A Porto da Pedra foi a quinta escola a desfilar no segundo dia da Série Ouro. Vinda do Grupo Especial, a vermelho e branco de São Gonçalo fez uma apresentação segura e destacou-se pela evolução, que, antes problemática, desta vez ocorreu de forma fluida e coesa. Os componentes passaram com leveza pela avenida, garantindo um dos pontos altos do desfile.
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A escola levou para a Sapucaí o enredo “A História Que a Borracha do Tempo Não Apagou”, desenvolvido pelo carnavalesco Mauro Quintaes. O tema abordou a história da Fordlândia sob a ótica dos Munduruku, povo indígena da Amazônia, e apresentou uma narrativa bem construída, com uma crítica social pertinente.
No quesito musical, a Porto da Pedra brilhou, impulsionada pela performance marcante de Wantuir no carro de som e pelo talento de mestre Pablo, que desfilou fantasiado de curupira. No entanto, a escola enfrentou problemas estéticos em seu conjunto de fantasias, com pequenas falhas de acabamento em algumas alas e alegorias. A apresentação foi concluída em 53 minutos.
Comissão de Frente
Coreografada por Junior Scapin, a comissão de frente da Porto da Pedra apostou na grandiosidade para impactar o público. A encenação retratou o Ritual de Fogo, em que o grande pajé Munduruku evoca os espíritos sagrados.
Os bailarinos usaram fantasias simples, porém impactantes: predominantemente pretas, com capas vermelhas que simulavam chamas. A apresentação também contou com um grande elemento cênico representando a floresta ameaçada pela “criatura de metal”. A iluminação da Sapucaí foi utilizada estrategicamente no momento em que os componentes subiam no tripé, criando um efeito dramático. A proposta foi bem desenvolvida, mas deixou a sensação de que faltou um grande ápice.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Rodrigo França e Pietra Brum, representou os espíritos primordiais da criação do mundo Munduruku. A apresentação marcou a estreia de Pietra na Sapucaí, aos apenas 16 anos.
Apesar do desafio, ela soube driblar o nervosismo, contando com o apoio fundamental de Rodrigo. Juntos, entregaram uma performance delicada e repleta de cumplicidade. Os movimentos do mestre-sala foram precisos e contribuíram para elevar a apresentação, garantindo um bom início para a nova dupla.
Enredo
O enredo da Unidos do Porto da Pedra abordou Fordlândia, o fracassado projeto de Henry Ford na Amazônia, que prometia progresso, mas trouxe exploração e destruição. A escola contou essa história sob a perspectiva dos Munduruku, povo indígena da região, mostrando a resistência da floresta e de seus habitantes contra invasões e cobiça. Com um tom de denúncia e valorização cultural, a narrativa destacou a luta contra a exploração e reforçou a importância da preservação da Amazônia.
O desenvolvimento ficou a cargo de Mauro Quintaes e Diego Araújo e foi um dos pontos altos do desfile, sendo muito bem contato e pertinente ao momento que vivemos. A crítica se fez presente do início e foi bem amarrada dentro da narrativa proposta.
Alegorias e Adereços
A Porto da Pedra apresentou um conjunto alegórico criativo, mas com algumas irregularidades e pequenas falhas de acabamento. No total, foram três carros alegóricos, além do elemento cênico da comissão de frente.
O abre-alas, Distopia Fordista, trouxe o tigre, símbolo da escola, e apresentou um bom acabamento. Predominantemente cinza, a alegoria contou com encenações dos componentes, reforçando a narrativa. O segundo carro, A Floresta da Borracha, chamou atenção pelo movimento e pelas cores vibrantes, mas revelou falhas de acabamento na parte superior. O mesmo problema foi observado no último carro, A Grande Retomada, que, apesar da proposta interessante e do uso criativo dos materiais, teve falhas na junção de algumas peças.
Fantasias
O conjunto de fantasias da Porto da Pedra contou com dezesseis alas e apresentou irregularidades, alternando momentos de grande impacto com outros menos inspirados.
A escola começou com um visual volumoso e imponente, marcado por cores fortes. Um dos destaques foi a ala das baianas, “As Mães Espirituais”, que desfilou com um figurino diferenciado, porém muito bem resolvido. Outras alas que chamaram atenção foram a ala quatro, “Cobiça de Outro Norte”, a ala seis, “Sabiás: Caboclos dos Beiradões”, e a ala quinze, “Tributo aos Povos Indígenas dos Tapajós”.
Por outro lado, algumas fantasias passaram de forma simplista, com materiais pouco criativos. O maior exemplo disso foi a ala dezesseis, “Luz Eterna de Karusakaibê”, que acabou se destacando negativamente.
Harmonia
O desempenho musical da escola foi extremamente positivo, com a parceria entre o intérprete Wantuir e mestre Pablo se destacando de forma nítida. Outro ponto alto foi o excelente trabalho de cordas do carro de som, bem alinhado à proposta do samba.
Os ritmistas da bateria “Ritmo Feroz” realizaram várias paradinhas que empolgaram tanto a comunidade quanto as arquibancadas. Embora o canto não tenha sido explosivo ou intenso, os componentes mantiveram o samba na ponta da língua durante todo o desfile, com especial ênfase no pré-refrão.
Samba-Enredo
O samba de Guga Martins, Gustavo Clarão, Passos Junior, Cristiano Teles, Cadu Cardoso, Wendel Uchoa, Abílio Junior, Tangerina, Marcelo Moraes, Marquinho Paloma, Ailson Picanço e Leandro Gaúcho passou bem pela Sapucaí. O canto da comunidade, apesar de não foi explosivo, foi satisfatório. A obra se encaixa perfeitamente ao enredo, muito por seu tom combativo. O “tigre de guerra” presente no samba se encaixa perfeitamente tanto na resistência dos Munduruku quanto na identidade da Porto da Pedra. Vale destacar o verso “borracha nenhuma pode apagar a nossa história” e no refrão principal, onde a escola mostrava mais empolgação.
Evolução
O quesito evolução foi o grande destaque da Porto da Pedra. Se no último carnaval esse aspecto representou um ponto frágil, desta vez a vermelho e branco desfilou de forma exemplar, mostrando um notável crescimento. Desde a abertura até o encerramento, a escola manteve um andamento seguro, sem apresentar correria ou espaçamentos entre as alas.
Os carros alegóricos entraram na avenida sem dificuldades, e os componentes passaram com fluidez, garantindo um desfile compacto e coeso. A organização e o entrosamento da comunidade foram evidentes, contribuindo para uma apresentação harmoniosa. Em nenhum momento houve sinais de desorganização ou risco de estouro no tempo, e a escola concluiu seu desfile com tranquilidade, fechando sua passagem na Sapucaí de maneira sólida e consistente.
Outros Destaques
O desfile também foi marcado por momentos especiais, o principal deles foi a caracterização de mestre Pablo em curupira, ele já está marcado por essas transformações e mais uma vez conseguiu surpreender. A rainha Andrea Andrade reinou à frente da bateria “Ritmo Feroz” pela primeira de forma majestosa, com muito carisma e uma indumentária caprichada.