A Unidos da Tijuca se apresentou na noite dessa segunda-feira, na Marquês de Sapucaí, com o enredo “Logun-Edé – Santo Menino que Velha Respeita”, sobre o orixá do candomblé. Um dos segmentos mais marcantes de qualquer escola, a ala das baianas representou as matriarcas que alimentam a entidade de acordo com a dieta que potencializa seu equilíbrio energético, na crença sagrada.
O CARNAVALESCO entrevistou algumas componentes da ala pouco antes do começo do desfile, na concentração.
“Eu gosto de cozinhar de tudo, porque eu trabalho em restaurante, em hotel. É todo um apanhado da cozinha brasileira. Comecei como ajudante de cozinheiro. Eu era doméstica e minha patroa me explorava muito, até que vi o anúncio no jornal para o restaurante. Nisso, já estou há 20 anos”, disse Sônia Pereira, de 67 anos, há 5 desfilando pela Tijuca.
“Fui cozinheira muitos anos, hoje em dia eu não sou mais. Sou cozinheira só da minha casa e do meu marido. Cozinhei muitos anos para uma família americana. Muitos anos mesmo. Eles gostavam de comer cozido, feijoada. Eles lá fora não tem nada disso, então, quando eles vêm aqui para o Brasil, eles gostam. Eu sou pernambucana. Eu vim para o Rio de Janeiro com essa família quando tinha 15 anos. Eles praticamente me criaram. Até hoje, essa família me liga para saber como é que eu estou, como é que eu não estou. Eles me ajudaram a comprar meu apartamento aqui na Glória”, compartilhou a atual dona de casa Maria José da Silva, de 64 anos, que desfila como baiana da Tijuca há mais de 30 anos.
As baianas falaram ainda sobre suas experiências de liderança familiar, destacando a particularidade do cuidado e do toque feminino.
“Tenho três filhos e dois netos. Cuido deles no dia a dia, porque eu trabalho, não tenho tempo para ficar em casa, mas, quando estou, é muito carinho. Já estou começando a introduzir eles no samba”, dividiu Sônia.
“Tenho uma filha. Morro por ela. Já está com 22 anos. Uma moça. Deus foi muito generoso comigo porque me deu uma filha muito generosa, que gosta de estudar, corre atrás. Para mim, para o pai dela, é um orgulho muito grande. Ela faz faculdade de biologia, está até fazendo estágio como professora”, enalteceu Cristina Lima, de 60 anos, em seu primeiro carnaval pela Tijuca.
“Eu não tenho filhos, mas eu tenho uma mãe que eu gosto de cuidar dela. Moro eu, ela e mais um irmão. Converso com ela, procuro saber das necessidades dela, saber se ela precisa de algo que eu não esteja vendo para que ela possa ser bem cuidada. A gente acaba se tornando os pais dos nossos pais. É uma retribuição de todo cuidado, carinho e amor que eu recebi desde a infância”, explicou a arquivista Luciane Ferreira, de 50 anos, que estreia não só na Tijuca, como na posição de baiana.
De fato, a entrega e o poder feminino são inegáveis. Para Maria José, trata-se de uma consciência acerca da estreita relação entre o individual e o coletivo.
“Às vezes, as pessoas pensam que é só você que tem que estar bem, mas para você estar bem, os seus amigos também precisam estar bem, seu marido precisa estar bem, sua família precisa estar bem. Isso é muito importante. Eu não sou mãe, mas tem uma sobrinha que eu criei que já tem dois filhos. Vamos dizer que tenho dois netinhos. Eu já não cuido mais dela porque ela já é casada, vive na sua casa, mas de vez em quando precisa da vó, da mãezinha aqui para os netinhos. Os filhos saem de casa, mas não saem. Estão sempre lá junto e isso é muito importante”, finalizou a ex-cozinheira.