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Conjunto visual criativo e comissão de frente expressiva marcam desfile dos Acadêmicos do Tucuruvi

Escola da Cantareira apresentou enredo sobre a importância cultural do manto tupinambá, vestimenta ritualística do povo originário das terras brasileiras

Os Acadêmicos do Tucuruvi desfilaram neste sábado pelo Grupo Especial de São Paulo no carnaval de 2025. Com uma coreografia expressiva, a comissão de frente se aliou às alegorias e fantasias criativas e de fácil leitura da escola para formar uma grande apresentação visual no desfile encerrado após 63 minutos. A comunidade da Cantareira foi a quinta a se apresentar com o enredo “Assojaba – A busca pelo manto”, assinado pelos carnavalescos Dione Leite e Nícolas Gonçalves.

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Comissão de Frente

Coreografada por Renan Banov, a comissão de frente do Tucuruvi foi intitulada “Manto Sagrado” e se apresentou ao longo de três passagens do samba. A coreografia centrou na temática da abertura do desfile, se aproveitando da ambientação astral para representar a relação do manto com o povo tupinambá e os seres astrais de suas crenças. Se destacou na dança dos integrantes a caracterização dos componentes, com maquiagens realistas nos atores que representavam animais e no protagonista, o Manto Tupinambá personificado, cuja caracterização fez referência direta à ave guará, da qual as penas eram usadas para confeccionar a vestimenta. O uso do elemento alegórico foi interessante, no momento em que os tupinambás subiam na estrutura que representou a confecção do manto. No chão, a interação do protagonista com os seres astrais foi bela, mas o momento solo do manto, em que ele sente as dores de seu povo, foi a parte mais impactante de toda a coreografia. Uma maneira positiva de abrir as apresentações da escola.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal do Tucuruvi, formado por Luan Caliel e Beatriz Teixeira, se apresentou representando “Filtros dos Sonhos”. A dupla esteve em grande noite, performando na Avenida todos os elementos obrigatórios do quesito com elegância e sincronia. Luan conduz Beatriz com genialidade, fazendo da apresentação do quesito um espetáculo à parte no desfile. A coreografia dentro do desfile foi outro fator positivo da apresentação do casal.

Enredo

O enredo do Tucuruvi contou na Avenida a história do Manto Tupinambá, vestimenta ritualística deste povo originário cujas peças remanescentes estavam espalhadas por museus do mundo todo e havia uma demanda de anos pelo seu retorno. Alguns meses após a escolha do enredo, um museu da Dinamarca concedeu ao Museu Nacional, no Rio de Janeiro, para seu novo acervo. Mas mais que o retorno físico, a “Busca pelo Manto” proposta pela escola envolve o reconhecimento da existência dos tupinambás em território brasileiro muito antes da chegada dos colonizadores. É um resgate do orgulho desse povo, que através do manto pode provar e propagar em uma escala maior suas histórias e cultura.

Na Avenida, o desfile trouxe uma versão personificada do manto contando sua história a partir da cosmologia tupinambá. Através de seus sonhos, a vestimenta apresenta os seres astrais, que não tem uma definição física pelos originários, mas que a escola procurou dar um significado visual atrelado a elementos da natureza. O manto contou sobre seu processo de confecção, com matérias-primas exóticas e falou sobre os rituais nos quais esteve envolvido. A parte final do desfile mostra o “pesadelo” do manto, que cobiçado pelos europeus como um artigo de luxo para presentear nobres, foi levado de sua terra à custa do sangue de seus criadores. Por fim, o manto tupinambá clama pelo seu retorno, e em meio a realização de seu sonho, outros objetos espalhados pelo mundo partem nessa jornada para voltar ao Brasil.

A ambientação gerada pela divisão dos setores do desfile permitiu uma imersão que favoreceu a leitura do conjunto visual dentro da proposta da letra do samba. Mesmo com uma complexidade acima da média, o enredo foi bem claro na Avenida principalmente na interpretação das fantasias, fazendo do quesito mais um elemento positivo para a escola.

Alegorias

O Tucuruvi apresentou um conjunto alegórico formado por quatro carros e dois tripés. O primeiro elemento, um Pede-Passagem, foi chamado de “Portal dos Sonhos”, que conduziu a narrativa para mundo de sonhos em que o Manto Tupinambá personificado conta a sua história. O Abre-alas, chamado “O Sonho do Manto”, apresentou a cosmologia tupinambá, com seres astrais caracterizados como animais da floresta em uma estética inspirada em constelações. O segundo tripé, em meio a uma ala de ação justificada chamada “O Trançado Jereré”, é uma canoa que simbolizou o fato das redes de pesca e o manto partirem de um mesmo princípio de confecção.

