A Liesa divulgou as justificativas para as notas dos jurados do Grupo Especial 2025. O resultado do julgamento mostra porquê os avaliadores não aprovaram o enredo da Mocidade Independente de Padre Miguel que, ao propor uma viagem temporal reflexiva, ao mesmo tempo crítica e esperançosa, ficou em décimo primeiro lugar. Dos quatro avaliadores do quesito Enredo, nenhum deu nota máxima à escola, cuja média, nesse quesito, foi inferior a 9,8. Ao todo, foram perdidos 0,9 pontos. Para entender a avaliação, é preciso saber, em primeiro lugar, que a nota é dividida em duas partes, sendo 5,0 voltados à concepção do enredo, isto é, à idealização do tema do desfile, e 5,0 destinados à materialização visual dessa ideia (realização).
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A jurada Mônica Mansur foi a que deu a menor nota para a verde e branco de Padre Miguel em Enredo. Mônica avaliou a concepção em 4,8 e a realização em 4,9, retirando, portanto, 3 décimos (0,3) da agremiação. Como foi a de menor valor, sua nota foi descartada e não entrou na contabilização final, de acordo com o regulamento da liga.
“Três décimos (-0,3) foram retirados por prejuízos de coerência, conforme prevê o Manual do Julgador. Propondo uma mensagem de esperança para uma juventude que parece estar fadada à autodestruição e aos efeitos da negligência com o planeta, o setor cinco (5) do desfile contraria essa “promessa” inicial em que afirma não haver limites para sonhar (no título do enredo). O que se vê, no referido setor (que encerra o desfile), é um quadro de desesperança, desenvolvido ala a ala. A musa 04 (quatro). “Guardiã das Almas Perdidas”, segundo o que consta no Abre-Alas, é a única que pode conduzir ou reconduzir o “Homo-Deus” à sua condição primordial de “poeira das estrelas”, podendo – assim – ser a portadora das “boas-novas” preconizadas pelo samba, como “O céu vai clarear”. “Deus vai desfilar”, “toda estrela pode renascer”, “a mão que faz a bomba se arrepende”. No entanto, a musa vem anunciando o carro 05 (cinco), “O homem é o lobo do próprio homem”, cuja principal mensagem se concentra na desesperança e, consequentemente, naquilo que – sim – impõe limites ao ato de sonhar, revelando incoerência com o verbo esperançar proposto na justificativa”, justificou Mônica.
Arthur Nunes Gomes deu 9,8 para o enredo da Mocidade, distribuído em 4,9 para concepção e 4,9 para realização. Sobre a concepção, ele explicou que “desconta-se 0,1 pela dificuldade de compreensão do enredo a partir do recorte apresentado para contar a história. A narrativa, embora ancorada em vasto trabalho de pesquisa, apresenta, em seu desenvolvimento, argumentos complexos, baseados em conceitos científicos, filosóficos e artísticos, muitas vezes fazendo uso de metalinguagem, que a tornam um tanto hermética e de difícil entendimento, em especial nos dois primeiros setores”.
Já na realização, para Arthur, “desconta-se 0,1 pela dificuldade de compreensão do enredo a partir da associação entre o argumento proposto e seu desenvolvimento, na Avenida, através de fantasias e outros elementos plástico-visuais. Nas alas 03 (quasares) e 04 (nebulosas cósmicas: berçários das estrelas), os signos escolhidos não permitem apreender, com clareza, o significado das fantasias. Na ala 10 (Fernando, meu querido marciano), que pretendia celebrar Fernando Pinto, icônico carnavalesco da escola, a iconografia apresentada é insuficiente para identificar, em desfile, o artista homenageado, bem como os enredos por ele desenvolvidos, citados na justificativa da fantasia apea no livro Abre-Alas”.
Johny Soares fez como Arthur ao pontuar em 4,9/5 a concepção e 4,9/5 a realização do enredo da Mocidade (total de 9,8). Segundo ele, foi retirado 1 décimo na concepção “devido à dificuldade de compreensão de um enredo de caráter filosófico-científico-tecnológico, sustentado em uma abordagem abstrata (principalmente nos dois primeiros setores) sem um eixo narrativo mais claro. Ao propor reflexões profundas e complexas, o enredo trabalha com conceitos muito amplos, utilizando signos de difícil assimilação em alas e alegorias. Embora a temática contemporânea sobre o futuro da humanidade seja relevante, seu desenvolvimento altamente conceitual prejudica o entendimento, comprometendo sobretudo o encerramento, que parece não dialoga com o início – tão focado em imagens repetitivas: cosmos, astros, nebulosas e estrelas”.
Já na realização, a penalização se deu “pela não tangibilização na avenida da proposta descrita no livro Abre-Alas para o tripé 1 “Dos Jetsons aos Flinstones”. O elemento cênico não foi capaz de transmitir a ideia de que os “Flintstones, na verdade, estariam no futuro após as consequências trágicas provocadas pelos Jetsons”. A composição alegórica tem uma linguagem visual infantil, colorida e alegre – como os desenhos originais homônimos – não expressando ou evocando qualquer tipo de crítica ou algo negativo”.
Por fim, o jurado Marcelo Figueira deu máxima (5,0) para a concepção do enredo da escola, ao passo que retirou dois décimos (4,8) sua realização. A penalização ocorreu “pela dificuldade de compreensão do enredo a partir do desenvolvimento apresentado pelas soluções iconográficas (alegoria/fantasias), por falta de criatividade em alguns momentos do desfile e por alguma dificuldade de carnavalização do tema. O setor 2 (“Dos mistérios do céu à exploração do infinito”) é de difícil compreensão, muito em virtude da dificuldade de carnavalização de seu argumento e pela pouca criatividade para diferenciação das alas 04, 05, 06 e 07. As alas 16, 17 e 18 padecem do mesmo problema relatado para o setor 02. O tripé 2 (“Jogos vorazes do terceiro milênio”) é pouco carnavalizado e carece de criatividade, levando-se em consideração, principalmente, a relação que o argumento faz com a icônica e antológica alegoria de 1993 que representava um menino jogando videogame, marcou uma geração de sambistas e brasileiros”.