Neste domingo, a Unidos de Bangu entrou na Sapucaí com o enredo “Maraka’ Anandê – Resistência Ancestral”, homenageando a Aldeia Marakanã, uma comunidade indígena carioca localizada ao lado do Estádio do Maracanã. O local se tornou um símbolo de resistência indígena, por estar constantemente no centro de conflitos territoriais com o Estado. A escola representou a luta dos povos indígenas ao longo da história por meio de suas alas.
A ala das baianas destacou o papel das missões jesuítas durante a colonização do Rio de Janeiro, com enfoque no processo de catequização e integração dos povos indígenas ao sistema colonial português. “Apesar de ter sido um período complicado da nossa história, onde uma cultura foi imposta a um povo sob muita violência, traremos isso para a avenida com leveza e entusiasmo, para apresentar a história a novas pessoas através de nossas baianas, que vêm representando os 20 jesuítas da Aldeia do Marakanã”, afirma a diretora da ala, Tereza Cristina.
“O período histórico representado na nossa ala é bem triste. Imagine chegar a um país como escravizado, ou ter suas terras invadidas por colonizadores e ser obrigado a deixar seus costumes de lado para assumir uma religião desconhecida? Muita coisa foi apagada nesse processo. Os negros escravizados tiveram que disfarçar o culto aos seus Orixás, e os indígenas, o culto ao que é sagrado para eles, como o sol, a lua e o Pajé. Mas hoje estamos aqui para provar que a nossa cultura resiste, mesmo com o apagamento histórico”, explica a baiana Kátia Braga, de 61 anos, moradora de Acari.
A baiana Heleni Pires, de 35 anos, ressalta a importância de relembrar o período da catequização dos indígenas no Carnaval, destacando a visibilidade que a festa popular proporciona.
“É uma forma de resgatar o que o povo brasileiro já viveu e não nos deixar esquecer as nossas origens, principalmente no que se trata da religiosidade da nação. Iremos mostrar a força indígena com garra e beleza, trazendo na nossa vestimenta o brilho do poder do nosso povo”.
A estética é fundamental para contar uma história, e, por isso, as fantasias das baianas trouxeram símbolos que representam a catequização e a presença jesuíta em terras brasileiras, sendo a Cruz de Malta o principal deles, simbolizando tanto a Igreja quanto os portugueses. Para Kátia, essa cruz se associa ao protagonista do enredo, a comunidade do Marakanã, pois, nos dias atuais, representa “a cruz carregada por um povo que ainda precisa resistir às opressões impostas diariamente”.