo de todo o desfile. Todas as alas demonstraram conhecimento do samba e cantaram a obra salgueirense de maneira contínua. Embalados pela dupla Emerson Dias e Quinho, os componentes confirmaram uma das principais características da agremiação: o canto forte.
Se outros quesitos podem ter deixado a desejar quanto ao rendimento, esse certamente não foi assim. Em um ano de dificuldades nos bastidores da Academia do Samba que confirmaram certo comprometimento na execução do desfile, os componentes cumpriram seu papel e mostraram a força do canto do Salgueiro.
Enredo
Desenvolvido por Alex de Souza, o enredo salgueirense conseguiu cumprir bem seu papel e foi apresentado com leitura correta e fácil de assimilar. Destaque para o desenvolvimento do primeiro e do último setor – falando sobre a criação do mundo segundo a tradição africana e sobre o Senhor da Justiça, respectivamente. Estes setores se sobressaíram pela facilidade na leitura, especialmente em fantasias.
Evolução
O calcanhar de Aquiles do desfile salgueirense. A escola iniciou seu desfile com um andamento mais cadenciado, mas viu ao longo de sua apresentação pelos mais de 700 metros da Marquês de Sapucaí que precisava apertar um pouco o passo para completar o desfile no tempo definido por regulamento (75 minutos). Especialmente durante a passagem do quarto setor pelo terceiro módulo de julgamento. A ala coreografada por Carlinhos Salgueiro parou para fazer sua apresentação em frente ao módulo 3 e ala anterior acabou seguindo sua trajetória na Avenida.
Um espaçamento considerável abriu logo na sequência ao módulo 3, pegando seu campo de avaliação visual, e se estendeu até após o recuo de bateria. As tias Baianas comandadas por Tia Glorinha, que sucediam a ala coreografada, também precisaram apertar o passo e não puderam evoluir no local com a mesma elegância e desenvoltura do que fizeram no restante da Avenida. A oscilação no andamento do desfile da Vermelha e Branca também se deu nas alas que compunham o último setor da escola, em frente ao módulo 4 de julgamento, o que pode ocasionar descontos na avaliação do quesito.
Samba-enredo
Rendimento do samba do Salgueiro foi bastante satisfatório na Avenida. Emerson e Quinho mostraram entrosamento na interpretação do samba da agremiação e contribuíram bastante, ao lado do carro de som, para o bom desempenho da obra no desfile. Aliás, vale ressaltar: logo dos primeiros versos do samba da Academia, foi possível comprovar na Sapucaí que o público presente conhecia e muito o samba da escola, o que mais teve a aprovação das arquibancadas até o momento do desfile.
Fantasias
O Salgueiro apresentou oscilação no quesito e encontrou dificuldades na manutenção das vestimentas até o final da Avenida. Com um começo mais “pesado” e volumoso, as indumentárias salgueirenses preenchiam toda a pista nos primeiros setores, especialmente com relação a costeiros e cabeças. A mesma qualidade porém não era vista nas partes inferiores das fantasias, algumas delas apenas com conjunto de malhas coloridas por debaixo dos coletes (como foi possível observar nas alas 5 – Oxê – e 6 – Obá de Oyó – da agremiação). A sétima ala (Cágado) mostrou problemas de acabamento, assim como as de número 16 (O Guerreiro Invencível – São Miguel Arcanjo) e 25 (Lavagem de Dinheiro – que usou muito algodão para a retratação da fantasia, mas apresentou falhas de execução). O trecho final do desfile salgueirense destoou do começo mais luxuoso, até pela proposta mais leve apresentada, mas a execução no restante das alas foi bem feita.
Alegorias
Outro quesito que o desfile salgueirense poderia ter tido rendimento melhor. Com o abre-alas muito bem executado, o segundo carro chamou a atenção pelo colorido e sua imponência. Porém, a alegoria apresentou falhas de acabamento, especialmente no tecido laranja lateral que compunha o animal de destaque na alegoria. Os carros 3 e 4 da escola apresentaram problemas de ordem de iluminação que, se entendidos pelos jurados como problemáticos quanto a interpretação da alegoria, pode acarretar desconto de décimos importantes para a agremiação.
Bateria
Comandada por Guilherme e Gustavo, a Furiosa pode se dizer que jogou para a escola. Apresentando as bossas que o pré-carnaval já conhecia do período de ensaios técnicos na rua e no Sambódromo, os ritmistas representaram Ojuobá, sacerdote do culto a Xangô, apresentando saudação ao orixá. As paradinhas arrancaram aplausos do público na Sapucaí, que também se encantou com a presença de Viviane Araújo, a rainha das rainhas.
A 18ª ala da agremiação é outro ponto que merece destaque no desfile salgueirense. Representando “O Sucessor de Pedro – e os populares”, a ala retratou o líder da Igreja Católica em seu papamóvel cercado de fiéis. O ator Ailton Graça representou o pontífice e foi muito aplaudido durante sua passagem pela Sapucaí.
Em busca de seu décimo título no carnaval, o Salgueiro encerrou deu desfile com 75 minutos – tempo máximo permitido pelo regulamento.