O enredo da UPM narra a fundação do terreiro Casa Branca do Engenho Velho, considerado o primeiro terreiro de candomblé Ketú no Brasil. Surgido na primeira metade do século XIX, durante a escravização, ele foi palco de diversas táticas de resistência contra a intolerância religiosa.
Sobre essas táticas de resistência, a ala 9, chamada “Sociedades Secretas” apresentou em suas fantasias adornadas em palhas e tons terrosos, dando a essência de grupos que cobriam os ritos religiosos afro brasileiros com seus mantos de resistência e espiritualidade. Na fantasia, o manto é representado por asas de fé em tons terrosos, cujas sociedades secretas eram guardiãs de negras e negros escravizados, oferecendo-lhes refúgio espiritual, resistência e proteção contra todas as adversidades.
Torcedora da escola e cria da comunidade, Raiane Silva está há mais de dez anos na escola e muito emocionada em estar presente na volta da UPM no Grupo Especial.
“É uma emoção muito grande, porque a gente veio lá do acesso por anos, sempre batendo na trave, e agora estamos desfilando de novo no especial, que é algo muito importante para a gente. A minha ala se chama Sociedade Secreta, que fala de resistência, ajuda mútua entre os negros na época da escravização, tem uma mensagem muito forte e muito importante para nós mesmos e para o nosso conhecimento”, disse a professora de 28 anos, que desfila há 12 pela escola.
Em família, a mãe de Raiana falou da influência religiosa que a fantasia da ala apresenta.
“Desfilo há mais de dez anos e nossa, a emoção é muito grande porque nesses dez anos a gente vem batendo na trave muitas vezes e quando a gente conseguiu subir, foi uma emoção muito grande, muito grande mesmo. Ainda mais com essa fantasia grandona, representando toda emoção e grandiosidade da UPM. Com esse enredo perfeito que fala da nossa ancestralidade, a gente que é do candomblé vemos que a escola vem falando da nossa história mesmo. Vila Vintém é terra de macumbeiro”, disse Flávia dos Santos, costureira de 49 anos.
Vindo no terceiro setor, chamado “Candomblé da Barroquinha”, a ala simbolizou homens e mulheres pertencentes a sociedades secretas, que além de ajudar Iyá Nassô na perseverança do candomblé, moldaram a história religiosa e política baiana da época.
“Tudo isso aqui é muito especial e muito importante, porque após muitos anos que a UPM vem tentando, finalmente consegue adquirir o lugar no especial, o lugar merecido. E estou muito ansioso, porque ela promete muito, ela se empenhou muito para estar no lugar onde ela está. E eu acho que ela vai entregar um belo desfile. Ainda mais com essa fantasia incrível. Perfeita em todos os detalhes, somos a Sociedade Secreta. É a ala dos Refugiados, que fugiram das revoltas, que fugiram da monarquia inglesa, se encaixando muito bem no enredo, que é bem interessante, traz uma proposta bem diferente, e é pura macumba, puro suco de macumba, então vem muita coisa boa”, declarou o promotor de vendas Gabriel Alves, de 20 anos, morador de Bangu que estreou na UPM.
A ala “Sociedade Secreta” não apenas encantou pela riqueza dos detalhes em suas fantasias, mas também trouxe à avenida a força da resistência e da ancestralidade. O enredo da UPM resgata a história de luta do candomblé, reforçando sua importância cultural e espiritual. A volta ao Grupo Especial marcou não só um triunfo da escola, mas também a celebração da tradição afro-brasileira