A segunda alegoria, de nome “A Feitura do Manto”, representou a sabedoria envolvida no processo de confecção do manto tupinambá, com sua matéria-prima e significado ritualístico. O terceiro carro foi batizado de “Ritual de Ibiparema” e retratou o conflito entre o povo tupinambá e os colonizadores, que cobiçavam o manto para expô-lo em museus na Europa. O desfile foi encerrado com o carro “O Manto”, exaltando o papel da vestimenta como um ancestral vivo, prova material da existência dos tupinambás em terras brasileiras antes da chegada dos europeus, também exaltando outros objetos de povos originários que estão espalhados por museus do mundo todo.

As alegorias do Tucuruvi tiveram uma boa variedade de elementos distintos. O Abre-alas, com esculturas trançadas em fios finos e muitos componentes coreografando de forma ativa, abrilhantaram a apresentação trazendo um estilo de arte inovador, além de uma performance especial na parte da frente, onde uma destaque de chão em dados momentos era caracterizada como uma ave e erguida do chão. O segundo carro trouxe um estilo interessante de visualização em duas metades, sendo uma virada para frente e outra para trás. O terceiro carro contou com caracterizações marcantes em suas esculturas e na bandeira do Brasil, onde se lia “Pindorama” em meio a manchas de sangue. O último carro, que contou com a participação de tupinambás convidados, teve também componentes caracterizados como o manto que ora viravam para o público mostrando mensagens. O conjunto conseguiu cumprir seu papel dentro da narrativa e enriqueceu a marcante parte visual da escola.

Fantasias

As fantasias do Tucuruvi tiveram papel de fio-condutor entre as narrativas das alegorias atreladas à narrativa do samba. Da cosmologia tupinambá, passando pela matéria-prima do manto e seu processo de confecção. Os rituais atrelados ao manto, a usurpação dos europeus e a luta pelo resgate do legado também estiveram presentes na narrativa das alas. O conjunto conseguiu com maestria transmitir a mensagem do enredo e se destacou pela distinção de elementos utilizados e riqueza dentro de algumas alas.

Harmonia

O canto da comunidade da Cantareira se fez presente na Avenida. O bom samba da escola favoreceu o desenvolvimento do coral do Tucuruvi, que se fez notar por toda a Avenida entre as alas que se apresentaram. Destaque especial para a ala “Colete de Penas”, que contou com desfilantes especialmente animados.

Samba-enredo

A obra que conduziu o desfile do Tucuruvi é assinada por Macaco Branco, Prof. Carlos Bebeto, Djalma Santos, Chiquinho Gomes, Dr. Marcelo, Denis Moraes e Marcelo Faria, e na Avenida o samba foi defendido pelo intérprete Hudson Luiz. A letra do samba é de uma criatividade rara, com uma proposta original para o refrão do meio, onde é narrado o processo de confecção do manto tupinambá. A proposta de personificar a vestimenta contribui para que o ouvinte sinta especialmente a empatia com as provações que os povos originários enfrentam do período colonial até os tempos atuais. É um samba de alto nível, digno de ser exemplo para outras agremiações no futuro, que conseguiu narrar o enredo muito bem em conjunto com a parte visual do Tucuruvi sem sacrificar a poesia que a proposta demandou. A condução da obra pela ala musical comandada por Hudson Luiz foi outro fator positivo, com mais uma vez o intérprete tendo um desempenho que o consolida como um dos melhores de São Paulo na atualidade.

Evolução

A evolução do Tucuruvi foi bem correta por toda a Avenida. A fluidez do cortejo esteve constante e o recuo da bateria foi bem-executado. Um princípio de abertura excessiva de espaço à frente do terceiro carro foi observado diante da arquibancada Monumental, mas a direção conseguiu sanar antes que a alegoria pudesse chegar ao segundo módulo. O fechar dos portões após 63 minutos de desfile reforça o bom uso do tempo e desempenho técnico positivo da escola.

Outros destaques

A “Bateria do Zaca” comandada por mestre Serginho teve um bom desempenho no desfile da escola, aplicando bossas criativas dentro da proposta do enredo sobre um povo originário. A rainha Carla Prata, vestida com uma fantasia representando “A Energia do Ritual”, levantou o público com muito samba no pé.

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