Mais uma escola apostará em uma temática ligada às religiões de matriz africana no carnaval 2026. Trata-se da Imperatriz da Pauliceia, do Grupo de Acesso II do carnaval de São Paulo. No último sábado, a Princesinha da Zona Leste anunciou o enredo “Congá, o altar sagrado da minha fé”, assinado por uma Comissão de Carnaval. Mais do que isso: mostrando eficiência e prazos adiantados, a azul e branca também apresentou os protótipos para a próxima temporada.

Como diversos eventos no carnaval paulistano, o evento na divisa entre os bairros da Vila Nova Savoia e da Vila Talarico começou com um show de pagode para começar a esquentar os presentes. Maralice Lazarini, presidente da agremiação, fez o primeiro discurso e a primeira apresentação: Dom Junior foi oficialmente apresentado como o novo intérprete oficial da escola e já começou a executar sambas para agitar os presentes – entre eles, Peterson Silva e Victoria Cavalcante, Rei e Primeira Princesa da Corte LGBTQIAPN+ do carnaval paulistano.
Com vários pontos em saudação a orixás, segmentos da escola (casal de mestre-sala e porta-bandeira, Ala das Baianas, crianças, passistas e Velha Guarda) também se apresentaram. O ponto de Iansã teve destaque graças à dança de Paula Penteado, nova coreógrafa da comissão de frente da azul e branca – que, logo após sair do terreiro, subiu ao palco e foi apresentada pela mandatária da instituição.
Veio, então, a hora de Dom Junior convocar outros intérpretes amigos para celebrar a conquista do novo cantor do carnaval paulistano. Subiram ao palco, então, pela ordem, Chitão Martins, Tiago Nascimento, Gui Cruz, Rodrigo Xará, Alessandro Tiganá e Thiago Melodiah – das coirmãs Independente, Império de Casa Verde, Mocidade Unida da Mooca, Dom Bosco, Nenê de Vila Matilde e Primeira da Cidade Líder. Vale destacar que, até o carnaval 2025, o microfone principal da Princesinha era do atual comandante do carro de som da Águia Guerreira.
Chegou a hora, então, da Comissão de Carnaval ser apresentada. Três nomes integram o grupo: Fran da Vila é o responsável pelas fantasias, Francis Santos comanda as alegorias e Leandro Santana é o responsável pelo enredo. E foi o último citado quem revelou o título do enredo, sendo aplaudido por todos:
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Ainda houve tempo para que Dom Junior executasse o samba de 2025: “Eu queria que essa fantasia fosse eterna”, para apoteose de toda a quadra:
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Presidente participativa
Ao contrário da dinâmica que normalmente acontece em uma escola de samba, a ideia do enredo veio de uma pessoa bastante próxima da presidente, e não da Comissão de Carnaval da agremiação. A própria Maralice explica: “Na realidade, esse enredo foi a gente quem sugeriu dessa vez. Essa temática era um sonho mais do meu marido. Nós levamos para os carnavalescos e eles adoraram a ideia, compraram a ideia na hora. Com base nisso, desenvolveram tudo. Normalmente, o carnavalesco traz a temática; mas, dessa vez, nós quem levamos. Foi diferente esse ano. Era o que a gente esperava – e, aí, eles melhoraram, é claro. A gente tem uma ideia e o trabalho artístico é deles”, revelou.
Aceitação imediata
Um pedido presidencial dificilmente é recusado, e todos os responsáveis pela Imperatriz da Pauliceia gostaram da sugestão da mandatária da escola. Fran da Vila, inclusive, destacou que fazia coro para que a linha da agremiação tomasse tal rumo: “Na verdade, como já estou há mais tempo na escola, antes de assinar o enredo desse ano, eu já vinha cobrando da presidente Maralice um tema mais forte, um tema afro. Ela falava que ia pensar e, após a apuração de 2025, ela falou que faríamos um tema afro”, resumiu.
Leandro foi além, explicando a importância de tal temática: “Quando a presidente trouxe essa temática, foi uma reação muito positiva. Primeiro, eu acho que sempre que nós, enquanto escolas de samba, exaltamos histórias, sejam elas quais forem, relacionadas à temática afro-brasileira, para mim sempre é uma maneira da gente também estar nessa luta, estar manifestando, estar resistindo. Não tem como a gente falar de escola de samba sem falar das origens e das raízes que construíram essas escolas de samba. Foi, na realidade, uma sugestão muito bem-vinda porque parte também de alguém que entende desse universo e que olha com respeito sobre isso. É sempre muito bom quando vem uma proposta que a gente acha interessante e que a gente consegue enxergar que dá para gente trabalhar junto, em um caminho em comum. Foi maravilhoso”, descreveu.
Mais conciso, Francis focou no resultado e na importância do trio para o desenvolvimento da temporada na Imperatriz da Pauliceia: “A primeira impressão foi a deque nós vamos estar fortes esse ano. Que dê tudo certo! Uma boa sorte para a gente. A Mara já havia pensado bem antes nisso e, agora, nós três vamos fazer a diferença”, destacou.
Mostrando que o pensamento é unânime na agremiação, Percio Junior, o Batata, diretor de carnaval da escola, revelou que até mesmo os enredos além de 2026 já estão sendo geridos: “Na realidade, a gente já tinha um enredo pronto. A gente tem algumas ideias de enredos que vem lá de trás. Quando vai terminando o carnaval, a gente começa a abrir a gaveta e colocar as ideias na mesa. Em relação a esse enredo, o marido da presidente já tinha falado há uns dois anos. Sempre tem um enredo pronto no qual estamos trabalhando, mas já temos algumas ideias para os próximos anos. A gente começa a escolher dentro daquilo que a gente já tinha no decorrer dos anos. A gente estava esperando um momento um pouco melhor, tínhamos outras ideias que a gente achava que era mais adequado em relação aos momentos que a gente estava vivendo. Agora, chegou a hora de a gente começar a abordar esse assunto e ir para a linha mais afro. Essa é a hora certa, colocamos na mesa e começamos a desenvolver”, comentou.
Setores fluidos
Destacando que o fio condutor do desfile não terá grandes diferenciações entre o começo e o final da apresentação, Leandro comentou que o tempo mais exíguo exige soluções criativas: “A gente tem, primeiro, a realidade do Grupo de Acesso II. Narrativamente falando, o desfile desse pelotão é mais enxuto – e o enredo leva isso em consideração. Ele é desenvolvido de uma maneira sem necessariamente ter essa segmentação em partes. A gente pensa o enredo mesmo como um todo, que seja facilmente acessível para quem está na arquibancada assistindo o desfile. A gente não tem essa preocupação em setorizar o desfile. Ele é um grande todo que vai ser perceptível. A própria narrativa dele engloba um grande setor, mesmo. A gente compreende isso entre as alegorias, sobretudo”, comentou.
Vale destacar que, de acordo com o título que foi apresentado de cada uma das fantasias, cada ala terá como nome um orixá – como Iemanjá, Iansã e Logun Edé. Elas, inclusive, foram elogiadas por Fran: “Nossas fantasias são um impacto para o carnaval de São Paulo. Aproveitamos o lançamento do enredo para fazer, também, a apresentação dos nossos protótipos. O Grupo de Acesso é muito forte e muita gente vai ficar surpresa com o nosso trabalho”, afirmou.
Daqui em diante
A agremiação já está a pleno vapor pensando no carnaval de 2026. Prova disso são os números revelados pelo Comissão de Carnaval. Francis revelou que os carros alegóricos começarão a ser produzidos ainda no primeiro semestre do ano: “Em relação às alegorias, já está tudo planejado e, a partir do dia 30 de junho, já vamos começar a mexer nos carros alegóricos”, comemorou.
Fran trouxe números ainda mais positivos em relação às indumentárias: “Já estamos com 70% das fantasias prontas, já. Faltam alguns detalhes. Creio que até final de agosto, começo de setembro, já esteja tudo pronto”, tranquilizou o torcedor.
Por fim, Batata destacou as próximas datas ligadas à agremiação – começando com a canção que será cantada pela Princesinha no Anhembi: “O samba-enredo, a princípio, a gente está pensando em fazer um lançamento pela internet. Não está descartada a ideia de uma festa para poder fazer o lançamento do samba, porém. A gente ainda está ouvindo as obras, temos aí mais ou menos doze sambas concorrentes, a gente ficou muito feliz com esse número. E tem uns sambas que estão dando uma confundida na nossa cabeça, que realmente estão muito dentro da linha que a gente realmente acha ideal para a escola. Pode ser que, na segunda quinzena de agosto a gente já tenha escolhido o samba”, refletiu.
A mente do diretor de carnaval, entretanto, não está apenas no samba-enredo, como ele próprio revela: “A gente, nesse momento, está começando a olhar muito para os ensaios. A gente está mudando todo o nosso planejamento de ensaio: nós vamos mudar a metodologia de ensaio, fazer alguma coisa que se encaixa mais com a nossa comunidade. A gente está muito focado em, a partir de outubro, mandar ver nos ensaios. Eu e toda a diretoria estamos preocupados em fazer esse planejamento dos ensaios. Vai ter a festa das alas no dia 06 de outubro, a gente faz um porco no rolete, é o terceiro ano que a gente faz, com samba e um bailão de carnaval. A gente vai fazer uma coisa um pouquinho diferente, com um bloco, uma roda de samba no gogó com todo mundo em volta, sem nada ligado”, finalizou.